|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETA FINAL
Candidato do PSB arma "pegadinha" e recebe resposta errada de petista; tucano o acusa de estar no "Casseta & Planeta"
Contra todos, Garotinho dilui duelo Serra-Lula
DO COLUNISTA DA FOLHA
Anthony Garotinho (PSB) intrometeu-se com vigor e muita
soltura em um debate (o da Rede
Globo) que, supostamente, marcaria a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra
(PSDB), um empenhado em ganhar já no primeiro turno, e, o outro, em evitar essa hipótese para
poder enfrentar o candidato petista no turno final.
Garotinho foi uma metralhadora giratória com disparos principalmente contra Serra e contra o
governo federal, mas não deixou
de alvejar também Lula.
Bateu primeiro no estilo "Lulinha paz e amor", ao reclamar que
o petista não respondia pergunta
alguma, usando como gancho o
fato de Lula ter-se negado a dar
uma resposta direta sobre ser ou
não a favor da transposição das
águas do rio São Francisco.
Foi o único momento em que
Lula mostrou-se mais arrogante:
lembrou o seu primeiro lugar para afirmar que, por isso, precisava
ser "mais responsável" nas respostas do que "certos candidatos".
Pegada
Depois, Garotinho armou uma
"pegadinha" (na definição de Ciro Gomes) para o líder nas pesquisas: perguntou se Lula manteria a CIDE (Contribuição sobre
Intervenção no Domínio Econômico).
Lula caiu na pegada. Respondeu
como se CIDE fosse um órgão público, quando, conforme Garotinho explicou depois, é uma contribuição introduzida pelo governo federal em janeiro e que cobra
R$ 0,28 sobre cada litro de gasolina e R$ 0,07 no diesel.
Lula não passou recibo sobre
seu equívoco, preferindo dizer, na
réplica, que não é com um pequeno imposto sobre a gasolina que
se vai resolver o problema das estradas.
Mas Garotinho não perdoou, na
tréplica. Disse que muita gente
não sabe que a contribuição está
sendo cobrada. "Nem o Lula sabia", ironizou.
O candidato do PT voltou a tentar desempenhar um papel olímpico, alheio às provocações dos
adversários e empenhado em citar uma penca de números para
mostrar preparo para governar
-uma resposta indireta às frequentes críticas sobre sua qualificação para presidir o país.
Exemplo: na pergunta a Serra
sobre a crise energética, o candidato do PT lembrou que o investimento em energia, em 92/93, fora
de entre R$ 12 bilhões e R$ 13 bilhões, ao passo que, em 1994,
quando FHC já assumira o Ministério da Fazenda, caíra para R$ 4,7
bilhões.
Números assim, com uma ou
duas casas depois da vírgula, surgiram em vários momentos das
respostas ou perguntas de Lula.
O esforço de tentar colocar-se
acima dos demais levou o petista
até a elogiar o programa de combate à Aids que é a principal bandeira de seu adversário José Serra
como ministro da Saúde.
Serra, por sua vez, sem possibilidades de intervir a todo momento para defender o governo, preferiu refugiar-se na demonstração
de certeza de que estará no segundo turno com Lula.
Chegou a brincar com o petista,
ao lamentar que Lula não lhe fizesse perguntas sobre saúde, dizendo de sua esperança de que,
no debate do segundo turno, o tema lhe fosse apresentado por Lula. Depois, no debate com Lula sobre a crise energética, avançou: "É
provável que nós dois vamos para
o segundo turno".
Como o candidato do PT não
exerceu jamais um cargo público
executivo, Serra não podia questionar atos de Lula. Usou, então, a
Prefeitura de São Paulo, em tese a
grande vitrine (ou vidraça) do PT
para críticas sobre a tarifa de ônibus.
A idéia do tucano era demonstrar que uma coisa é o que se diz
nos programas eleitorais pela TV
e, outra, a que se faz quando se assume o governo -tema que já
havia frequentado o horário eleitoral de Serra.
Já Ciro Gomes buscou, uma vez
mais, desmontar a imagem de
truculento e irascível, que ele atribui ao que chamou de "difamação" promovida pela campanha
de José Serra.
Elogio
O candidato da Frente Trabalhista fez questão de, em dois momentos, elogiar Serra. Primeiro,
também pela campanha contra a
Aids e, depois, por ter comparecido à cerimônia nas Nações Unidas em que Ciro, em nome do governo do Ceará, recebeu prêmio
internacional pela redução da
mortalidade infantil no Estado
que então governava.
Como é óbvio, tanto Ciro como
Garotinho usaram o bloco final
para tentar desmentir que a eleição já esteja resolvida, limitando-se a dúvida a se haverá ou não segundo turno entre Lula e Serra.
Nesse momento, voltou a alfinetar Serra, criticando o fato de o
tucano antecipar o resultado "antes mesmo que o povo vote".
Garotinho, de seu lado, repetiu
a sua queixa frequente de que faz
uma campanha pobre, motivo
pelo qual o crescimento de sua
candidatura estaria sendo lento.
O debate foi dividido em quatro
bloco, mais as considerações finais.
Em dois deles, os temas das perguntas que os candidatos faziam
uns aos outros eram sorteados
pelo moderador William Bonner.
Nos dois restantes, os temas eram
livres.
O formato fez com que, na
maior parte do tempo, o debate se
transformasse em uma espécie de
horário eleitoral gratuito bis. Toda pergunta era aproveitada para
que cada candidato expusesse
pontos de seu programa de governo, repetindo tudo o que disseram ao longo da programação
gratuita.
Mesmo as perguntas que Bonner fazia ao final de cada série de
debates entre candidatos foram
apenas alavancas para que os presidenciáveis falassem das propostas de governo já apresentadas.
O formato também foi desfavorável para Serra, pelo fato de estar
cercado de candidatos de oposição. Quando Ciro, por exemplo,
perguntava a Garotinho, os dois
falavam seguidamente por bom
tempo, em geral criticando o governo do qual Serra é candidato,
sem que o tucano pudesse interferir.
Teria até direito de resposta se
fosse ofendido, mas as críticas foram sempre factuais, fechando as
portas para uma intervenção de
Serra.
(CLÓVIS ROSSI)
Texto Anterior: ELEIÇÕES 2002 Serra sofre mais ataques que Lula no último debate na TV Próximo Texto: Frases Índice
|