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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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PROJETO PETISTA

No Pará, presidente afirma estar criando os alicerces para 20 anos

Lula diz que 4 anos é pouco para fazer "o que sonhava"

Carlos Silva/Imapress
O presidente Lula visita instalações de linha de produção da Alunorte, em Barcarena, no Pará


KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BARCARENA (PA)

Faltando apenas seis dias para completar cem dias de governo, o presidente Luiz Inácio Luiz Lula da Silva disse ontem, durante discurso para uma platéia de empresários e trabalhadores da Companhia Vale do Rio Doce, em Barcarena (60 km de Belém, no Pará), estar convencido de que em quatro anos de mandato não realizará os projetos que sonha para o país. Mas que o Brasil começa a ser pensado diferente.
"Estou convencido de que em apenas quatro anos [o mandato vai até 2006] a gente não vai conseguir fazer grande coisa que a gente sonhava fazer, mas estou convencido de que o alicerce será feito de tal forma que a gente possa construir vários andares a partir daí", afirmou o presidente.
Segundo ele, "o Brasil dará certo no dia em que nós tivermos competência para planejarmos o Brasil para os próximos 20 e 30 anos. Se nós não formos gananciosos e pensarmos apenas que o Brasil é de cada um de nós. O Brasil não é do Lula, o Lula é que é do Brasil".
Lula foi a Barcarena inaugurar uma nova linha de produção de alumina (matéria-prima básica na fabricação do alumínio) da Alunorte (Alumina do Norte do Brasil), empresa do grupo CVRD.
O petista chegou à cidade às 12h15 e discursou das 13h50 às 14h45. Depois, ele almoçou e foi de helicóptero para Belém, onde chegou às 16h15.
O presidente estava acompanhado dos ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Dilma Rousseff (Minas e Energia) e do governador Simão Jatene (PSDB-PA).
Leia a seguir trechos do discurso de Lula em Barcarena:
 

20 ANOS - "Não é possível que o Brasil continue sendo pensado de eleição em eleição. Eu descobri que o papel do governo é o de planejar e quem sabe, em muitos casos, o de ser o incentivador. É preciso levar a sério o desenvolvimento da região, o que pensam os políticos, os empresários, a igreja, os trabalhadores, as igrejas, para que a partir desse acúmulo de informações se possa estabelecer um modelo de desenvolvimento.
Eu digo sempre que o Brasil dará certo no dia em que a classe política não pensar apenas no seu mandato. O Brasil dará certo no dia em que nós tivermos competência para planejarmos o Brasil para os próximos 20 e 30 anos. Se nós não formos gananciosos e pensarmos apenas que o Brasil é de cada um de nós. O Brasil não é do Lula, o Lula é que é do Brasil."

REFORMAS - "Imaginem vocês, se nós não fizermos a reformas tributária e previdenciária neste ano. No ano que vem, não faremos. Por que não faremos? Porque temos eleições para prefeitos em todas as cidades brasileiras e todos, sem distinção, estarão envolvidos na campanha eleitoral. E, se não fizermos neste ano, também não faremos em 2005 porque a eleição de 2006 estará na cabeça de todo mundo. Então, nós não temos muito tempo. Talvez a reforma tributária não seja perfeita, mas ela será a mais justa já feita nesse país. Ela terá o princípio da justiça social: vai pagar mais quem tem mais. Ela terá como objetivo desonerar aquelas [empresas] que investem na geração de empregos e exportações para que o governo possa cobrar de outros setores da economia."

ARGENTINA - Em outro ponto do discurso, Lula respondeu aos que achavam que a economia brasileira viraria uma Argentina ou Venezuela: "Nós temos consciência de que o pior já passou na economia brasileira. E tem gente até hoje que não está satisfeito [em ver] que as coisas estão melhorando. Tem gente que achava que eu ia transformar o Brasil numa Argentina ou numa Venezuela. Qualquer que fosse o governo, o Brasil jamais seria uma Argentina ou uma Venezuela porque o Brasil já deu razões de sobra que tem capacidade de se recuperar por pior que seja o governante".

DÓLAR - "No final do ano, o dólar estava a R$ 4, o risco Brasil estava em quase 2.400 [pontos]. O dólar está caindo tanto que já começa [a ter] companheiro nosso [a] dizer: "Não pode cair, precisa parar por aí". O governo não vai segurar, o câmbio é flutuante, e o dólar vai cair até quando tiver que cair. Não cabe ao governo dizer que vai parar em R$ 2 ou R$ 3, não. Não venha você amanhã reclamar comigo [Lula se referia ao presidente da Vale, Roger Agnelli]. Nunca vi na história do Brasil um otimismo que estamos vivendo hoje. E bastou apenas uma viagem, uma única só, para mostrar que o Brasil está diferente."

CASTIGO - "[O] castigo [do Brasil é" um determinado setor da classe política brasileira, mas o povo vai consertar. Eu acho que Deus de vez em quando castiga um pouco o Brasil. Nós temos um país abençoado por Deus. Onde é que está o castigo? Num determinado setor da classe política brasileira, que eu, que o povo vai consertar. Não tenho dúvidas de que o povo está apreendendo a escolher, a medir, pesquisar o trabalho de cada um, para que possa um dia ter uma sociedade melhor."


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