São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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RIO DE JANEIRO

Grupo do governador avalia que dificilmente conseguirá destituir Brizola do controle do PDT, então, o caminho deve ser o de procurar outro partido, o PSB, até o final do ano
Garotinho aposta tudo contra Brizola

MARCELO BERABA
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA SUCURSAL DO RIO

O governador do Rio, Anthony Garotinho, e seu grupo político já definiram o cronograma e a estratégia para enfrentar o ex-governador Leonel Brizola pelo controle do PDT. Eles concluíram que têm mais de um terço do Diretório Nacional, número suficiente para convocar em novembro uma reunião extraordinária do próprio diretório.
Embora considere difícil vencer Brizola nos fóruns deliberativos do PDT, Garotinho pretende apresentar uma chapa própria para disputar a direção nacional do partido e substituir a liderança de Brizola. Com essa estratégia, ele pretende deixar claro que esgotou todos os recursos para permanecer no partido.
Como seu próprio grupo avalia que dificilmente conseguirá destituir Brizola, o caminho será o de procurar outro partido, o PSB, até o final do ano.
O PDT tem hoje 22 deputados federais, 77 deputados estaduais e 285 prefeitos. Os correligionários do governador do Rio calculam que poderão levar 17 deputados federais, 40 estaduais e cerca de cem prefeitos. É um número provavelmente inflacionado.
Embora tenha publicamente retirado a sua candidatura à Presidência da República em 2002 e reafirmado sua intenção de disputar a reeleição para o governo do Estado, Garotinho continua a fazer contas e articulações para um projeto nacional. O PDT ganhou no primeiro turno em duas capitais. Nas contas do grupo de Garotinho, a vitória do PDT em São Luís (MA), com Jackson Lago, está na conta de Brizola.
Mas faz parte do seu esquema o outro prefeito já eleito, o de Porto Velho (RO), Carlos Alberto Camurça. Garotinho esteve na cidade durante a campanha e mobilizou o setor evangélico a favor de Camurça. Ainda em Roraima, ele ajudou a eleger o prefeito do segundo município do Estado, Ji-Paraná.
O primeiro passo na estratégia do grupo do governador é a convocação extraordinária do Diretório Nacional. Sua composição mostra como o PDT virou um partido basicamente fluminense e gaúcho. De 158 membros, 72 representam o Estado do Rio e 25 o Rio Grande do Sul. Estados com grandes colégios eleitorais como São Paulo e Minas têm apenas cinco representantes cada um no diretório.
Caso seu projeto de permanência no PDT fracasse, Garotinho terá dificuldades para viabilizar uma operação de desembarque no PSB -a opção escolhida e já comunicada a aliados e assessores mais próximos.
O PSB já faz parte do governo do pedetista. Entre os cargos ocupados, estão as secretarias do Trabalho e de Saneamento.
Entretanto, até agora não houve conversa formal com lideranças do PSB, apenas sondagens. "É aquela estória do Garrincha com o lateral russo. Falta combinar com o adversário", afirmou o vice-presidente nacional do partido, Roberto Amaral.
A Folha apurou que o presidente nacional do PSB, o ex-governador Miguel Arraes, é uma das lideranças que desaprova o ingresso do governador do Rio. Um dos motivos é que Arraes não concorda com a forma como Garotinho vem se comportando com Brizola na disputa pelo controle do PDT.
O processo eleitoral no Estado do Rio também provocou descontentamento com a participação de Garotinho na campanha de pedetistas que disputavam prefeituras com políticos do PSB. Há queixas de que o governador "jogou pesado".
A resistência interna à presença de Garotinho no PSB é um complicador importante para o governador do Rio, que optou pelo PSB até por uma questão de exclusão. O ingresso em outros partidos de esquerda ou centro-esquerda seria mais complicado. O PPS, por exemplo, já tem um presidenciável, Ciro Gomes.
O quadro eleitoral em 2002 também pode ser um obstáculo à entrada no PSB. Há um grupo dentro do partido que gostaria que a legenda apoiasse uma candidatura à Presidência do governador de Minas Gerais, Itamar Franco.
"Ninguém vai entrar no partido com um projeto político já definido", afirma o ex-ministro e ex-prefeito carioca Jamil Haddad, presidente de honra do PSB. "Ele não pode vir com a pretensão de se candidatar à Presidência."
Qualquer decisão não será decidida regionalmente. A Executiva Nacional já informou a Executiva Regional que ela dará a palavra final. "O PSB é um partido que não tem donos e não tem caudilhos. É preciso se submeter a certas normas partidárias", disse Haddad.


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