São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

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ANÁLISE

Aliados cobrarão neutralidade de Lula na eleição

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Está sepultada por enquanto a CPI do caso Waldomiro Diniz e o governo se acerta com os congressistas aliados para oferecer compensações. A intenção é fazer o pagamento da forma menos explícita possível, de preferência diluindo as compensações ao longo dos meses.
O objetivo é evitar a configuração de um toma-lá-dá-cá. A principal fatura a ser paga será a atitude neutra do Palácio do Planalto nas eleições municipais: PMDB, PFL, PP e outros partidos cobram nos bastidores que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desista de fazer algumas campanhas em grandes centros pelo país.
Aliados vão tolerar que o presidente declare seu voto, mas não que suba em palanques pelas capitais e grandes centros.
"É preciso organizar a convivência", diz o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros. Segundo ele, o PT terá de ensaiar posições mais neutras nos pleitos municipais de outubro.
"Em Goiás, o PT busca o apoio do governador Marconi Perillo, que é do PSDB. Mas o aliado goiano no Senado é Maguito Vilela, do PMDB. Em Minas Gerais, o peemedebista que deu apoio ao presidente Lula desde sempre foi o senador Hélio Costa. Só que o PT parece preferir o apoio e a aliança com o governador Aécio Neves, que é tucano. "Às vezes eu brinco que tem mais doido na coalizão governista do que chineses em Pequim", declara Calheiros.
No PFL, a interpretação é semelhante. "A base de apoio do governo é artificial. Se nos agredirem nas eleições municipais, por que continuaríamos com boa vontade? O governo volta para cá em outubro com metade dos votos que tem hoje. O Planalto sabe que esta crise não será a última. Outras virão. Eles sempre precisarão de nós", diz o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), um dos principais aliados do governo na Câmara.
Como ainda falta tempo para a eleição, o governo operou nos últimos dias para dar sustentação à operação abafa. Lula tenta retomar uma agenda normal de trabalho. Ontem, assinou um projeto de lei propondo mudanças na área de construção civil. A iniciativa, afirma o governo, criará 1,4 milhão de empregos.
A idéia é dar argumentos para os congressistas aliados defenderem o Planalto. Há uma impressão entre os governistas de que Poder Executivo está paralisado.
Aumenta entre os neolulistas no Congresso -sobretudo em setores do PMDB e do PFL- a idéia de que Lula ou alguém do governo teria de propor uma grande "união nacional" para criar um clima positivo e "pôr o país para andar novamente", para usar expressões ouvidas de líderes desses partidos. Na avaliação das siglas de centro e centro-direita que ajudam o PT a abafar o escândalo, quanto mais for possível fazer o Planalto ficar dependente da ajuda oferecida, melhor.
"Eles estão quase com a síndrome de Estocolmo. Já vejo pessoas elogiando os adversários de antigamente. Estão ficando apaixonados pelos antigos algozes", resume, de forma irônica, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). A "síndrome de Estocolmo" é um fenômeno psicológico que usa o nome dessa cidade sueca por causa de um assalto a banco lá ocorrido, em 1973. Depois do episódio, duas reféns se casaram com dois dos assaltantes.


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