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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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GOVERNO X PT

Presidente teme que perda do controle no partido afete governabilidade

Lula dá aval para direção do PT enquadrar "radicais"

KENNEDY ALENCAR
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu aval para o enquadramento dos radicais do PT por temer que a perda de controle sobre eles afete sua governabilidade. A estratégia é punir a senadora Heloísa Helena (PT-AL), transformando-a num exemplo para outros membros do partido que atacam medidas do governo e que queiram violar decisões do PT.
"A senadora Heloísa Helena está irritando o PT", disse o presidente do partido, José Genoino. Segundo ele, a situação dela "é diferente" da de outros membros da ala radical. Esses questionaram a política econômica, mas ainda não desobedeceram, como a senadora, decisões do partido.
A estratégia para transformar a senadora alagoana num exemplo foi definida numa reunião ontem de manhã entre o ministro da Casa Civil, José Dirceu, e líderes do PT no Congresso. Dirceu transmitiu a avaliação de Lula de que a eventual perda do controle sobre os radicais contaminaria a base aliada, dificultando a aprovação de projetos polêmicos no Congresso, e causaria crise econômica, por minar a confiança do mercado no governo.
O líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), deu um recado duro: "Não vou admitir que um membro da bancada faça oposição ao governo". Pellegrino disse que as punições para o descumprimento de decisões partidárias vão desde a advertência pública, punição que Genoino propõe para Heloísa Helena, até a expulsão da legenda.
Na reunião de Dirceu com líderes do PT, o ministro disse estar agindo por determinação do presidente. Na história do PT, Lula e Dirceu se uniram para consolidar a hegemonia dos moderados no partido. Hoje, somam cerca de 70% do PT, no chamado "Campo Majoritário". Os outros 30% se dividem em tendências de esquerda, mais e menos radicais.

Isolamento
Genoino lembrou que Heloísa Helena deixou de votar em colegas do PT para a composição da Mesa do Senado quando faltou à sessão para eleger José Sarney (PMDB-AP) presidente da Casa.
Segundo ele, quando ela não foi à sessão para votar pela indicação de Henrique Meirelles para a presidência do BC, havia um acordo. "Agora, ela violou decisão partidária. Não queremos que ela saia do PT, mas que aceite decisões debatidas democraticamente."
Heloísa Helena foi isolada até na bancada feminina do PT no Senado. Ideli Salvatti (SC) fez críticas desde a campanha (quando Heloísa Helena desistiu de ser candidata a governadora por discordar da política de alianças feita pelo PT) até a recusa em votar Sarney.
"Democracia interna pressupõe você ter amplo direito de se manifestar, mas tem contrapartida. É profundamente antidemocrático você se rebelar contra uma decisão tomada com plena possibilidade de debate", afirmou.
Até a senadora Ana Júlia (PT-PA), da ala radical, reprovou as atitudes de Heloísa Helena. Ela recebeu ontem telefonema de Dirceu, negando ter defendido sua expulsão [por causa de sua queixa contra a manutenção da diretoria do BC do governo FHC na reunião da bancada com Palocci].
"Estou me reservando o direito de fazer esse debate sobre o governo, que é profícuo e necessário, internamente. Não vou fazer esse debate público", disse Ana Júlia.
Após audiência com Lula, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), engrossou o coro dos que separam Heloísa Helena dos demais radicais. "Precisamos ver qual foi a razão da falta da senadora. Ela tem de se justificar".


Colaboraram RAQUEL ULHÔA e LEILA SUWWAN, da Sucursal de Brasília


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