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ABI chega aos 100 anos com dívida e busca revitalização
Apesar de crise, associação voltou a influir nas discussões sobre liberdade de imprensa
Para Maurício Azedo, que é
presidente da entidade e
comanda renovação, defesa
do direito à informação é a
prioridade da instituição
MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO
A Associação Brasileira de
Imprensa, que na próxima segunda-feira completa cem anos
de atividades, ainda não se recuperou totalmente do sufoco
que vem passando desde os
anos 90 com o excesso de dívidas e a falta de recursos, mas
voltou a ter voz ativa nas discussões nacionais sobre liberdade de imprensa, como ocorreu recentemente durante os
protestos contra uma série de
ações movidas por fiéis da Igreja Universal contra três jornais
e quatro jornalistas.
Segundo seu presidente,
Maurício Azedo, responsável,
desde 2003, pelo processo de
revitalização da entidade, a defesa do direito à informação é a
prioridade da instituição.
"Apesar de nos encontrarmos sob o império de uma
Constituição democrática, a liberdade de informação e opinião está submetida a um cerco
como demonstram iniciativas
com a da Igreja Universal contra a Folha, Elvira Lobato, o
"Extra" e "A Tarde". Há também
o cerco resultante de dois aspectos do Poder Judiciário.
Primeiro, a acolhida que dá
àquilo que tem sido chamado
de indústria do dano moral. E
também o hábito de juízes determinarem a instituição de
censura prévia que a Constituição veda", disse Azedo.
Dívidas
Internamente, o grande desafio é de gestão. A associação
recorre na Justiça de uma dívida de R$ 3,2 milhões gerada
com a perda do registro de entidade beneficente de assistência
social e o descumprimento da
obrigação de recolher a contribuição previdenciária patronal.
Em busca de uma solução para
o problema, a ABI recorreu até
ao presidente Lula.
A Associação de Imprensa,
assim foi o seu primeiro nome,
foi criada em 1908 por um grupo de jornalistas liderados pelo
catarinense Gustavo de Lacerda (1854-1909) com o objetivo
de ser uma entidade assistencialista. Sua história, porém,
acabou marcada pelas intervenções cívicas que empreendeu em defesa da liberdade de
imprensa e na proteção a jornais e jornalistas perseguidos
por governos autoritários.
Três presidentes se destacaram na luta contra a censura, o
empastelamento de jornais e as
prisões de jornalistas: Herbert
Moses (1884-1972) -durante o
governo Vargas- e Prudente
de Moraes, neto (1904-1977) e
Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000) -ao longo da ditadura
militar (1964-1985) e da transição para a democracia.
Prudente de Moraes, neto
abriu a ABI para o ato multirreligioso em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, morto
em 25 de outubro de 1975 no
DOI-Codi (Destacamento de
Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa
Interna), em São Paulo.
Quase um ano depois, um
atentado terrorista explodiu
uma bomba no sétimo andar da
sede da associação, no centro
do Rio. Outra bomba foi encontrada e desarmada no prédio,
em 27 de agosto de 1980, no
mesmo dia em que explodiram
dois artefatos na OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) e na
Câmara Municipal do Rio.
Lutas externas
Barbosa Lima Sobrinho comprometeu a ABI com as lutas
contra a Lei de Segurança Nacional, a favor de uma assembléia nacional constituinte, a
favor da anistia ampla, geral e
irrestrita (1979), na campanha
das Diretas-Já (1983) pelo retorno de eleições diretas para
presidente da República e, em
1992, liderou o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
A gestão de Barbosa Lima Sobrinho foi marcada por essa
forte presença externa da ABI e
por uma gestão administrativa
cheia de problemas que levaram a entidade, nos anos seguintes, a praticamente só ter
condições de cuidar das dívidas
que acumulou, descuidando da
administração e da relação com
os associados. A ABI tem hoje
um fichário desatualizado de
8.000 sócios, mas apenas pouco mais de mil estão em dia.
As comemorações do centenário começaram no dia 1º com
um concerto com obras de Heitor Villa-Lobos no Palácio Itamaraty, no Rio (veja outras homenagens no quadro ao lado).
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