São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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RETA FINAL

Candidato do PSB arma "pegadinha" e recebe resposta errada de petista; tucano o acusa de estar no "Casseta & Planeta"

Contra todos, Garotinho dilui duelo Serra-Lula

DO COLUNISTA DA FOLHA

Anthony Garotinho (PSB) intrometeu-se com vigor e muita soltura em um debate (o da Rede Globo) que, supostamente, marcaria a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB), um empenhado em ganhar já no primeiro turno, e, o outro, em evitar essa hipótese para poder enfrentar o candidato petista no turno final.
Garotinho foi uma metralhadora giratória com disparos principalmente contra Serra e contra o governo federal, mas não deixou de alvejar também Lula.
Bateu primeiro no estilo "Lulinha paz e amor", ao reclamar que o petista não respondia pergunta alguma, usando como gancho o fato de Lula ter-se negado a dar uma resposta direta sobre ser ou não a favor da transposição das águas do rio São Francisco.
Foi o único momento em que Lula mostrou-se mais arrogante: lembrou o seu primeiro lugar para afirmar que, por isso, precisava ser "mais responsável" nas respostas do que "certos candidatos".

Pegada
Depois, Garotinho armou uma "pegadinha" (na definição de Ciro Gomes) para o líder nas pesquisas: perguntou se Lula manteria a CIDE (Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico).
Lula caiu na pegada. Respondeu como se CIDE fosse um órgão público, quando, conforme Garotinho explicou depois, é uma contribuição introduzida pelo governo federal em janeiro e que cobra R$ 0,28 sobre cada litro de gasolina e R$ 0,07 no diesel.
Lula não passou recibo sobre seu equívoco, preferindo dizer, na réplica, que não é com um pequeno imposto sobre a gasolina que se vai resolver o problema das estradas.
Mas Garotinho não perdoou, na tréplica. Disse que muita gente não sabe que a contribuição está sendo cobrada. "Nem o Lula sabia", ironizou.
O candidato do PT voltou a tentar desempenhar um papel olímpico, alheio às provocações dos adversários e empenhado em citar uma penca de números para mostrar preparo para governar -uma resposta indireta às frequentes críticas sobre sua qualificação para presidir o país.
Exemplo: na pergunta a Serra sobre a crise energética, o candidato do PT lembrou que o investimento em energia, em 92/93, fora de entre R$ 12 bilhões e R$ 13 bilhões, ao passo que, em 1994, quando FHC já assumira o Ministério da Fazenda, caíra para R$ 4,7 bilhões.
Números assim, com uma ou duas casas depois da vírgula, surgiram em vários momentos das respostas ou perguntas de Lula.
O esforço de tentar colocar-se acima dos demais levou o petista até a elogiar o programa de combate à Aids que é a principal bandeira de seu adversário José Serra como ministro da Saúde.
Serra, por sua vez, sem possibilidades de intervir a todo momento para defender o governo, preferiu refugiar-se na demonstração de certeza de que estará no segundo turno com Lula.
Chegou a brincar com o petista, ao lamentar que Lula não lhe fizesse perguntas sobre saúde, dizendo de sua esperança de que, no debate do segundo turno, o tema lhe fosse apresentado por Lula. Depois, no debate com Lula sobre a crise energética, avançou: "É provável que nós dois vamos para o segundo turno".
Como o candidato do PT não exerceu jamais um cargo público executivo, Serra não podia questionar atos de Lula. Usou, então, a Prefeitura de São Paulo, em tese a grande vitrine (ou vidraça) do PT para críticas sobre a tarifa de ônibus.
A idéia do tucano era demonstrar que uma coisa é o que se diz nos programas eleitorais pela TV e, outra, a que se faz quando se assume o governo -tema que já havia frequentado o horário eleitoral de Serra.
Já Ciro Gomes buscou, uma vez mais, desmontar a imagem de truculento e irascível, que ele atribui ao que chamou de "difamação" promovida pela campanha de José Serra.

Elogio
O candidato da Frente Trabalhista fez questão de, em dois momentos, elogiar Serra. Primeiro, também pela campanha contra a Aids e, depois, por ter comparecido à cerimônia nas Nações Unidas em que Ciro, em nome do governo do Ceará, recebeu prêmio internacional pela redução da mortalidade infantil no Estado que então governava.
Como é óbvio, tanto Ciro como Garotinho usaram o bloco final para tentar desmentir que a eleição já esteja resolvida, limitando-se a dúvida a se haverá ou não segundo turno entre Lula e Serra.
Nesse momento, voltou a alfinetar Serra, criticando o fato de o tucano antecipar o resultado "antes mesmo que o povo vote".
Garotinho, de seu lado, repetiu a sua queixa frequente de que faz uma campanha pobre, motivo pelo qual o crescimento de sua candidatura estaria sendo lento.
O debate foi dividido em quatro bloco, mais as considerações finais.
Em dois deles, os temas das perguntas que os candidatos faziam uns aos outros eram sorteados pelo moderador William Bonner. Nos dois restantes, os temas eram livres.
O formato fez com que, na maior parte do tempo, o debate se transformasse em uma espécie de horário eleitoral gratuito bis. Toda pergunta era aproveitada para que cada candidato expusesse pontos de seu programa de governo, repetindo tudo o que disseram ao longo da programação gratuita.
Mesmo as perguntas que Bonner fazia ao final de cada série de debates entre candidatos foram apenas alavancas para que os presidenciáveis falassem das propostas de governo já apresentadas.
O formato também foi desfavorável para Serra, pelo fato de estar cercado de candidatos de oposição. Quando Ciro, por exemplo, perguntava a Garotinho, os dois falavam seguidamente por bom tempo, em geral criticando o governo do qual Serra é candidato, sem que o tucano pudesse interferir.
Teria até direito de resposta se fosse ofendido, mas as críticas foram sempre factuais, fechando as portas para uma intervenção de Serra. (CLÓVIS ROSSI)



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