São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006

Senador diz preferir um consenso, ex-prefeita aponta "obras concretas"; Lula pede que sejam evitadas disputas internas

Mercadante e Marta lançam disputa ao governo de São Paulo

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar dos apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que não aticem o fogo amigo em tempos de crise, a ex-prefeita Marta Suplicy e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, lançaram ontem, no encontro estadual do PT, suas candidaturas ao Palácio dos Bandeirantes. Os dois não só manifestaram a disposição de disputar, no voto, a preferência dos militantes como apostaram que a temida prévia será o desfecho do confronto.
Mercadante admitiu que essa é a tendência até em seu discurso. Além da pretensão pelo direito de concorrer, os dois têm mais em comum: garantem que, se escolhidos, vencerão a corrida ao governo do Estado.
"Não tenho nenhum motivo para desistir da candidatura", disse Marta, acrescentando que as prévias não assustam.
Não é o que pensa o presidente. Na quinta-feira, Lula chamou dirigentes do PT ao Planalto na tentativa de impedir a prévia. Ele tentou evitar até que fosse fixada a data da convenção. "Em que essa disputa me ajuda?", perguntou, segundo relato do presidente estadual do PT, Paulo Frateschi.
Ainda que a contragosto, Frateschi marcou para maio a data da eleição interna. Até lá, investirá na costura de um acordo. Segundo ele, Lula pede que não haja confronto em todo o país. "É o momento de dar sustentação ao presidente", propõe.
Nas conversas, segundo antecipou ontem a Folha, Lula tem lembrado disputas traumáticas -como as de Santos e Diadema- para pedir que esses confrontos sejam evitados pelo PT.
Mercadante disse ontem que compartilha das preocupações de Lula, afirmou que o presidente poderá atuar na articulação de um acordo, mas avisou: "Se não for possível um consenso, vamos [para a prévia]".
Embora digam concordar com as ponderações de Lula, os dois tentaram explorar o ponto fraco do adversário nos discursos aos militantes. Marta fez questão de lembrar sua experiência administrativa. Apontou suas obras como uma vantagem em relação a Mercadante. Falando para cerca de 800 militantes, usou a disponibilidade de tempo como trunfo:
"Vou ter tempo disponível. Vou estar 24 horas à disposição do partido", discursou.
Sabendo que, até ontem, Mercadante se recusava a lançar oficialmente sua candidatura sob a alegação de que não comprometeria a atividade de líder, Marta frisou: "Assumo perante vocês minha pré-candidatura a governadora".
A resposta veio logo depois: "Gostaria de estar amassando barro no Estado. Mas o presidente Lula precisa de mim na liderança do governo. Enquanto o presidente e o partido precisarem de mim, não vou faltar. Espero que não usem essa condição como argumento", reagiu Mercadante.
Recomendando despojamento, Mercadante fez questão de citar o "grande empenho" em favor de Marta, no ano passado, na disputa à prefeitura. Na época, falou-se de um acerto pelo qual Marta se comprometeria a apoiá-lo na briga pelo governo do Estado. Marta nega. "Me expus, participei, lutei e espero a mesma garra se for o candidato ao governo do Estado. Espero ser. Esse é o sentimento da militância. Trabalho para isso", disse Mercadante, após gritar no plenário que se elegerá se for o escolhido do partido.
Mercadante também propôs um pacto entre os dois. "Se a prévia é o caminho do partido, que seja uma festa respeitosa e democrática. Aquele tipo de grupinho que fica no diretório, intrigando e lançando veneno, cale a boca e não trabalhe para os adversários", disse Mercadante.
Marta afirmou que essa foi uma proposta apresentada por ela há quatro meses. Mercadante apenas verbalizou. No discurso, o senador repetiu seus laços com o governo. Marta tentou afastar a idéia de que o rival seja o preferido de Lula. Ela mandou um recado ao Planalto. "Estive com o companheiro Lula e só ouvi dele palavras de estímulo, sem que isso signifique -como é natural- qualquer tomada de partido".
"Será que vai ter prévia?", brincou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), após os dois discursos.


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