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BASE ALIADA
Presidente do partido de Ciro compara política econômica de Lula à de FHC, e Genoino o iguala a Bornhausen (PFL)
PT reage ao PPS; Freire diz ver "mesmo filme"
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente nacional do PT, José Genoino, reagiu ontem à crítica
do presidente do PPS, Roberto
Freire, de que o governo Lula não
tem projeto estratégico e por isso
encontra dificuldades para formular um programa executivo de
poder. Genoino até se ofereceu
para participar de seminário do
PPS, expondo o projeto do PT.
Conforme a Folha revelou ontem, um texto distribuído por Roberto Freire, a senadores e deputados federais do partido, continha críticas ao governo do PT. O
texto intitulado "PPS -Alguns
temas, idéias, posicionamentos e
polêmicas" incomodou Genoino.
"Discordamos totalmente dessas críticas. O governo do PT tem
projeto, sim, ao contrário do que
dizem o Freire e o Bornhausen
[senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, que também fez
críticas ao partido]", reagiu Genoino, lembrando que o PPS é
aliado do PT e integra o governo.
"Não queremos criar uma disputa com um partido aliado, especialmente um partido de esquerda. Queremos construir um
projeto único", disse Genoino,
adicionando uma advertência: "A
vitória desse projeto não é fundamental só para o PT, mas para toda a esquerda brasileira".
Segundo Genoino, o PT fez uma
política de alianças e produziu,
em momentos diferentes, três documentos estratégicos que norteiam o governo de Luiz Inácio
Lula da Silva: as propostas da convenção de Recife, a "Carta ao Povo Brasileiro" e o próprio programa de campanha de Lula.
Em resumo, disse ele, o projeto
é baseado num tripé: "Soberania,
crescimento econômico e democracia com inclusão social". Mas,
agora, é preciso cuidado "para
sair do modelo neoliberal sem
rupturas nem aventuras".
Roberto Freire fez questão de
acrescentar, ontem, que as críticas
à falta de um projeto estratégico
do governo Lula têm "amplo
apoio e são praticamente consensuais" dentro da bancada de três
senadores e 21 deputados federais
do seu partido.
Ele disse que não vê nenhum
problema caso o ministro do seu
partido, Ciro Gomes (Integração
Nacional), resolva fazer o caminho inverso e discordar.
"Acho que isso seria muito natural. Seria bom, inclusive, para
abrir o debate sobre rumos", disse
Freire. Apesar disso, Ciro Gomes,
que passa o Carnaval em Fortaleza, disse, por meio de sua assessoria, que não comentaria a reportagem publicada ontem pela Folha.
Freire justificou que redigiu esse
texto porque "apoio não tem de
ser acrítico" e porque "chegou o
momento de manifestar preocupação". Cobrou propostas concretas para as reformas da Previdência e tributária e políticas públicas nítidas.
"Senão, vamos ficar num varejo
tremendo no Congresso, sem rumo, sem saber para onde estamos
indo", disse ele. "O que vai mudar
e o que não vai? Quais são os projetos estratégicos, essenciais?"
Para demonstrar que faltam
uma direção e projetos ao governo, Freire exemplificou: "Até para
saber o que vai acontecer com o
Simples [sistema tributário simplificado para pequenas empresas] é preciso chamar o José Dirceu [chefe da Casa Civil] ao Congresso. Assim não dá".
Macro e micro
A crítica principal, porém, é
quanto à política econômica. É isso, segundo o deputado, que vem
prioritariamente preocupando e
incomodando setores cada vez
mais amplos do Congresso, inclusive da própria base aliada ao governo do PT -caso do PPS.
"Precisamos entender a política
econômica deste governo. É a velha ortodoxia? Vamos enfrentar a
inflação com os mesmos instrumentos de arrocho, de juros altos,
de superávits sempre maiores?
Este filme nós já vimos", disse ele,
por telefone.
Na outra ponta -das políticas
específicas-, Freire anunciou
que está preparando um discurso
para fazer proximamente no plenário do Senado condenando "o
desmanche que se prenuncia da
Embrapa [Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária]".
Freire se diz convencido de que,
apesar de outros programas relacionados à Embrapa, de apoio à
agricultura familiar e à reforma
agrária, a prioridade do órgão deve ser a pesquisa e a tecnologia,
sem limitações dogmáticas impostas por setores da esquerda.
Leia-se: ele defende, por exemplo,
a discussão sobre os transgênicos,
que o PT rejeita.
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