|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOMBRA NO PLANALTO
Líderes anunciam que não indicarão membros e enterram CPI, protocolada com 36 nomes
Tropa de choque de Lula manobra e aniquila a CPI
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com 36 assinaturas, 13 delas da
base aliada, inclusive quatro do
PT, o requerimento de criação da
CPI dos bingos foi protocolado
ontem no Senado, forçando os líderes dos partidos governistas a
um novo desgaste: em nota divulgada à noite, eles decidiram não
indicar os integrantes da comissão. Sem isso, não há CPI.
Na nota, eles alegam que agiram
para "a manutenção da governabilidade", porque "entendem que
este é o momento que exige serenidade e compromisso com uma
agenda política que impulsione o
crescimento econômico e a geração de empregos no Brasil".
A CPI tem o objetivo de investigar denúncias de lavagem de dinheiro por meio de casas de bingo
e máquinas caça-níqueis, mas a
oposição pretende transferir o foco para o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil
Waldomiro Diniz. Ele era o braço-direito de José Dirceu e foi flagrado cobrando propina de um
empresário de jogos em 2002,
quando presidia a Loterj, na gestão Benedita da Silva no Rio.
A apresentação do requerimento foi uma derrota flagrante do
governo. As 40 assinaturas conseguidas pelo relator -depois houve quatro desistências, o que dá o
saldo de 36- suplantam as 27 necessárias e foram resultado de intensa mobilização, principalmente da senadora Heloísa Helena
(ex-PT, hoje sem partido).
A senadora se uniu ao autor do
pedido, Magno Malta (PL-ES), e
colheu a assinatura de sete senadores, inclusive do presidente nado PFL, Jorge Bornhausen (SC).
O líder do PL adiou em dois dias
a apresentação do requerimento
enquanto conversava com o PT,
que o pressionava para não protocolá-lo. Nesse intervalo, Malta
também chegou a conversar com
Sarney sobre assuntos de interesse de seu Estado, o Espírito Santo.
Segundo o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN),
uma folha contendo assinaturas
sumiu no processo de coleta. Heráclito Fortes (PFL-PI), que estava
na lista desaparecida, foi chamado pelo líder e assinou novamente, "para não haver dúvidas".
O grande ausente foi o presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), que alegou uma
reunião da ABL (Academia Brasileira de Letras) no Rio para sair do
ambiente tumultuado de ontem.
A primeira batalha para a instalação da comissão foi justamente
a coleta de assinaturas, e o governo perdeu. As batalhas seguintes
são a decisão do presidente do Senado de acatá-las ou não, a manifestação da CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça) sobre haver ou não fato determinado e
prazo determinado e a apresentação ou não dos membros.
O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), disse que falou com
Sarney por telefone e ele disse que
também não pretende indicar integrantes. Mas, como Sarney vinha insinuando que não se empenharia para enterrar a CPI e o resultado da CCJ é uma incógnita,
os líderes dos partidos aliados
correram para negar a indicação.
Na prática, uma CPI para funcionar necessita de 15 membros.
Na CPI dos Bingos, o PSDB e o
PFL indicam 5, o PMDB indica 4,
o bloco PT/PSB/PTB/PL também
indica 4, o PDT, 1, e o PPS, 1. Como o PMDB e o bloco em que está
o PT não indicariam os membros,
ficariam faltando 8 dos 15. Com
isso, a CPI não funcionaria.
"O episódio mostra que o PT
tem longa história de gerar crises,
mas nenhuma experiência em debelá-las", ironizava o senador Siqueira Campos (TO), o mais governista do oposicionista PSDB.
Da bancada do PT, mantiveram
a assinatura Eduardo Suplicy
(SP), Serys Slhessarenko (MT),
Flávio Arns (PR) e Cristovam
Buarque (DF). Retiraram Tião
Viana (AC), Sibá Machado (AC) e
Ana Júlia Carepa (PA). Além deles, mais um governista retirou,
Hélio Costa (PMDB-MG).
De acordo com a nota, os líderes
"entendem não ser necessária a
realização de uma investigação
política (...) no âmbito do Senado". Assinaram Renan Calheiros,
pelo PMDB, Fernando Bezerra,
pelo PTB, João Capiberibe, pelo
PSB, além de Ideli Salvatti, pelo
PT. A leitura do pedido de CPI em
plenário poderá ser hoje ainda ou,
provavelmente, na terça.
A briga pode extrapolar a Casa e
chegar ao STF. A Constituição diz
que CPI é um direito da minoria,
então a oposição pode recorrer à
CCJ e, se derrotada, ao Supremo
para obrigar os demais partidos a
indicarem os integrantes.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Helena passa a noite atrás de assinatura Índice
|