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JUDICIÁRIO
Gestão atual resiste em renovar Órgão Especial, colegiado de 25 desembargadores mais antigos; grupo vê falta de democratização
TJ-SP não renova administração e fere Carta
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal de Justiça de São
Paulo não cumpriu norma da
Constituição Federal e realizará
eleições, quarta-feira, num ambiente de fortes divergências, porque resiste a introduzir medidas
de abertura aprovadas na reforma
do Judiciário no ano passado.
A gestão do presidente Luiz
Elias Tâmbara é criticada por não
renovar o Órgão Especial, colegiado de 25 desembargadores mais
antigos que cuida das questões
administrativas e jurisdicionais.
Essa decisão frustrou um grupo
de 215 desembargadores, articulados num amplo movimento
que, sem maiores ruídos, tenta
democratizar a administração do
maior tribunal estadual do país.
Em documento assinado, eles
haviam pedido a reorganização
do Órgão Especial, de acordo com
a Emenda Constitucional 45/04.
Para "oxigenar" a cúpula dos tribunais, essa emenda determina
que metade do Órgão Especial seja eleita pelo Tribunal Pleno (que
reúne 360 desembargadores). A
outra metade seria composta pelo
critério de antigüidade.
Tâmbara não convocou o Pleno. Nomeou uma comissão que
emitiu parecer, submetido ao Órgão Especial. Sem se julgar impedidos para deliberar sobre questões de seu interesse -pois está
em jogo a perda de funções de
metade do colegiado-, os 25
membros decidiram, em agosto,
por escassa maioria de votos, que
deveria aguardar a aprovação do
Estatuto da Magistratura pelo
Congresso. O colegiado entendeu
que a emenda constitucional não
exigiria aplicação imediata.
Essa solução foi interpretada
como resistência de uma minoria
que não quer abrir mão de poderes e privilégios, com a reforma.
Em setembro, o desembargador
Luiz Pantaleão entrou com mandado de segurança, contestando a
decisão do colegiado. Alegou que
a medida "violou as Constituições
da República e do Estado de São
Paulo" e "o direito líquido e certo
de todos os desembargadores".
Procurado pela Folha há uma
semana, Tâmbara não quis se manifestar. A assessoria de imprensa
do tribunal alegou "o elevado número de compromissos agendados, viagens e julgamentos".
Velha ordem
"O que está em jogo nestas eleições é o fim de um tempo de autoritarismo dentro do TJ e o início
de um processo de democratização interna irreversível, a começar com a extinção desse órgão
administrativo oligárquico", afirma o desembargador Augusto
Francisco Mota Ferraz de Arruda,
58, um dos defensores da renovação no TJ. Segundo ele, se isso não
ocorrer, haverá "o continuísmo
silencioso de uma minoria pouco
interessada no que pensam os
seus 335 colegas".
Nas discussões internas no TJ,
critica-se a manutenção de privilégios do Órgão Especial, reivindica-se a distribuição equânime dos
processos e o fim da designação
arbitrária de juízes para serviços
administrativos. Do lado externo,
advogados queixam-se do atraso
nos processos e de juízes de primeira instância serem convocados para julgamentos no tribunal.
No livro "Reforma do Judiciário", o desembargador José Renato Nalini diz que a eleição de metade do Órgão Especial é o mecanismo mais importante para democratizar os tribunais. "Até a
Emenda Constitucional 45, a administração dos tribunais era
confiada aos mais antigos. Pessoas desprovidas de interesse, de
talento, de condições físicas satisfatórias ocupavam espaço nesse
organismo administrativo, de cuja atuação o restante do colegiado
era sistematicamente excluído."
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