São Paulo, sábado, 05 de março de 2005

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HERANÇA E OMISSÃO

Ex-presidente do BNDES diz nunca ter detectado corrupção

Lessa nega ser "companheiro" citado por Lula em acusação

ANA PAULA GRABOIS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Após prestar um depoimento de quatro horas no Ministério Público Federal no caso que investiga a privatização da Eletropaulo, o ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) Carlos Lessa disse achar que não foi o interlocutor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma conversa sobre suposta corrupção no governo passado, relatada por Lula em discurso na semana passada.
"Eu acho que não sou", disse. "Em nenhum momento, o senhor presidente da República me sugeriu que jogasse poeira debaixo do tapete ou não falasse sobre nenhuma questão. Eu não recebi em nenhum momento nem insinuação do senhor presidente nesse sentido. Razão pela qual não sou eu a pessoa do discurso, porque nunca o presidente me falou isso", afirmou Lessa.
Em um discurso feito na semana passada em Jaguaré (ES), Lula disse que, em 2003, um "alto companheiro" lhe informara que uma instituição estaria falida por causa de corrupção nas privatizações. No discurso, Lula disse não ter denunciado os casos para não transmitir uma mensagem negativa de determinadas "instituições da República" ao país e ao exterior.
O ex-presidente do banco afirmou ainda nunca ter detectado nem sinais de corrupção no banco nem de falência da instituição.
Ele foi ao depoimento acompanhado do atual diretor da área de crédito do BNDES, Roberto Timótheo da Costa, que também foi diretor-financeiro do banco na gestão de Lessa e o principal negociador do acordo que resolveu a dívida de US$ 1,2 bilhão do grupo americano AES relativa à privatização da Eletropaulo.
"Desde o primeiro momento [no cargo], eu disse que estava recebendo uma porção de esqueletos, mas nunca disse que o BNDES estava em situação de falência. Se dissesse isso, seria um idiota porque eu estaria dizendo que o governo federal está quebrado, como também não vou ser leviano de dizer que Fulano é corrupto sem ter provas."

Apressado
Para Lessa, o processo de privatização no Brasil nos anos 90 foi "pouco pensado" e marcado por contratos que deixavam o banco numa "situação frágil". "O processo no Brasil foi muito açodado", disse, citando o caso ainda pendente da privatização da Cemig. O consórcio Southern, cujo principal sócio é a AES, deve US$ 700 milhões ao BNDES pela compra de um terço da empresa.
Sobre as gestões passadas, o ex-presidente do banco sugeriu apenas que havia um medo de negociar um acordo com a AES sobre a Eletropaulo para evitar declarar prejuízo. Por isso, disse, as gestões anteriores teriam rolado a dívida.
"Quando nós declaramos o prejuízo, o grupo começou a negociar conosco mais a sério. Porque eles viram que não íamos nos deter com medo de declarar o prejuízo. Acho que antes o BNDES tinha medo de encaixar o prejuízo, mas isso não posso afirmar."
Sobre um possível socorro do BNDES à Light, maior distribuidora de energia do Rio de Janeiro, Lessa disse ser contrário.
"Sou contra socorrer empresas que não adotem as normas de boa governança. A Light não adotou as normas ainda. Se o operador está funcionando mal, tem de lançar mão de todos os procedimentos que o poder público dispõe."


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