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HERANÇA E OMISSÃO
Ex-presidente
do BNDES diz nunca ter detectado corrupção
Lessa nega ser "companheiro" citado por Lula em acusação
ANA PAULA GRABOIS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Após prestar um depoimento
de quatro horas no Ministério Público Federal no caso que investiga a privatização da Eletropaulo,
o ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) Carlos Lessa
disse achar que não foi o interlocutor do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva em uma conversa
sobre suposta corrupção no governo passado, relatada por Lula
em discurso na semana passada.
"Eu acho que não sou", disse.
"Em nenhum momento, o senhor
presidente da República me sugeriu que jogasse poeira debaixo do
tapete ou não falasse sobre nenhuma questão. Eu não recebi em
nenhum momento nem insinuação do senhor presidente nesse
sentido. Razão pela qual não sou
eu a pessoa do discurso, porque
nunca o presidente me falou isso", afirmou Lessa.
Em um discurso feito na semana passada em Jaguaré (ES), Lula
disse que, em 2003, um "alto companheiro" lhe informara que uma
instituição estaria falida por causa
de corrupção nas privatizações.
No discurso, Lula disse não ter denunciado os casos para não transmitir uma mensagem negativa de
determinadas "instituições da República" ao país e ao exterior.
O ex-presidente do banco afirmou ainda nunca ter detectado
nem sinais de corrupção no banco nem de falência da instituição.
Ele foi ao depoimento acompanhado do atual diretor da área de
crédito do BNDES, Roberto Timótheo da Costa, que também foi
diretor-financeiro do banco na
gestão de Lessa e o principal negociador do acordo que resolveu
a dívida de US$ 1,2 bilhão do grupo americano AES relativa à privatização da Eletropaulo.
"Desde o primeiro momento
[no cargo], eu disse que estava recebendo uma porção de esqueletos, mas nunca disse que o
BNDES estava em situação de falência. Se dissesse isso, seria um
idiota porque eu estaria dizendo
que o governo federal está quebrado, como também não vou ser
leviano de dizer que Fulano é corrupto sem ter provas."
Apressado
Para Lessa, o processo de privatização no Brasil nos anos 90 foi
"pouco pensado" e marcado por
contratos que deixavam o banco
numa "situação frágil". "O processo no Brasil foi muito açodado", disse, citando o caso ainda
pendente da privatização da Cemig. O consórcio Southern, cujo
principal sócio é a AES, deve US$
700 milhões ao BNDES pela compra de um terço da empresa.
Sobre as gestões passadas, o ex-presidente do banco sugeriu apenas que havia um medo de negociar um acordo com a AES sobre a
Eletropaulo para evitar declarar
prejuízo. Por isso, disse, as gestões
anteriores teriam rolado a dívida.
"Quando nós declaramos o prejuízo, o grupo começou a negociar conosco mais a sério. Porque
eles viram que não íamos nos deter com medo de declarar o prejuízo. Acho que antes o BNDES tinha medo de encaixar o prejuízo,
mas isso não posso afirmar."
Sobre um possível socorro do
BNDES à Light, maior distribuidora de energia do Rio de Janeiro,
Lessa disse ser contrário.
"Sou contra socorrer empresas
que não adotem as normas de boa
governança. A Light não adotou
as normas ainda. Se o operador
está funcionando mal, tem de lançar mão de todos os procedimentos que o poder público dispõe."
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