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JUDICIÁRIO
Paulo Theotonio Costa, que já está afastado do TRF, é acusado de aceitar dinheiro para decidir a favor do Bamerindus
STJ aceita nova denúncia contra magistrado
FREDERICO VASCONCELOS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A Corte Especial do Superior
Tribunal de Justiça recebeu por
unanimidade nova denúncia contra o desembargador Paulo Theotonio Costa, acusado de corrupção passiva, ao aceitar dinheiro
para proferir decisão, em 1996, favorecendo o grupo Bamerindus.
Embora o desembargador já esteja afastado do cargo de juiz do
TRF (Tribunal Regional Federal)
desde dezembro de 2001, quando
o STJ recebeu denúncia de manipulação de habeas corpus para liberar um narcotraficante com
prisão preventiva decretada, os 20
ministros da Corte Especial decidiram, unanimemente, votar
também pelo seu afastamento
nessa segunda ação penal.
O STJ também recebeu denúncia contra o advogado Ismael Medeiros, acusado pelo Ministério
Público Federal de ser amigo e
funcionário do desembargador, e
que teria atuado como "testa de
ferro" do magistrado.
Sem experiência como advogado, Medeiros recebeu R$ 1,5 milhão do Bamerindus a título de
"assessoria jurídica" específica
numa ação em que Theotonio
Costa decidiu favoravelmente ao
banco. Posteriormente, Medeiros
fez dois "empréstimos" de "pelo
menos" R$ 686 mil às construtoras Kroonna e Thema, empresas
empresas do magistrado em
Campo Grande (MS). O MPF suspeitava que esses "empréstimos"
chegariam a R$ 1 milhão.
Por decisão mantida por Theotonio Costa, o Bamerindus recebeu crédito antecipado de R$ 150
milhões do Econômico, então sob
intervenção extrajudicial.
Para o MPF, esses empréstimos
"foram forjados para ocultar vantagens econômicas recebidas por
Theotonio Costa para proferir decisão favorável ao Bamerindus".
Na sessão realizada ontem, os
advogados de defesa tentaram o
adiar o julgamento. O relator, ministro Fernando Gonçalves, submeteu o pedido ao plenário, mesmo tendo dito que "fez muita vista grossa" quanto aos prazos e
que "os advogados tiveram oportunidade de examinar os autos".
O presidente do STJ, ministro
Nilson Naves, decidiu que o pedido não seria colocado em votação,
determinando que Gonçalves fizesse o relatório. O STJ também
rejeitou o pedido do advogado Ismael Medeiros de obter a suspensão da denúncia, "por ser primário e ter bons antecedentes".
A subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio opinou
pela rejeição do pedido, sob o argumento de que Medeiros "nunca
se apresentou à Justiça" e que a
ação ficou parada durante meses
porque o advogado não era localizado nos endereços que constam
na Receita Federal e na Ordem
dos Advogados do Brasil. "Não há
nos autos endereço do réu, é necessário que ele mostre a sua cara,
que seja visto por outra pessoa
que não seja seu amigo Paulo
Theotonio Costa", disse o MPF.
O relator citou que um dos endereços citados como o de Medeiros é um apartamento de Vera
Lúcia Haddad, que até dezembro
de 2001 foi assessora de Theotonio Costa no TRF.
O ministro Gonçalves disse que,
embora não esteja cadastrado como advogado em nenhum processo no TRF, Medeiros recebeu
R$ 1,5 milhão mesmo sendo "jejuno" em assuntos jurídicos e quando sua renda anual declarada não
superava R$ 26 mil.
Gonçalves concluiu seu voto dizendo que, em tese, os fatos "retratam a conduta criminosa" dos
denunciados, como a manipulação na distribuição dos processos
e nas decisões de Theotonio Costa
para favorecer o Bamerindus.
Ao votar pelo recebimento da
denúncia, e propor que o desembargador fosse afastado, o ministro Carlos Alberto Menezes Direito afirmou que "só a existência de
duas empresas pertencentes a um
juiz federal já é de assombrar".
O ministro Peçanha Martins,
que votara contra o afastamento
de Theotonio Costa em 2001, disse que havia modificado sua opinião, acompanhando o relator.
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