São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO RIBEIRÃO

Em depoimento à CPI, Francisco Costa contou que Buratti, Barquete e Vladimir Poleto conversavam sobre reuniões na GTech

Motorista revela diálogos de grupo de Ribeirão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à Polícia Federal na última sexta-feira, o motorista Francisco das Chagas Costa, 55, disse que levou Ralf Barquete e Rogério Buratti duas vezes ao Serpro (estatal federal da área de processamento de dados). Contou que lembrava de Buratti, Barquete e Vladimir Poleto terem conversado sobre reuniões na GTech e falou que também "dirigiu para o senhor Ademirson [Ariovaldo Silva]" e para Roberto Carlos Kurzweil.
Costa prestou serviços para os integrantes da chamada República de Ribeirão Preto -ex-assessores do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) quando prefeito do município paulista-, em Brasília, entre 2003 e 2004.
O depoimento do motorista reforça as suspeitas da CPI dos Bingos da prática de tráfico de influência que os ex-assessores de Palocci exerciam em diferentes áreas do setor público. É considerada pelos técnicos da Comissão Parlamentar de Inquérito peça importante para ajudar a desvendar diálogos entre Buratti e Poleto gravados com autorização judicial a pedido do Ministério Público de São Paulo.

Assessores
Barquete foi secretário da Fazenda de Palocci, tendo Poleto como seu assessor. Buratti foi secretário de governo.
Ademirson assessorou Palocci na prefeitura e continua a assessorá-lo no ministério. Kurzweil é o empresário que alugou um Omega blindado para o PT em 2002, carro que, segundo reportagem da revista "Veja", teria sido utilizado para transportar os dólares vindos de Cuba. O Omega foi cedido diretamente a Palocci.
O motorista que teria transportado os dólares para o diretório do PT, Éder Eustáquio Soares Macedo, também foi cedido a Palocci por Kurzweil.
De acordo com a CPI dos Bingos, foram identificadas 1.434 ligações entre Ademirson e Poleto entre 2003 e 2005.
Conforme a Folha publicou no último domingo, entre as conversas de Poleto e Buratti, captadas entre maio e setembro de 2004, os dois falaram sobre transações com certificados de recebíveis imobiliários com a Serpros (fundação de previdência dos funcionários da estatal de processamento de dados), que figura entre os fundos de pensão investigados pela CPI dos Correios por suspeitas de desvio de recursos para atender a interesses políticos.
De acordo com os diálogos, Poleto agendou e depois comemorou o resultado de uma reunião na fundação, sem mencionar, no entanto, o teor dos negócios que teriam sido tratados.
Segundo o depoimento concedido pelo motorista, Buratti e Barquete teriam ido pelo menos duas vezes ao Serpro, patrocinador do fundo de pensão.
A Serpros nega que Poleto e Buratti tenham participado de reuniões na sede da fundação e informa que não adquiriu no período dos diálogos certificados de recebíveis imobiliários.
Procuradas pela reportagem, as assessorias do Ministério da Fazenda e do Serpro não ligaram de volta até a conclusão desta edição. O advogado de Buratti, Rogério Telhada, informou que não conseguiu localizar seu cliente.
Buratti foi acusado de ter tentado extorquir R$ 6 milhões da GTech, em 2004, para que a empresa pudesse renovar contrato com a CEF (Caixa Econômica Federal). Ele contesta essa versão, alegando que a GTech o procurou para "facilitar" a renovação. A empresa nega. As declarações do motorista indicam que Buratti realmente mantinha contato com a GTech.

Grampos
Nas conversas grampeadas, Poleto deixa clara sua preocupação com a possibilidade de escutas telefônicas. Conta a Buratti que havia feito um rastreamento nas linhas fixas de seu escritório.
A Polícia Federal descobriu que Ralf Barquete, morto no início do ano passado, e Poleto usaram entre 2003 e 2004 dois celulares em nome de Francisco da Costa.
Ao ser informado do fato pela Polícia Federal, o motorista se disse surpreso. Contou que, ao ser contratado, Poleto pediu sua carteira de identidade para habilitar um aparelho da operadora TIM em seu nome. Poleto lhe deu um celular da TIM, mas, pelas informações da PF, habilitou também outros dois números no nome do motorista.
Kurzweill e o empresário Roberto Colnaghi, dono de um avião usado por Palocci, foram convocados na semana passada pela CPI dos Bingos, mas a data do depoimento ainda não foi marcada.
(LEONARDO SOUZA e ANDREA MICHAEL)


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