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ANÁLISE
Os dois lados, mas sem conflito
NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Por uma longa e arrastada
hora, o telejornal "Repórter
Brasil", da TV Brasil, deu imagens de arquivo com FHC assinando o protocolo de Kyoto,
sob aplausos, e depois Lula ao
lado da "alta comissária das Nações Unidas para os direitos
humanos", ontem.
O telejornal da emissora pública parecia medir no relógio o
tempo que concedia a um lado e
outro. Sobre a disputa em torno
da CPMF, abriu com o senador
Geraldo Mesquita, contra, depois Romero Jucá, a favor, depois José Agripino Maia, contra, e assim por diante.
Sobre a Venezuela, ouviu Heráclito Fortes, do DEM, Cristóvam Buarque, do PDT, e depois
Aldo Rebelo, do PC do B, que
está em Caracas. Arriscou a
avaliação, abrindo o bloco, de
que a derrota de Hugo Chávez
"deve facilitar a adesão da Venezuela ao Mercosul".
A reprodução de uma reportagem realizada por uma emissora de Caracas, "comunitária",
ameaçou trazer alguma tensão.
Mas também ela se concentrou
na conclamação ao voto e não
no que estava em jogo. Lembrou inserções da Justiça Eleitoral, não jornalismo.
A cada nova reportagem ou
entrevista, em que pesem as visões divergentes, nada de conflito. Nada que ecoasse a tensão
das edições, para as mesmas
notícias, de "Jornal Nacional" e
"Jornal da Record".
Estreando com aparente
constrangimento, a escalada de
manchetes clonou os telejornais das concorrentes privadas,
transmitidos pouco antes, com
a elevação da expectativa de vida como primeiro enunciado,
em coro unânime.
A maior aposta de diferenciação, inclusive com enviado a
Bali, foi a "conferência das Nações Unidas sobre o clima".
Mas o resultado foi frio, como
seria de esperar de evento que é
tratado sem maior expectativa,
em outras partes.
O bloco mencionou, registre-se, que a Austrália não era signatária de Kyoto -quando a
notícia do dia foi que o país enfim assinou, ontem, deixando
isolados os EUA.
O breve editorial, no início do
programa, avisou que o telejornal visa, "a partir da informação completa e qualificada",
dar condições para o espectador "formar a própria opinião".
Mas o que se viu na hora seguinte não instiga raciocínio, é
quase antitelevisivo.
Uma inovação, se é que ainda
se pode descrever assim, foi o
desejo expresso para que "o
"Repórter Brasil" seja reflexo da
diversidade social, cultural e étnica do país", como anunciado
pela apresentadora negra, Luciana Barreto.
Mas também por aí faltou
conflito, no correr do telejornal, e sobrou correção política
-em meio à atenção desproporcional dedicada à ONU, que
a TV Brasil insiste em chamar
de Nações Unidas.
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