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ABC DA POLÍTICA
Presidente reage a apupos e recebe aplausos ao dizer que esquerda da entidade deveria ser mais propositiva
Lula defende reformas e parte da CUT vaia
PLÍNIO FRAGA
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao defender as reformas previdenciária e tributária, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi
vaiado por cerca de 100 dos 2.000
sindicalistas da Central Única dos
Trabalhadores presentes ao 8º
Congresso Nacional da entidade,
no Parque Anhembi (São Paulo).
"Vamos fazer a economia brasileira voltar a crescer, vamos gerar
os empregos que precisamos, vamos fazer as reformas que precisam ser feitas neste país e vamos
fazê-las com a maior tranquilidade", dizia Lula quando as vaias irromperam com mais força.
Ele respondeu aos apupos dos
sindicalistas de tendências minoritárias da CUT como a Organização Marxista Proletária, a Liga
Bolchevique Internacionalista e a
Corrente Socialista: "Não me
preocupo com vaias, porque acho
que a vaia é tão importante quanto o aplauso. Teve gente que me
vaiou porque eu queria criar o PT.
Vocês sabem o tanto que fui vaiado para criar a CUT, em 1983".
Os sindicalistas portavam faixas
dizendo "Não às reformas neoliberais de Lula e do FMI" e gritavam slogans: "É Lula lá, é nós
aqui, é unidade contra o FMI";
"Um, dois, três, quatro, cinco, mil,
ou pára essa reforma ou paramos
o Brasil"; e "Lula tenha decência,
não privatize a Previdência".
O presidente ouviu os coros, leu
as faixas e foi maciçamente aplaudido quando rebateu: "Quero pedir a vocês uma coisa. Em vez de
alguns companheiros, tão preciosos, fazerem faixas, seria melhor
dizer o que querem para a gente
poder atender, para a gente poder
fazer as coisas. Isso seria muito
melhor e muito mais prudente".
Lula fez um apelo aos sindicalistas em defesa do entendimento.
"Vamos fazer as coisas numa mesa de negociação, na qual todos
poderão dizer o que pensam, todos poderão brigar por aquilo que
acreditam que seja verdadeiro, até
que uma determinada maioria
possa construir aquilo que seja o
melhor para este país."
Na CUT, a maior resistência é
contra a reforma de Previdência,
em especial a proposta de cobrança de contribuição de 11% dos servidores inativos. Os servidores representam cerca de 35% do total
de associados da CUT. A eles, Lula fez promessas: "Vamos criar o
mais importante plano de cargos
e salários para o setor público já
feito na história deste país".
Antes de Lula, já haviam sido
vaiados os ministros Jaques Wagner (Trabalho) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência).
Foi a primeira vez que um presidente da República participou de
um congresso da CUT, que completa 20 anos de fundação neste
ano. Em reuniões preparatórias
do encontro, com as diversas tendências da entidade, foi acertado
que nenhuma facção promoveria
"baixarias" contra Lula. Para a esquerda cutista, a vaia foi uma expressão de opinião que não pode
ser enquadrada como "baixaria".
Ao anunciar a presença do petista, o presidente da CUT, João
Felicio, fez um alerta aos delegados: "Receber Lula com carinho é
obrigação de todo revolucionário
de esquerda". Quando o presidente chegou ao plenário, a maioria dos sindicalistas cantava: "Olê,
olê, olá, Lula, Lula". Já a esquerda
entoava: "Olê, Olê, Olá, luta, luta".
Resposta aos radicais
O presidente iniciou seu discurso se dizendo em família e mandou um recado para os radicais.
"Mesmo aqueles que possam divergir, vamos respeitá-los, porque na casa da gente muitas vezes
a família pensa diferente."
Lula foi aplaudido ao se referir
ao esperneio dos descontentes:
"Muitas pessoas que morrem afogadas não morrem afogadas porque não sabem nadar. Se tivessem
controle emocional e consciência
de que seu corpo é mais leve do
que a água, se mantivessem a
tranquilidade, muitos não morreriam. Morrem porque ficam nervosos, batem demasiadamente as
mãos e os pés, abrem a boca demais, bebem água indevida".
"O presidente da República em
nenhum momento pode perder o
equilíbrio, perder a noção daquilo
que ele mesmo espera de si e daqueles que são os compromissos
históricos -que ninguém pediu
para que eu assumisse com a classe trabalhadora", tentou explicar.
Comparou as queixas que recebe contra seu governo às da mulher de um marido que passa no
bar depois do trabalho. "Muitas
vezes acontecem coisas que deixam a gente meio chateado. O
companheiro trabalha das 7h às
18h, todo santo dia e, às vezes, pára para tomar uma cervejinha
com um companheiro. Quando
chega em casa, não tem nenhum
elogio pelas 12 horas que trabalhou, mas tem críticas pela meia
hora em que tomou uma cerveja."
Lula reclamou de juízos que
acredita precipitados. "O que não
pode é alguém julgar uma criança
quando ela ainda está no ventre
da mãe. Temos apenas cinco meses de governo. E, se eu fosse uma
criança gerada no ventre da minha mãe, ainda faltariam quatro
meses para que vocês pudessem
dizer se eu sou bonito ou feio."
Tentou se mostrar conciliador:
"Quero deixar claro aqui que ninguém se tornará meu amigo porque defende as reformas ou meu
inimigo porque não as defende".
O presidente encerrou seu discurso com lágrimas. "Olhem bem
nos meus olhos e tenham a certeza de que este companheiro, torneiro mecânico, nordestino de
Pernambuco, que perdeu três
eleições, que não desistiu em nenhum momento, e, por conta e
responsabilidade de vocês, chegou à Presidência da República,
não esquece e não irá esquecer nenhum dos compromissos que assumiu", disse. "Se alguém, em algum momento, teve vergonha do
que foi, eu não tenho. Não tenho
vergonha do que fui, não tenho
vergonha do que sou e não tenho
vergonha do que serei. E eu dizia e
vou repetir para vocês: nós vamos
fazer a economia brasileira mudar", concluiu, sob aplausos.
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