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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006
Senador diz preferir um consenso, ex-prefeita aponta "obras concretas"; Lula pede que sejam evitadas disputas internas
Mercadante e Marta lançam disputa ao governo de São Paulo
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar dos apelos do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva para que
não aticem o fogo amigo em tempos de crise, a ex-prefeita Marta
Suplicy e o líder do governo no
Senado, Aloizio Mercadante, lançaram ontem, no encontro estadual do PT, suas candidaturas ao
Palácio dos Bandeirantes. Os dois
não só manifestaram a disposição
de disputar, no voto, a preferência
dos militantes como apostaram
que a temida prévia será o desfecho do confronto.
Mercadante admitiu que essa é
a tendência até em seu discurso.
Além da pretensão pelo direito de
concorrer, os dois têm mais em
comum: garantem que, se escolhidos, vencerão a corrida ao governo do Estado.
"Não tenho nenhum motivo para desistir da candidatura", disse
Marta, acrescentando que as prévias não assustam.
Não é o que pensa o presidente.
Na quinta-feira, Lula chamou dirigentes do PT ao Planalto na tentativa de impedir a prévia. Ele tentou evitar até que fosse fixada a
data da convenção. "Em que essa
disputa me ajuda?", perguntou,
segundo relato do presidente estadual do PT, Paulo Frateschi.
Ainda que a contragosto, Frateschi marcou para maio a data da
eleição interna. Até lá, investirá na
costura de um acordo. Segundo
ele, Lula pede que não haja confronto em todo o país. "É o momento de dar sustentação ao presidente", propõe.
Nas conversas, segundo antecipou ontem a Folha, Lula tem lembrado disputas traumáticas -como as de Santos e Diadema- para pedir que esses confrontos sejam evitados pelo PT.
Mercadante disse ontem que
compartilha das preocupações de
Lula, afirmou que o presidente
poderá atuar na articulação de
um acordo, mas avisou: "Se não
for possível um consenso, vamos
[para a prévia]".
Embora digam concordar com
as ponderações de Lula, os dois
tentaram explorar o ponto fraco
do adversário nos discursos aos
militantes. Marta fez questão de
lembrar sua experiência administrativa. Apontou suas obras como
uma vantagem em relação a Mercadante. Falando para cerca de
800 militantes, usou a disponibilidade de tempo como trunfo:
"Vou ter tempo disponível. Vou
estar 24 horas à disposição do
partido", discursou.
Sabendo que, até ontem, Mercadante se recusava a lançar oficialmente sua candidatura sob a alegação de que não comprometeria
a atividade de líder, Marta frisou:
"Assumo perante vocês minha
pré-candidatura a governadora".
A resposta veio logo depois:
"Gostaria de estar amassando
barro no Estado. Mas o presidente Lula precisa de mim na liderança do governo. Enquanto o presidente e o partido precisarem de
mim, não vou faltar. Espero que
não usem essa condição como argumento", reagiu Mercadante.
Recomendando despojamento,
Mercadante fez questão de citar o
"grande empenho" em favor de
Marta, no ano passado, na disputa à prefeitura. Na época, falou-se
de um acerto pelo qual Marta se
comprometeria a apoiá-lo na briga pelo governo do Estado. Marta
nega. "Me expus, participei, lutei e
espero a mesma garra se for o
candidato ao governo do Estado.
Espero ser. Esse é o sentimento da
militância. Trabalho para isso",
disse Mercadante, após gritar no
plenário que se elegerá se for o escolhido do partido.
Mercadante também propôs
um pacto entre os dois. "Se a prévia é o caminho do partido, que
seja uma festa respeitosa e democrática. Aquele tipo de grupinho
que fica no diretório, intrigando e
lançando veneno, cale a boca e
não trabalhe para os adversários",
disse Mercadante.
Marta afirmou que essa foi uma
proposta apresentada por ela há
quatro meses. Mercadante apenas
verbalizou. No discurso, o senador repetiu seus laços com o governo. Marta tentou afastar a
idéia de que o rival seja o preferido de Lula. Ela mandou um recado ao Planalto. "Estive com o
companheiro Lula e só ouvi dele
palavras de estímulo, sem que isso signifique -como é natural-
qualquer tomada de partido".
"Será que vai ter prévia?", brincou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), após
os dois discursos.
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