São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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ANÁLISE

Os dois lados, mas sem conflito

NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Por uma longa e arrastada hora, o telejornal "Repórter Brasil", da TV Brasil, deu imagens de arquivo com FHC assinando o protocolo de Kyoto, sob aplausos, e depois Lula ao lado da "alta comissária das Nações Unidas para os direitos humanos", ontem.
O telejornal da emissora pública parecia medir no relógio o tempo que concedia a um lado e outro. Sobre a disputa em torno da CPMF, abriu com o senador Geraldo Mesquita, contra, depois Romero Jucá, a favor, depois José Agripino Maia, contra, e assim por diante.
Sobre a Venezuela, ouviu Heráclito Fortes, do DEM, Cristóvam Buarque, do PDT, e depois Aldo Rebelo, do PC do B, que está em Caracas. Arriscou a avaliação, abrindo o bloco, de que a derrota de Hugo Chávez "deve facilitar a adesão da Venezuela ao Mercosul".
A reprodução de uma reportagem realizada por uma emissora de Caracas, "comunitária", ameaçou trazer alguma tensão. Mas também ela se concentrou na conclamação ao voto e não no que estava em jogo. Lembrou inserções da Justiça Eleitoral, não jornalismo.
A cada nova reportagem ou entrevista, em que pesem as visões divergentes, nada de conflito. Nada que ecoasse a tensão das edições, para as mesmas notícias, de "Jornal Nacional" e "Jornal da Record".
Estreando com aparente constrangimento, a escalada de manchetes clonou os telejornais das concorrentes privadas, transmitidos pouco antes, com a elevação da expectativa de vida como primeiro enunciado, em coro unânime.
A maior aposta de diferenciação, inclusive com enviado a Bali, foi a "conferência das Nações Unidas sobre o clima". Mas o resultado foi frio, como seria de esperar de evento que é tratado sem maior expectativa, em outras partes.
O bloco mencionou, registre-se, que a Austrália não era signatária de Kyoto -quando a notícia do dia foi que o país enfim assinou, ontem, deixando isolados os EUA.
O breve editorial, no início do programa, avisou que o telejornal visa, "a partir da informação completa e qualificada", dar condições para o espectador "formar a própria opinião". Mas o que se viu na hora seguinte não instiga raciocínio, é quase antitelevisivo.
Uma inovação, se é que ainda se pode descrever assim, foi o desejo expresso para que "o "Repórter Brasil" seja reflexo da diversidade social, cultural e étnica do país", como anunciado pela apresentadora negra, Luciana Barreto.
Mas também por aí faltou conflito, no correr do telejornal, e sobrou correção política -em meio à atenção desproporcional dedicada à ONU, que a TV Brasil insiste em chamar de Nações Unidas.


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