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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Seguranças de fazenda atiraram contra invasores na Paraíba; morte é a nona registrada só neste ano

Confronto com fazendeiros mata sem-terra

EDUARDO SCOLESE
EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA

Num episódio que tem potencial para acirrar ainda mais o clima de tensão entre sem-terra e ruralistas por todo o país, um trabalhador rural foi assassinado e outros 12 ficaram feridos, sendo dois em estado grave, ao serem recebidos a bala por funcionários de uma fazenda em Jacaraú (PB), durante invasão ocorrida ontem, segundo a polícia local.
A morte de ontem foi a nona registrada pela Ouvidoria Agrária neste ano em conflitos no campo, contra oito em todo o ano passado. De janeiro até agora, foram cinco assassinatos no Pará, sendo os demais divididos por Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pernambuco e Paraíba.
O ouvidor agrário nacional, Gercino da Silva Filho, em entrevista à Agência Folha no último dia 23, já havia alertado sobre o seu temor de "várias mortes" no campo e o "ritmo preocupante" de crescimento da violência rural.
Ontem, em Jacaraú (106 km de João Pessoa), a ação dos funcionários que faziam a guarda da fazenda São José ocorreu por volta das 5h30, de acordo com a polícia, quando cerca de 300 sem-terra ligados à CPT (Comissão Pastoral da Terra) invadiram a área para, segundo eles, "promover um mutirão de plantio e colheita".
O clima de tensão no local vem desde agosto de 2001, quando os mesmos sem-terra invadiram a propriedade pela primeira vez. Dias depois, o pedido de reintegração de posse foi cumprido, e os trabalhadores rurais passaram a viver acampados numa área vizinha, que pertence ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Em setembro de 2002, funcionários da fazenda atearam fogo nos barracos.
A CPT aponta Marco Antônio Barbosa, conhecido por Napoleão, como proprietário da fazenda e um dos que atiraram contra os sem-terra. Markyllwer Góes, que se identificou ontem como advogado de Napoleão, disse que seu cliente "foi surpreendido com a invasão e teve que se defender para não morrer". "Estamos com a polícia no encalço dele [Napoleão]", disse o governador Cássio Cunha Lima (PSDB).
De acordo com a Polícia Civil, que enviou ontem uma equipe ao local, os funcionários da fazenda utilizaram revólveres calibre 38 e espingardas calibre 12. Ao ouvir os tiros, a maioria fugiu.
Antônio Chagas da Silva, 42, atingido por um tiro no peito, morreu no local. Nove foram baleados e três se feriram na fuga.
Segundo a assessoria do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o ministro Miguel Rossetto solicitou a seu colega Márcio Thomaz Bastos (Justiça) que a Polícia Federal investigue a morte. O pedido foi aceito, de acordo com a assessoria. Em nota, o ministério condenou a violência.


Colaborou ADELSON BARBOSA, free-lance para a Agência Folha, em Jacaraú


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