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QUESTÃO INDÍGENA
Grupo quer atrair "voto étnico" e alcançar representação política
Índios se unem para conquistar eleitores
FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
Vinte anos depois da eleição do
deputado federal Mario Juruna
(PDT-RJ) e motivados por casos
vitoriosos em países vizinhos, lideranças do movimento indígena
brasileiro decidiram se candidatar com o objetivo de criar uma
representação política e formar o
chamado "voto étnico" no país.
Ao todo, o grupo indicou sete
candidatos a deputado estadual e
um a deputado federal em sete Estados do país: AC, MT, MS, PA,
SC, RO e RR.
"Juruna faz parte da história do
país como o primeiro parlamentar indígena, mas hoje as novas lideranças não querem ser parte de
um contexto que foi considerado
folclórico", disse o candidato a
deputado estadual Marcos Terena (PST-MS), 48, ex-coordenador
dos Direitos Indígenas da Funai
(Fundação Nacional do Índio).
A idéia do lançamento simultâneo surgiu de discussões em encontros das organizações indígenas depois de 2000, quando foram eleitos no país 81 vereadores,
seis vice-prefeitos e até um prefeito -Marcos Potiguara (PMDB),
em Bahia da Traição (PB).
"A maioria dos vereadores eleitos foi indicada por lideranças políticas brancas, sem compromisso
com o movimento indígena", diz
José Adalberto Macuxi (PC do B-RR), candidato a deputado federal ligado à Coiab (Coordenação
das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira).
Para Macuxi, o que prejudicou
Juruna foi essa falta de apoio. "Na
época não havia organizações fortalecidas e Juruna ficou isolado no
Congresso, manipulado pelos
brancos. Era um líder fantástico
que morreu isolado". Juruna
morreu em julho, em Brasília.
O surgimento nos últimos anos
de políticos indígenas em países
da América do Sul e Central também serviram de inspiração para
o movimento indígena brasileiro.
No ano passado, o Peru elegeu
Alejandro Toledo, primeiro presidente eleito de origem indígena.
Na Venezuela, a Constituição de
99 garante três cadeiras permanentes a índios na Assembléia.
Em contraponto, no país o número de candidaturas indígenas
nem sequer é registrado pelo TSE.
"Isso seria discriminação", disse a
assessoria de imprensa do órgão.
Disputa interna
A iniciativa do grupo é minoritária dentre indígenas que disputam estas eleições. Segundo levantamento da Funai, existem pelo menos mais onze candidaturas.
Todos os candidatos disputam
os votos dentro das aldeias -estima-se que 60 mil índios dessas
comunidades votarão este ano.
O desafio das lideranças indígenas é conquistar esses eleitores,
que, segundo eles, estão acostumados a práticas clientelistas. "O
processo de cooptação do candidato mau caráter nas aldeias vai
desde a cachaça até o churrasco",
disse Terena.
Caso a experiência deste ano seja considerada satisfatória, as próximas metas do grupo serão disputar prefeituras com grande população indígena e discutir a criação de um partido próprio.
De acordo com informações
preliminares do Censo 2000, o
número de índios pulou de
294.135, em 91, para 701.462, em
2000 -um aumento de 138%.
Apesar do crescimento, representam apenas 0,4% dos brasileiros.
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