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ANÁLISE
Aliados cobrarão neutralidade de Lula na eleição
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Está sepultada por enquanto a
CPI do caso Waldomiro Diniz e o
governo se acerta com os congressistas aliados para oferecer compensações. A intenção é fazer o
pagamento da forma menos explícita possível, de preferência diluindo as compensações ao longo
dos meses.
O objetivo é evitar a configuração de um toma-lá-dá-cá. A principal fatura a ser paga será a atitude neutra do Palácio do Planalto
nas eleições municipais: PMDB,
PFL, PP e outros partidos cobram
nos bastidores que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva desista
de fazer algumas campanhas em
grandes centros pelo país.
Aliados vão tolerar que o presidente declare seu voto, mas não
que suba em palanques pelas capitais e grandes centros.
"É preciso organizar a convivência", diz o líder do PMDB no
Senado, Renan Calheiros. Segundo ele, o PT terá de ensaiar posições mais neutras nos pleitos municipais de outubro.
"Em Goiás, o PT busca o apoio
do governador Marconi Perillo,
que é do PSDB. Mas o aliado goiano no Senado é Maguito Vilela, do
PMDB. Em Minas Gerais, o peemedebista que deu apoio ao presidente Lula desde sempre foi o
senador Hélio Costa. Só que o PT
parece preferir o apoio e a aliança
com o governador Aécio Neves,
que é tucano. "Às vezes eu brinco
que tem mais doido na coalizão
governista do que chineses em
Pequim", declara Calheiros.
No PFL, a interpretação é semelhante. "A base de apoio do governo é artificial. Se nos agredirem
nas eleições municipais, por que
continuaríamos com boa vontade? O governo volta para cá em
outubro com metade dos votos
que tem hoje. O Planalto sabe que
esta crise não será a última. Outras virão. Eles sempre precisarão
de nós", diz o deputado Antonio
Carlos Magalhães Neto (PFL-BA),
um dos principais aliados do governo na Câmara.
Como ainda falta tempo para a
eleição, o governo operou nos últimos dias para dar sustentação à
operação abafa. Lula tenta retomar uma agenda normal de trabalho. Ontem, assinou um projeto de lei propondo mudanças na
área de construção civil. A iniciativa, afirma o governo, criará 1,4
milhão de empregos.
A idéia é dar argumentos para
os congressistas aliados defenderem o Planalto. Há uma impressão entre os governistas de que
Poder Executivo está paralisado.
Aumenta entre os neolulistas no
Congresso -sobretudo em setores do PMDB e do PFL- a idéia
de que Lula ou alguém do governo teria de propor uma grande
"união nacional" para criar um
clima positivo e "pôr o país para
andar novamente", para usar expressões ouvidas de líderes desses
partidos. Na avaliação das siglas
de centro e centro-direita que ajudam o PT a abafar o escândalo,
quanto mais for possível fazer o
Planalto ficar dependente da ajuda oferecida, melhor.
"Eles estão quase com a síndrome de Estocolmo. Já vejo pessoas
elogiando os adversários de antigamente. Estão ficando apaixonados pelos antigos algozes", resume, de forma irônica, o líder do
PSDB no Senado, Arthur Virgílio
(AM). A "síndrome de Estocolmo" é um fenômeno psicológico
que usa o nome dessa cidade sueca por causa de um assalto a banco lá ocorrido, em 1973. Depois do
episódio, duas reféns se casaram
com dois dos assaltantes.
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