São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Diretor interino da Polícia Civil do Distrito Federal diz que solicitação de fita por policiais se referia a uma investigação por latrocínio

Há outras fitas de Waldomiro, diz servidor

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-chefe da vigilância do Aeroporto de Brasília Carlos Braga afirmou ontem à Polícia Federal que o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz foi monitorado e teve imagens gravadas em mais de uma ocasião, em dias diferentes, no aeroporto.
Até agora, apenas uma gravação em que Waldomiro aparece no aeroporto da cidade veio a público: ele recebe uma sacola do empresário de loterias, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. À época, Waldomiro atuava no governo Benedita da Silva (PT-RJ).
A divulgação dessa fita junto com as imagens gravadas em 2002 no escritório de Cachoeira -em que Waldomiro pede propina ao empresário- abalaram o governo federal e obrigaram o ex-assessor a pedir exoneração do cargo em 13 de fevereiro.
A PF não sabe onde estão essas eventuais outras fitas nem quem ordenou essas outras filmagens.
Braga confirmou que as imagens do aeroporto já divulgadas foram feitas a pedido de três homens, que se apresentaram como policiais civis do Distrito Federal. Eles solicitaram o monitoramento específico de Waldomiro e de Cachoeira em 20 de maio de 2002.
Os três policiais também não foram identificados, segundo a PF.
Os homens se apresentaram como policiais civis, mas não foram interrogados pelos funcionários da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) que cuidam do sistema de vigilância. Os servidores têm o costume, segundo o depoimento de Braga, de não fazer muitas perguntas. Apenas gravam o que lhes é pedido e entregam o material a policiais identificados.
O diretor interino da Polícia Civil brasiliense, Celso Ferro, nega envolvimento da instituição no caso. Ontem, ele se encontrou com o delegado Antônio César Fernandes Nunes, da PF, que apura crime eleitoral e corrupção ativa e passiva supostamente praticados por Waldomiro.
Segundo Ferro, a gravação do dia 20 que a polícia teria pedido se refere a uma investigação sobre latrocínio (roubo seguido de morte). "Essa filmagem de investigação de latrocínio não tem nada a ver com o que apareceu na TV [encontro de Waldomiro com Cachoeira]." A afirmação do diretor interino diverge do depoimento dado por Braga. Segundo ele, os homens que se apresentaram como policiais civis indicaram Waldomiro e Cachoeira no sistema de vigilância e pediram o monitoramento de seus passos.
Braga disse que houve um procedimento atípico em relação à fita solicitada pelos policiais civis no Aeroporto de Brasília. Em 5 de junho de 2002, o agente Gilson Simões Ramos Filho assinou um "termo de cautela" e retirou a gravação original. A praxe, segundo o ex-chefe de vigilância, é repassar uma cópia e manter a matriz no arquivo por um período de 30 dias e depois reutilizá-la.
Após colher o depoimento de Braga, Nunes afirmou que há "indícios de que policiais civis participaram da gravação da fita no aeroporto". Depois de uma reunião com Ferro, o delegado da PF foi mais cauteloso. "O único dado que temos é que um policial civil assinou uma cautela de uma fita com as imagens daquele dia."


Colaborou LUIS RENATO STRAUSS, da Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Outro lado: Advogado diz que Benedita não sabia de operações
Próximo Texto: Waldomiro omite seu patrimônio à Polícia Federal
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.