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JANIO DE FREITAS
Os irmãos eram melhores
Seja Alckmin ou Serra,
o candidato do PSDB não
precisa se preocupar muito com
Lula: suas maiores dificuldades
estão em si mesmos e no PSDB.
O desgaste que os dois sofrem,
sobretudo Serra, por efeito do
impasse desinteligente na cúpula
partidária, já é mais enfraquecedor para o futuro candidato
do que a propalada recuperação
de Lula.
Não me lembro de uma operação de escolha de candidato tão
desastrada quanto essa que Fernando Henrique Cardoso e Tasso
Jereissati produzem. Criaram a
necessidade infundada de pressa
sem, no entanto, terem condições
de encaminhar com brevidade a
solução entre os pretendentes.
Atribuíram-se o poder arbitrário
de dizer "é este", e seu poder não
resistiu nem à indiferença com
que Alckmin seguiu e segue seu
roteiro. Ou seja, Fernando Henrique e Jereissati, mesmo que se
desconsiderem as libações públicas, fizeram tudo o que não deve
ser feito em política.
Alckmin tem um problema.
Serra tem vários. Originário de
uma corrente partidária avessa à
do comando peessedebista nos últimos dez anos, Alckmin suscita
nesses expoentes o medo, muito
justificado, de que sua eleição levaria à criação de novo predomínio no PSDB, sem Fernando Henrique, Jereissati e outros enólogos.
Essa é a vantagem que Serra tem.
Dizê-lo preferido, propriamente,
seria exagero, mas sua convivência mal-humorada com Fernando Henrique e Jereissati não deixa de ser convivência, até com alguma submissão útil. Problemas,
porém, não lhe faltam.
Quando Serra se lançou à prefeitura de São Paulo, dizia aqui o
artigo "A mudança do reformista" em 23 de maio de 2004: "A lucidez da candidatura de José Serra a prefeito é pelo menos discutível. Em mais dois anos, estaria
em situação privilegiada para escolher entre duas possibilidades
expressivas: a candidatura ao governo paulista, como representante do bem cotado governo
Alckmin, ou a candidatura de
oposição à Presidência. Neste caso, com perspectivas que o governo Lula vai tornando cada vez
mais promissoras, e nada sugere
que o cenário passe por alteração
radical até 2006".
"Serra fez a escolha menor. Se
vencer, dificilmente teria condições políticas para abandonar a
prefeitura com apenas um ano de
mandato e concorrer à Presidência. Se perder, terá esvaziado
muito, talvez sem remédio, a posição excepcional de provável pólo dos eleitores que se sentem ludibriados, aos quais se somariam
os naturalmente seus. Uma senhora massa de votos."
Não foi, convenhamos, um artigo muito idiota. Passados dois
anos, os fatos estão aí. Serra venceu, mas o que perdeu não foi
menor. Hoje tem a perspectiva da
candidatura presidencial promissora, e não sabe se vai ou se fica,
porque até agora não sabe como
fazer para ir nem o que lhe custará a renúncia que renegara.
Mais ainda, se sair candidato,
Serra volta ao problema que o sufocou na disputa com Lula, quando era gritante a ansiedade do
eleitorado por uma política econômica ativa e positiva, e Serra
fugiu ao tema por seu compromisso com Fernando Henrique.
Caso seja agora o "escolhido" de
Jereissati e Fernando Henrique,
estará diante da mesma ansiedade do eleitorado e do mesmo
comprometimento com seu indicador Fernando Henrique, que já
determina a corrupção como mote do candidato peessedebista. O
que e como Serra poderá fazer na
campanha, eis outra de suas
questões indigestas.
De tudo, fica uma evidência.
Há pelo menos dois anos, o atual
cenário político e eleitoral podia
ser vislumbrado, e nem se presumia a sociedade do comando petista/governista com Marcos Valério & cia. Os expoentes do PSDB
não o viram. Seu entupimento
atual foi plantado àquela altura
e agora é apenas agravado com
requintes de inabilidade política
incomparável. E que não será
atenuada por possível decisão de
Serra pela candidatura, porque
ninguém sabe o que Alckmin diz,
exatamente, com os repetidos
avisos de que a decisão de Serra
não o afasta da disputa, como
pensam os eleitores exclusivos
Fernando Henrique, Jereissati e
Aécio Neves.
Os irmãos Marx também eram
três, mas faziam pastelão inteligente.
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