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GOVERNO X PT
Presidente teme que perda do controle no partido afete governabilidade
Lula dá aval para direção do PT enquadrar "radicais"
KENNEDY ALENCAR
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva deu aval para o enquadramento dos radicais do PT por temer que a perda de controle sobre
eles afete sua governabilidade. A
estratégia é punir a senadora Heloísa Helena (PT-AL), transformando-a num exemplo para outros membros do partido que atacam medidas do governo e que
queiram violar decisões do PT.
"A senadora Heloísa Helena está irritando o PT", disse o presidente do partido, José Genoino.
Segundo ele, a situação dela "é diferente" da de outros membros da
ala radical. Esses questionaram a
política econômica, mas ainda
não desobedeceram, como a senadora, decisões do partido.
A estratégia para transformar a
senadora alagoana num exemplo
foi definida numa reunião ontem
de manhã entre o ministro da Casa Civil, José Dirceu, e líderes do
PT no Congresso. Dirceu transmitiu a avaliação de Lula de que a
eventual perda do controle sobre
os radicais contaminaria a base
aliada, dificultando a aprovação
de projetos polêmicos no Congresso, e causaria crise econômica, por minar a confiança do mercado no governo.
O líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), deu um recado duro: "Não vou admitir que
um membro da bancada faça
oposição ao governo". Pellegrino
disse que as punições para o descumprimento de decisões partidárias vão desde a advertência
pública, punição que Genoino
propõe para Heloísa Helena, até a
expulsão da legenda.
Na reunião de Dirceu com líderes do PT, o ministro disse estar
agindo por determinação do presidente. Na história do PT, Lula e
Dirceu se uniram para consolidar
a hegemonia dos moderados no
partido. Hoje, somam cerca de
70% do PT, no chamado "Campo
Majoritário". Os outros 30% se dividem em tendências de esquerda, mais e menos radicais.
Isolamento
Genoino lembrou que Heloísa
Helena deixou de votar em colegas do PT para a composição da
Mesa do Senado quando faltou à
sessão para eleger José Sarney
(PMDB-AP) presidente da Casa.
Segundo ele, quando ela não foi
à sessão para votar pela indicação
de Henrique Meirelles para a presidência do BC, havia um acordo.
"Agora, ela violou decisão partidária. Não queremos que ela saia
do PT, mas que aceite decisões debatidas democraticamente."
Heloísa Helena foi isolada até na
bancada feminina do PT no Senado. Ideli Salvatti (SC) fez críticas
desde a campanha (quando Heloísa Helena desistiu de ser candidata a governadora por discordar
da política de alianças feita pelo
PT) até a recusa em votar Sarney.
"Democracia interna pressupõe
você ter amplo direito de se manifestar, mas tem contrapartida. É
profundamente antidemocrático
você se rebelar contra uma decisão tomada com plena possibilidade de debate", afirmou.
Até a senadora Ana Júlia (PT-PA), da ala radical, reprovou as
atitudes de Heloísa Helena. Ela recebeu ontem telefonema de Dirceu, negando ter defendido sua
expulsão [por causa de sua queixa
contra a manutenção da diretoria
do BC do governo FHC na reunião da bancada com Palocci].
"Estou me reservando o direito
de fazer esse debate sobre o governo, que é profícuo e necessário,
internamente. Não vou fazer esse
debate público", disse Ana Júlia.
Após audiência com Lula, o presidente da Câmara, João Paulo
Cunha (PT-SP), engrossou o coro
dos que separam Heloísa Helena
dos demais radicais. "Precisamos
ver qual foi a razão da falta da senadora. Ela tem de se justificar".
Colaboraram RAQUEL ULHÔA e LEILA SUWWAN, da Sucursal de Brasília
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