São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Efeito Ciro infla PPS e PTB; PL cresce para 22 deputados

Trocas de legenda reduzem as bancadas do PSDB e PFL

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A um ano da eleição, congressistas e governadores atropelam o debate sobre fidelidade partidária, instalam-se em legendas mais confortáveis para seus interesses eleitorais e aproveitam os últimos dias do troca-troca partidário.
Nos últimos dez dias, 15 deputados e quatro senadores oficializaram a troca de partido. O número é de ontem à noite, mas vai aumentar: o prazo para os futuros candidatos mudarem de partido termina no próximo sábado. Desde o início da legislatura, em 1999, até ontem, 156 deputados haviam mudado de partido (30% do total). Entre a véspera e o dia da posse, 20 eleitos trocaram de legenda.
No Senado, o vencedor da corrida é o PTB, que começou a legislatura apenas com Arlindo Porto (MG) e agora tem cinco senadores. Na Câmara, o campeão é o PPS: elegeu três deputados e ontem à noite somava 13.
O efeito Ciro Gomes, candidato do PPS à Presidência, empurrou a legenda. Ao se colocar como uma terceira via eleitoral, o PPS abriu seu projeto eleitoral para o PTB.
Assim, da mesma forma que no Senado, os petebistas apresentaram um crescimento acentuado na Câmara neste ano. Somavam apenas 23 deputados em janeiro e ontem à noite tinham 31. "Além do fator Ciro, crescemos porque não há atritos e temos a clara marca de um partido de centro", disse Luiz Antônio Fleury Filho.
Outro bom desempenho na Câmara foi o do PL. Em 1998, o partido mandou para Brasília 12 deputados. Ontem à noite, tinha 22 -um crescimento de 83%. Nos bastidores, diz-se que o PL é hoje o principal partido para viabilizar o projeto político dos evangélicos.
Figura conhecida nos tapetes verdes da Câmara, o deputado Bispo Rodrigues (RJ) trabalha como líder informal do PL -formalmente a liderança cabe a Valdemar Costa Neto (SP).
Rodrigues passou os últimos dias articulando para aumentar a bancada. Dentro e fora do PL, Rodrigues, da Igreja Universal do Reino de Deus, é o principal porta-voz da bancada evangélica na Câmara, que soma 51 deputados.
"Deixa eu correr para ver se consigo mais um", disse Rodrigues ontem à Folha, apressado.
Nesta reta final, a tendência é que os grandes partidos percam quadros para os pequenos. Trata-se de uma conveniência eleitoral, pois a disputa interna em legendas menores facilita a eleição com menos votos e abre palanques para as disputas majoritárias.
À custa de uma baixa no PSDB, o PV voltou a brilhar no painel eletrônico da Câmara, com a migração do ex-tucano Clovis Volpi, que chegou a Brasília como suplente e quer um outro mandato.
Entre os três maiores partidos na Câmara, o único que apresenta um número de deputados superior ao que elegeu é o PMDB (elegeu 83, ontem tinha 93). PSDB e PFL perderam, respectivamente, sete e dez representantes na Casa.
Mas há reveses peemedebistas pontuais, como na Paraíba, onde o partido elegeu cinco deputados e perdeu quatro para os tucanos.
No Senado, dos três representantes peemedebistas, o estado ficou com apenas um -Ney Suassuna- e perdeu Ronaldo Cunha Lima para os tucanos e Wellington Roberto para o PTB.
Caminho inverso seguiu o senador Sérgio Machado, que trocou o ninho tucano pelo PMDB para conseguir subir no palanque e disputar o governo do Ceará.
O senador José Alencar trocou o PMDB pelo PL, que sonha emplacar com o mineiro a candidatura a vice na chapa de Lula (PT).
Na semana passada, na reunião de líderes de partido que discutiu a possibilidade de votar na Câmara a reforma política aprovada no Senado, representantes do PDT, PPS e PTB discordaram. A discussão sobre fidelidade partidária ficou para outra oportunidade.



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