São Paulo, quinta-feira, 05 de janeiro de 2006

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Chuva será inconveniente para obras

DA REDAÇÃO

O período que segue de janeiro até meados de abril -de muita chuva na maior parte do país- é o menos adequado para o governo federal realizar as obras emergenciais em rodovias, dizem especialistas ouvidos pela Folha.
É justamente nos Estados das regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste -que, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, sempre são atingidos por fortes chuvas até abril- que o governo vai injetar a maior parte dos R$ 440 milhões anunciados na sexta-feira passada. Os Estados com mais estradas em situação de emergência são Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Os engenheiros afirmam que, com a tecnologia hoje existente, não é impossível fazer a manutenção ou a recuperação da malha rodoviária em período chuvoso. No entanto, as obras necessariamente se estendem por mais tempo e gastam mais dinheiro.
Além disso, por ser um trabalho de recapeamento -o famoso "tapa-buracos"-, o projeto do governo de intervir em 26,4 mil quilômetros de rodovias federais torna-se apenas um paliativo e ganha tom eleitoreiro.
Segundo o conselheiro do Instituto de Engenharia de São Paulo Ivan Whately, a maior parte das rodovias necessitam de recuperação há mais de cinco anos. Isso incluiria um processo de reconstrução da base das estradas, que têm vida útil de cerca de dez anos.
"Para essa malha rodoviária chegar ao estágio que chegou é porque não houve manutenção", afirma Whately.
O engenheiro João Antônio del Nero, presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), concorda com Whately. Segundo Nero, a solução de reconstruir estradas seria algo para terminar em dois ou três anos, após estudos de drenagens, de encontros das rodovias com as pontes, entre outros.
No entanto, essa idéia não combina com as eleições. O projeto tardio e emergencial de tapar buracos, a ser iniciado na próxima semana, segundo disse a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) anteontem, deve deixar as estradas prontas ainda no primeiro semestre deste ano. A contradição é que o que deveria ser efetivamente feito nas rodovias não será, além de que as obras terão de enfrentar os meses "de chuva".

Difícil
Keiji Kanashiro, secretário-executivo do Ministério dos Transportes até abril de 2004, admite ser "muito difícil" fazer obras com chuva. "Há lugares que não dá para fazer nada, como em partes da região amazônica. No Acre, por exemplo, você tem 89 dias secos no ano para fazer esse tipo de obra", afirma Keiji.
Para o engenheiro Luiz Célio Bottura, ex-presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário de São Paulo), as pancadas de chuva durante a obra de manutenção ainda a tornam menos eficiente ao longo dos anos, além de correr o risco de ser inviabilizada logo após sua realização.
"É uma atitude precipitada [fazer manutenção no período de chuvas]. E o que precisa ser feito é mais que tapar buraco."
(ANA PAULA BONI)


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