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Chuva será inconveniente para obras
DA REDAÇÃO
O período que segue de janeiro
até meados de abril -de muita
chuva na maior parte do país- é
o menos adequado para o governo federal realizar as obras emergenciais em rodovias, dizem especialistas ouvidos pela Folha.
É justamente nos Estados das
regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste -que, de acordo com o
Instituto Nacional de Meteorologia, sempre são atingidos por fortes chuvas até abril- que o governo vai injetar a maior parte dos
R$ 440 milhões anunciados na
sexta-feira passada. Os Estados
com mais estradas em situação de
emergência são Minas Gerais,
Goiás e Mato Grosso.
Os engenheiros afirmam que,
com a tecnologia hoje existente,
não é impossível fazer a manutenção ou a recuperação da malha
rodoviária em período chuvoso.
No entanto, as obras necessariamente se estendem por mais tempo e gastam mais dinheiro.
Além disso, por ser um trabalho
de recapeamento -o famoso "tapa-buracos"-, o projeto do governo de intervir em 26,4 mil quilômetros de rodovias federais torna-se apenas um paliativo e ganha
tom eleitoreiro.
Segundo o conselheiro do Instituto de Engenharia de São Paulo
Ivan Whately, a maior parte das
rodovias necessitam de recuperação há mais de cinco anos. Isso incluiria um processo de reconstrução da base das estradas, que têm
vida útil de cerca de dez anos.
"Para essa malha rodoviária
chegar ao estágio que chegou é
porque não houve manutenção",
afirma Whately.
O engenheiro João Antônio del
Nero, presidente do Sinaenco
(Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia
Consultiva), concorda com Whately. Segundo Nero, a solução de
reconstruir estradas seria algo para terminar em dois ou três anos,
após estudos de drenagens, de encontros das rodovias com as pontes, entre outros.
No entanto, essa idéia não combina com as eleições. O projeto
tardio e emergencial de tapar buracos, a ser iniciado na próxima
semana, segundo disse a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil) anteontem, deve deixar as estradas
prontas ainda no primeiro semestre deste ano. A contradição é que
o que deveria ser efetivamente feito nas rodovias não será, além de
que as obras terão de enfrentar os
meses "de chuva".
Difícil
Keiji Kanashiro, secretário-executivo do Ministério dos Transportes até abril de 2004, admite
ser "muito difícil" fazer obras
com chuva. "Há lugares que não
dá para fazer nada, como em partes da região amazônica. No Acre,
por exemplo, você tem 89 dias secos no ano para fazer esse tipo de
obra", afirma Keiji.
Para o engenheiro Luiz Célio
Bottura, ex-presidente da Dersa
(Desenvolvimento Rodoviário de
São Paulo), as pancadas de chuva
durante a obra de manutenção
ainda a tornam menos eficiente
ao longo dos anos, além de correr
o risco de ser inviabilizada logo
após sua realização.
"É uma atitude precipitada [fazer manutenção no período de
chuvas]. E o que precisa ser feito é
mais que tapar buraco."
(ANA PAULA BONI)
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