FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), afirmou ontem em Recife que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em dívida com o PP, em virtude do apoio dado pelo partido ao governo.
"O PP foi o partido que mais deu apoio ao presidente Lula", afirmou. "Quem está devendo não é o PP, é o Lula", declarou. "Se ele vai cumprir o débito que ele sabe que tem com o partido, é um problema do PT com o presidente", disse, referindo-se à reforma ministerial.
Severino disse que não precisará do apoio do governo. "Só preciso de compreensão, para que o Poder Legislativo seja respeitado", afirmou. "Respeitando [o Legislativo], o presidente da República terá tudo o que precisar para governar."
O mesmo discurso foi adotado pelo presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa. Segundo ele, a bancada do partido na Câmara "não faz mais questão" de um ministério depois que ganhou a presidência. "Com a presidência da Câmara você manda em tudo." Corrêa disse que o PP abandonará a posição de "independência" caso aceite eventual proposta para o primeiro escalão.
Dois ministros estiveram com Severino: Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia). Aldo ouviu as declarações de Severino e disse que o governo federal sabe que tem "um compromisso" com o PP. Mas negou que o governo esteja sendo pressionado.
O ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP), presente à festa, disse que Lula terá "sorte" se "convocar gente do nosso partido" para o ministério. Citou os nomes de Afonso Celso Pastore, Francisco Dornelles e Delfim Netto. Maluf reclamou das políticas econômica e tributária e disse que o presidente mudou tanto que, comparado com Lula, se considerava "um comunista". Severino endossou as críticas e classificou de "retrocesso" a Medida Provisória 232, que aumenta a carga tributária. Disse que vai fazer "de tudo" para ela não ser aprovada.
Opositor declarado do homossexualismo, o presidente da Câmara disse que, na presidência da Casa, passará a ter "carinho" com eles. O mesmo afeto ele não demonstrou em relação ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Renan foi chamado ontem de descortês.

Festa
Ao som do hino de Pernambuco e escoltado por guerreiros do maracatu, Severino foi recebido com festa ontem no aeroporto de Recife, em sua primeira visita ao Estado desde a eleição para o comando da Casa. Cerca de 200 pessoas o aplaudiram no saguão. Severino parou em frente à banda Cavalcanti Júnior, que veio de sua cidade natal, João Alfredo (115 km de Recife), para homenageá-lo. Ouviu então uma de suas músicas preferidas, a marchinha "Bandeira Branca". Seus olhos se encheram de lágrimas.


Texto Anterior: Maguito recua, e PSDB retira representação
Próximo Texto: Panorâmica - Campo minado: MST saqueia armazém em Maceió, diz PF
Índice