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"Não há registro", diz nova cúpula
DO PAINEL
O tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, disse à Folha na sexta-feira
que "não há registro", na contabilidade do partido, do depósito feito em benefício da empresa do vice-presidente da República em 17
de maio deste ano para quitar
parte de uma dívida da campanha
eleitoral de 2004. "Não há nada
dessa natureza registrado. Nenhum pagamento de R$ 1 milhão
à Coteminas", sustenta Ferreira.
A nova direção nacional do PT,
eleita em outubro passado, reconhece uma dívida de "mais de
R$ 11 milhões" com a empresa e
diz que nada foi pago até agora.
As declarações de Ferreira se
chocam com a versão de Delúbio
Soares, que ainda respondia pelas
finanças do partido quando foi
feito o depósito para a Coteminas.
Por meio de seu advogado, Arnaldo Malheiros, Delúbio disse que,
embora não tenha mais acesso às
contas do PT, se recorda de uma
dívida de campanha com a empresa de José Alencar. Segundo
ele, esse débito foi registrado e vinha sendo pago "aos poucos".
Confrontado com as declarações de seu sucessor na tesouraria, Delúbio reafirmou que "alguma coisa" da dívida foi paga, com
o devido registro na contabilidade
partidária. Embora não esclareça
a origem do dinheiro, nega que tenha vindo de Marcos Valério.
A Coteminas afirma ter cobrado
cerca de R$ 12 milhões pelas camisetas fornecidas para candidaturas municipais do PT Brasil afora. As 50 notas fiscais do serviço
foram emitidas entre 9 de setembro e 18 de outubro de 2004. O débito deveria ser quitado em três
parcelas até janeiro deste ano.
No entanto, antes mesmo do
vencimento da primeira delas, o
PT solicitou prorrogação do prazo. Em novembro de 2004, ainda
sob a administração Genoino/Delúbio, o partido e a Coteminas
chegaram a um acordo. As duas
partes assinaram um documento
estabelecendo novas datas, igualmente descumpridas.
O pagamento de maio, reportado pelo Bradesco ao Coaf, foi o
único realizado até o momento.
Segundo Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar e presidente
da Coteminas, o dinheiro foi levado "por uma senhora" do partido,
de cujo nome não se lembra. Ele
não discute a origem dos recursos: "Era dinheiro do PT. Eu não
tinha por que pensar diferente".
O saldo devedor é semelhante
ao valor da dívida reconhecido
pela nova direção do partido, embora esta negue qualquer registro
do pagamento em suas contas.
Há cerca de dez dias, o tesoureiro Paulo Ferreira teve reunião
com um diretor da Coteminas.
Antes, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, havia se encontrado
com Gomes da Silva.
Ferreira diz esperar que, a
exemplo do que teria sido conseguido com outros credores, o partido chegue a um acordo com a
Coteminas, "dentro de termos
possíveis para a realidade do PT".
A despeito da sucessão de prazos não-cumpridos, o filho de José Alencar ainda não pretende tomar providências fora da mesa de
negociação. Diz acreditar que o
PT pagará o que deve.
(RLP)
Colaborou GUILHERME BARROS, colunista da Folha
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