São Paulo, quinta-feira, 05 de março de 2009

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Collor derrota PT com apoio de Sarney e bênção de Lula

Senador vai comandar Comissão de Infraestrutura, que fiscaliza obras do PAC

Vitória do ex-presidente é resultado das negociações feitas em fevereiro para a eleição do peemedebista à presidência do Senado


Lula Marques/Folha Imagem
No sentido horário, Collor, Mercadante, Renan e Agripino, na eleição para comandar comissão

ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com apoio do presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), e a anuência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Fernando Collor (PTB-AL) venceu ontem a disputa pelo comando da Comissão de Infraestrutura do Senado, que irá acompanhar e fiscalizar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) -principal bandeira do governo para o lançamento da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à sucessão presidencial.
Collor derrotou por 13 votos a 10 a senadora Ideli Salvatti (SC), líder do PT até este ano. O principal articulador de sua vitória foi Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado.
Os dois aliados de Collor já foram seus adversários. Sarney foi o principal alvo de seus ataques quando este disputou a Presidência, em 1989. Na época, Collor acusava o presidente de ser uma "força corruptora".
Renan foi líder do governo Collor na Câmara em 1990, mas os dois romperam porque o então presidente não apoiou a candidatura de Renan ao governo de Alagoas. Em 1992, ele foi um dos acusadores de Collor na CPI sobre PC Farias. Após sofrer um processo de impeachment, Collor renunciou.
Indagado se a vitória de ontem seria "uma volta por cima", ele afirmou que significa "uma volta com os pés no chão".
Apagado nos dois primeiros anos de seu mandato, Collor apresentou duas propostas de emenda à Constituição e três projetos de lei. Ficou oito meses de licença por questões de saúde e para acompanhar campanhas políticas em Alagoas.
Na reunião, o ex-presidente embargou a voz ao responder crítica do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), que questionou o fato de Collor ter requisitado licenças nos dois anos de Senado. "Não posso aceitar esse tipo de ironia. Sou um homem bastante sofrido... Aprendi a ser cordial, mas não está apagada dentro de mim a vontade de fazer o debate com coragem."
A vitória de Collor resultou das articulações que fizeram Sarney bater Tião Viana (PT-AC) na disputa pela presidência do Senado. Membro da base aliada, o PTB apoiou o peemedebista, mas pediu o comando de uma comissão importante.
Tradicionalmente, a distribuição das comissões é feita segundo o tamanho das bancadas. O PTB, que tem a quinta maior bancada, só teria o direito de fazer a quinta escolha. Por isso o PT, quarta maior bancada, criticou a candidatura de Collor. "É uma aliança espúria entre o senador Renan Calheiros e o senador Fernando Collor que interferiu no direito legítimo, democrático, da bancada do PT", disse Aloizio Mercadante, líder do PT. Collor rebateu: "Espúria ele vá procurar saber onde vai achar. Foi um acordo inteiramente aberto".
Como presidente de comissão, Collor terá poder para convocar reuniões, definir a pauta de votações e indicar relatores de projetos. Seu antecessor foi Marconi Perillo (PSDB-GO), que articulou a convocação de Dilma para depor sobre o dossiê de gastos da era FHC.
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio (PTB-PE), elogiou a eleição de Collor. "É um homem com experiência. Depois de todos os episódios que ele viveu e sofreu, passando muitos anos sem ter uma posição de destaque, acho que a eleição chega em boa hora."
Collor responde a processos no STF por crimes contra a ordem tributária, corrupção ativa e passiva, peculato e tráfico de influência. Algumas ações prescreveram ou foram arquivadas.


Colaboraram MARIA CLARA CABRAL e LUCAS FERRAZ , da Sucursal de Brasília.


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