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QUESTÃO AGRÁRIA
Para presidente, essencial é defender o Estado de Direito
FHC afirma que vai usar
Exército "se necessário"
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que,
"se for necessário", usará o Exército para reprimir ações violentas
de grupos organizados, como a
desocupação de prédios públicos
e a liberação de estradas.
A afirmação foi feita pouco depois de ele discursar no Palácio do
Planalto e afirmar que usará "todos os poderes constitucionais de
que dispõe e que foram dados (a
ele) pelo povo para manter a ordem democrática".
"Nós vivemos um momento de
democracia plena e ela exige responsabilidades. Exige portanto
que a liberdade de uns não interfira na liberdade de terceiros. Faremos cumprir a determinação do
povo, que está escrita na Constituição, com prudência e com moderação, mas com firmeza".
Noutro momento, o presidente
disse contar com o apoio "de todos os democratas e de todos os
patriotas" nas ações.
FHC disse que tem reiterado
que "o Brasil cansou da falta de
respeito à liberdade e da transformação da liberdade de uns no
constrangimento de outros". Não
citou especificamente a greve dos
caminhoneiros ou as invasões
promovidas pelos sem-terra, mas
disse que se referia à "semana de
certa tensão" no país.
FHC classificou as invasões como "ações antidemocráticas" baseadas na desordem. Ele disse que
não admitirá que "funcionários
públicos sejam reféns de gente
que faz baderna em nome de uma
causa que em si é justa, mas que
não tem nada a ver com a ação desordenada que prejudica a liberdade daqueles que estão gozando
dos frutos da democracia".
Citando pensadores políticos
que escreveram tratados sobre a
democracia, como John Locke e
Thomas Hobbes (leia texto ao lado), FHC disse que em "qualquer
dos fundamentos básicos da democracia e da existência do Estado há sempre a idéia de que a liberdade deixa de existir quando
não existe uma ordem respeitada,
assumida, aceita e, portanto, legítima".
"Isso implica responsabilidade
no exercício da liberdade", disse.
"Mas a democracia não é só a liberdade. Ela exige o respeito à representação popular (que vai desde a escolha de vereadores ao presidente da República). A democracia exige o respeito à autoridade constituída, porque ela foi
constituída pelo povo -e o respeito à autoridade é o respeito ao
próprio povo".
FHC aproveitou para, novamente, afirmar que o país luta
contra a impunidade e a corrupção. O discurso foi feito após a
sanção da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Democracia
"Na evolução democrática que
nós estamos presenciando, o país
não aceita mais a irresponsabilidade, o mal uso do gasto público",
afirmou FHC.
"O Brasil passa não apenas por
mudanças no sentido econômico
e social, mas de mentalidade e de
valores, porque há um enraizamento crescente da democracia
em nosso país."
Ao falar novamente do "clamor
contra a impunidade e contra a
corrupção" que existe no país,
FHC afirmou que "esse clamor
existe porque este país está cada
vez mais democrático e porque
tem instituições como o governo,
o Congresso, a imprensa, que estão atentas e sintonizadas com esse clamor".
FHC explicou em seguida: "Que
não se enganem aqueles que, ao
verem as denúncias, acreditam
que existe a corrosão do aparelho
de Estado. É o contrário. É porque
existe fortalecimento do aparelho
do Estado pela democracia que é
possível que apareçam as coisas
equivocadas".
O presidente disse que o governo, assim como a população,
"não quer encobrir nada, que
quer sim, punição" àqueles que
desrespeitarem os valores democráticos. "É esse espírito que está
prevalecendo no Brasil. Não é o
da vingança, não é o da impunidade, não é o do escândalo pelo
escândalo. É da vontade de corrigir. E só se corrige na democracia,
só se corrige quando existe liberdade."
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