São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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ABI chega aos 100 anos com dívida e busca revitalização

Apesar de crise, associação voltou a influir nas discussões sobre liberdade de imprensa

Para Maurício Azedo, que é presidente da entidade e comanda renovação, defesa do direito à informação é a prioridade da instituição

MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO

A Associação Brasileira de Imprensa, que na próxima segunda-feira completa cem anos de atividades, ainda não se recuperou totalmente do sufoco que vem passando desde os anos 90 com o excesso de dívidas e a falta de recursos, mas voltou a ter voz ativa nas discussões nacionais sobre liberdade de imprensa, como ocorreu recentemente durante os protestos contra uma série de ações movidas por fiéis da Igreja Universal contra três jornais e quatro jornalistas.
Segundo seu presidente, Maurício Azedo, responsável, desde 2003, pelo processo de revitalização da entidade, a defesa do direito à informação é a prioridade da instituição.
"Apesar de nos encontrarmos sob o império de uma Constituição democrática, a liberdade de informação e opinião está submetida a um cerco como demonstram iniciativas com a da Igreja Universal contra a Folha, Elvira Lobato, o "Extra" e "A Tarde". Há também o cerco resultante de dois aspectos do Poder Judiciário. Primeiro, a acolhida que dá àquilo que tem sido chamado de indústria do dano moral. E também o hábito de juízes determinarem a instituição de censura prévia que a Constituição veda", disse Azedo.

Dívidas
Internamente, o grande desafio é de gestão. A associação recorre na Justiça de uma dívida de R$ 3,2 milhões gerada com a perda do registro de entidade beneficente de assistência social e o descumprimento da obrigação de recolher a contribuição previdenciária patronal. Em busca de uma solução para o problema, a ABI recorreu até ao presidente Lula.
A Associação de Imprensa, assim foi o seu primeiro nome, foi criada em 1908 por um grupo de jornalistas liderados pelo catarinense Gustavo de Lacerda (1854-1909) com o objetivo de ser uma entidade assistencialista. Sua história, porém, acabou marcada pelas intervenções cívicas que empreendeu em defesa da liberdade de imprensa e na proteção a jornais e jornalistas perseguidos por governos autoritários.
Três presidentes se destacaram na luta contra a censura, o empastelamento de jornais e as prisões de jornalistas: Herbert Moses (1884-1972) -durante o governo Vargas- e Prudente de Moraes, neto (1904-1977) e Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000) -ao longo da ditadura militar (1964-1985) e da transição para a democracia.
Prudente de Moraes, neto abriu a ABI para o ato multirreligioso em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, morto em 25 de outubro de 1975 no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo.
Quase um ano depois, um atentado terrorista explodiu uma bomba no sétimo andar da sede da associação, no centro do Rio. Outra bomba foi encontrada e desarmada no prédio, em 27 de agosto de 1980, no mesmo dia em que explodiram dois artefatos na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e na Câmara Municipal do Rio.

Lutas externas
Barbosa Lima Sobrinho comprometeu a ABI com as lutas contra a Lei de Segurança Nacional, a favor de uma assembléia nacional constituinte, a favor da anistia ampla, geral e irrestrita (1979), na campanha das Diretas-Já (1983) pelo retorno de eleições diretas para presidente da República e, em 1992, liderou o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
A gestão de Barbosa Lima Sobrinho foi marcada por essa forte presença externa da ABI e por uma gestão administrativa cheia de problemas que levaram a entidade, nos anos seguintes, a praticamente só ter condições de cuidar das dívidas que acumulou, descuidando da administração e da relação com os associados. A ABI tem hoje um fichário desatualizado de 8.000 sócios, mas apenas pouco mais de mil estão em dia.
As comemorações do centenário começaram no dia 1º com um concerto com obras de Heitor Villa-Lobos no Palácio Itamaraty, no Rio (veja outras homenagens no quadro ao lado).


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