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REAÇÃO
Governo lança medidas para agilizar a reforma agrária, mas afirma que não vai tolerar a "baderna"
FHC amplia poder da Polícia Federal
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Com o slogan ""reforma agrária sim,
baderna não" -de
autoria do ministro
Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria
Geral)-, o governo anunciou
ontem à noite pacote de medidas
que aumenta o poder da Polícia
Federal contra invasões de terras
e de prédios públicos e, ao mesmo
tempo, tenta agilizar a reforma
agrária. ""O governo não pode tolerar que movimentos sociais descambem no aventureirismo, na
violência, na criminalidade", afirmou o ministro ao resumir as várias reuniões do dia em que o governo resolveu endurecer na relação com o MST.
O governo federal insiste em
que só negociará com os trabalhadores rurais depois da desocupação de prédios públicos e propriedades invadidos.
Os sem-terra também terão de
aceitar negociar com apenas dois
interlocutores do governo, os ministros Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) e José Gregori (Justiça). São essas as condições impostas pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Um balanço apresentado ontem à noite deu o tom das discussões no Palácio do Planalto em
que se cogitou até da intervenção
das Forças Armadas. Foram 14
ocupações de repartições públicas somente nas últimas 72 horas.
""O país assistiu estarrecido ao
movimento extremamente violento e agressivo, uma sequência
de atos de transgressão da ordem
democrática", afirmou Aloysio ao
lançar o pacote contra invasões,
dirigido aos sem-terra. ""As medidas são baseadas na lei, nenhum
milímetro além nem aquém da
lei", disse o ministro José Gregori.
""A nossa postura é o entendimento", completou Jungmann.
Leia a seguir as medidas anunciadas pelo governo federal:
PF MAIS FORTE - Uma das medidas assinadas ontem por Fernando Henrique Cardoso autoriza a Polícia Federal a agir na proteção do patrimônio público, sem
tirar essa responsabilidade das
polícias militares dos Estados.
Será criada uma divisão especial na Polícia Federal para acompanhar os conflitos de terra. Segundo Gregori, todas as pessoas
envolvidas em invasões serão
processadas.
TERRA INVADIDA - Para desestimular a invasão de terras, o
governo vai impedir a sua vistoria
por dois anos. Essa medida bloqueia a desapropriação de terras
invadidas para a reforma agrária.
Em caso de reincidência, o prazo
de congelamento da possibilidade de desapropriação dobra para
quatro anos.
FALSA INVASÃO - Invasões
fraudulentas promovidas pelos
proprietários de terras serão punidas com multas e com o cancelamento da certidão de cadastro.
Sem esse cadastro de imóvel rural, o proprietário fica impedido
de vender as terras ou mesmo de
obter financiamento.
DESCENTRALIZAÇÃO - Por
meio de projeto de lei complementar, o governo federal delegará aos Estados a competência de
promover a reforma agrária em
conjunto com a União, que continuará emitindo TDAs (Títulos da
Dívida Agrária) para pagar as terras desapropriadas.
Para financiar os assentamentos, a União vai transferir aos Estados a arrecadação do ITR (Imposto Territorial Rural), que
atualmente rende cerca de R$ 300
milhões por ano. O dinheiro só
poderá ser usado em reforma
agrária. Os Estados terão de criar
fundos especiais para evitar o
desvio dos recursos.
DESAPROPRIAÇÃO - Fernando Henrique Cardoso também
aumentou para até 50 anos o prazo de resgate das TDAs (hoje de
20 anos) e reduziu a remuneração
paga na transação: os juros de 6%
poderão ser reduzidos para até
1% ao ano, além de correção monetária. Indenizações extras reivindicadas pelos antigos proprietários de terras desapropriadas só
poderão ser pagas após julgamento definitivo.
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