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São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2003

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BASE ALIADA

Presidente do partido de Ciro compara política econômica de Lula à de FHC, e Genoino o iguala a Bornhausen (PFL)

PT reage ao PPS; Freire diz ver "mesmo filme"

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente nacional do PT, José Genoino, reagiu ontem à crítica do presidente do PPS, Roberto Freire, de que o governo Lula não tem projeto estratégico e por isso encontra dificuldades para formular um programa executivo de poder. Genoino até se ofereceu para participar de seminário do PPS, expondo o projeto do PT.
Conforme a Folha revelou ontem, um texto distribuído por Roberto Freire, a senadores e deputados federais do partido, continha críticas ao governo do PT. O texto intitulado "PPS -Alguns temas, idéias, posicionamentos e polêmicas" incomodou Genoino.
"Discordamos totalmente dessas críticas. O governo do PT tem projeto, sim, ao contrário do que dizem o Freire e o Bornhausen [senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, que também fez críticas ao partido]", reagiu Genoino, lembrando que o PPS é aliado do PT e integra o governo.
"Não queremos criar uma disputa com um partido aliado, especialmente um partido de esquerda. Queremos construir um projeto único", disse Genoino, adicionando uma advertência: "A vitória desse projeto não é fundamental só para o PT, mas para toda a esquerda brasileira".
Segundo Genoino, o PT fez uma política de alianças e produziu, em momentos diferentes, três documentos estratégicos que norteiam o governo de Luiz Inácio Lula da Silva: as propostas da convenção de Recife, a "Carta ao Povo Brasileiro" e o próprio programa de campanha de Lula.
Em resumo, disse ele, o projeto é baseado num tripé: "Soberania, crescimento econômico e democracia com inclusão social". Mas, agora, é preciso cuidado "para sair do modelo neoliberal sem rupturas nem aventuras".
Roberto Freire fez questão de acrescentar, ontem, que as críticas à falta de um projeto estratégico do governo Lula têm "amplo apoio e são praticamente consensuais" dentro da bancada de três senadores e 21 deputados federais do seu partido.
Ele disse que não vê nenhum problema caso o ministro do seu partido, Ciro Gomes (Integração Nacional), resolva fazer o caminho inverso e discordar.
"Acho que isso seria muito natural. Seria bom, inclusive, para abrir o debate sobre rumos", disse Freire. Apesar disso, Ciro Gomes, que passa o Carnaval em Fortaleza, disse, por meio de sua assessoria, que não comentaria a reportagem publicada ontem pela Folha.
Freire justificou que redigiu esse texto porque "apoio não tem de ser acrítico" e porque "chegou o momento de manifestar preocupação". Cobrou propostas concretas para as reformas da Previdência e tributária e políticas públicas nítidas.
"Senão, vamos ficar num varejo tremendo no Congresso, sem rumo, sem saber para onde estamos indo", disse ele. "O que vai mudar e o que não vai? Quais são os projetos estratégicos, essenciais?"
Para demonstrar que faltam uma direção e projetos ao governo, Freire exemplificou: "Até para saber o que vai acontecer com o Simples [sistema tributário simplificado para pequenas empresas] é preciso chamar o José Dirceu [chefe da Casa Civil] ao Congresso. Assim não dá".

Macro e micro
A crítica principal, porém, é quanto à política econômica. É isso, segundo o deputado, que vem prioritariamente preocupando e incomodando setores cada vez mais amplos do Congresso, inclusive da própria base aliada ao governo do PT -caso do PPS.
"Precisamos entender a política econômica deste governo. É a velha ortodoxia? Vamos enfrentar a inflação com os mesmos instrumentos de arrocho, de juros altos, de superávits sempre maiores? Este filme nós já vimos", disse ele, por telefone.
Na outra ponta -das políticas específicas-, Freire anunciou que está preparando um discurso para fazer proximamente no plenário do Senado condenando "o desmanche que se prenuncia da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]".
Freire se diz convencido de que, apesar de outros programas relacionados à Embrapa, de apoio à agricultura familiar e à reforma agrária, a prioridade do órgão deve ser a pesquisa e a tecnologia, sem limitações dogmáticas impostas por setores da esquerda. Leia-se: ele defende, por exemplo, a discussão sobre os transgênicos, que o PT rejeita.


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