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EXUBERÂNCIA ELEITORAL
O tamanho da pindaíba que virá
VINICIUS TORRES FREIRE
Em 1996 Fernando Henrique
Cardoso gostava de dizer que
era fácil governar o Brasil e pensava que o país podia viver pendurado no cheque especial do investimento externo. O "capital externo era sobrante", dizia o presidente. Só "fracassomaníacos", dizia FHC, reclamavam das exportações miudinhas, do fato de a
classe média torrar dólares que
não tínhamos em Miami e de
comprarmos comida de gato importada, como diz o Elio Gaspari.
Em termos técnicos e chatos, só
fracassomaníacos reclamavam
do crescente déficit em conta corrente e da imensa necessidade total de financiamento externo.
Hoje em dia, FHC e até uns diretores do Banco Central festejam o
superávit comercial (a diferença
positiva entre exportações e importações) e a redução do déficit
em conta corrente (a diferença
entre bens e serviços que o país exporta e importa, incluindo mercadorias, juros de dívida, lucros,
gastos de turistas etc.).
Quanto menor o déficit em conta corrente, menor a necessidade
de investimento externo para cobrir o rombo nas nossas contas
em dólares (déficit em conta corrente em si não é ruim, depende
do seu tamanho, se é crescente, se
o país está muito endividado
etc.). No caso do Brasil, a redução
do déficit pode ser um assunto
dramático, pois o país ainda tem
uma dívida externa pesada (pública e privada). Quer dizer, além
da diferença entre o que importamos e exportamos, temos de pagar juros e principal da dívida.
Hoje em dia, o país precisa, ao todo, uns US$ 45 bilhões por ano de
dinheiro de fora para pagar seus
compromissos e não ter de gastar
suas reservas internacionais.
Alguns economistas dizem que,
com o câmbio flutuante, se precisarmos de dólares demais, o real
se desvaloriza, gastamos menos
no exterior, exportamos mais e
precisamos de menos dinheiro
para fecharmos as contas externas. O câmbio flutuante seria um
mecanismo automático de equilíbrio. É mais ou menos verdade.
Mas, para que o real se desvalorize sem que venha inflação (o
que anula o efeito do real desvalorizado), no curto prazo é preciso
elevar juros, causar desemprego e
diminuir a renda das pessoas (no
longo prazo o país pode ficar mais
competitivo, exportar mais).
A renda real do brasileiro não
cresce há dois anos. Há cada vez
mais projeções de que a renda
não poderá crescer em 2003 se
continuar o atual panorama financeiro mundial. Isto é, de seca
de dólares. Qual será o impacto
político-social de três anos de estagnação?
As projeções do governo para
2003, muito otimistas, dizem que
governo e empresas vão rolar (renovar o empréstimo) uns 90% de
nossa dívida externa. Que o investimento externo direto não vai
cair muito. Mas o investimento
direto está em tendência de queda, e temos rolado só 10% de nossas dívidas. Há especulador e
analista estrangeiro dizendo que
não vamos ter um centavo de crédito no começo de 2003. Pior, o
governo (BC) está gastando dólar
demais para não deixar o real se
desvalorizar ainda mais.
Há o dinheiro do FMI. Mas, se o
cenário atual permanecer, o dinheiro do FMI não será bastante.
O próximo presidente chegaria de
joelhos às conversas com o Fundo,
em março, quando deve sair a nova parcela do empréstimo.
Não temos alternativa, pois, a
não ser um choque radical de corte nas despesas do governo de modo a atrair recurso externo e abrir
espaço para a queda de juros pouco antes de meados do ano. E
mesmo isso não vai garantir a
volta do crédito para o país. Mas
sem o choque, haverá desastre.
VINICIUS TORRES FREIRE, editor de
Dinheiro, escreve às sextas-feiras
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