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TENSÃO NO CAMPO
Seguranças de fazenda atiraram contra invasores na Paraíba; morte é a nona registrada só neste ano
Confronto com fazendeiros mata sem-terra
EDUARDO SCOLESE
EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA
Num episódio que tem potencial para acirrar ainda mais o clima de tensão entre sem-terra e
ruralistas por todo o país, um trabalhador rural foi assassinado e
outros 12 ficaram feridos, sendo
dois em estado grave, ao serem recebidos a bala por funcionários de
uma fazenda em Jacaraú (PB),
durante invasão ocorrida ontem,
segundo a polícia local.
A morte de ontem foi a nona registrada pela Ouvidoria Agrária
neste ano em conflitos no campo,
contra oito em todo o ano passado. De janeiro até agora, foram
cinco assassinatos no Pará, sendo
os demais divididos por Mato
Grosso do Sul, Amazonas, Pernambuco e Paraíba.
O ouvidor agrário nacional,
Gercino da Silva Filho, em entrevista à Agência Folha no último
dia 23, já havia alertado sobre o
seu temor de "várias mortes" no
campo e o "ritmo preocupante"
de crescimento da violência rural.
Ontem, em Jacaraú (106 km de
João Pessoa), a ação dos funcionários que faziam a guarda da fazenda São José ocorreu por volta
das 5h30, de acordo com a polícia,
quando cerca de 300 sem-terra ligados à CPT (Comissão Pastoral
da Terra) invadiram a área para,
segundo eles, "promover um mutirão de plantio e colheita".
O clima de tensão no local vem
desde agosto de 2001, quando os
mesmos sem-terra invadiram a
propriedade pela primeira vez.
Dias depois, o pedido de reintegração de posse foi cumprido, e os
trabalhadores rurais passaram a
viver acampados numa área vizinha, que pertence ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária). Em setembro
de 2002, funcionários da fazenda
atearam fogo nos barracos.
A CPT aponta Marco Antônio
Barbosa, conhecido por Napoleão, como proprietário da fazenda e um dos que atiraram contra
os sem-terra. Markyllwer Góes,
que se identificou ontem como
advogado de Napoleão, disse que
seu cliente "foi surpreendido com
a invasão e teve que se defender
para não morrer". "Estamos com
a polícia no encalço dele [Napoleão]", disse o governador Cássio
Cunha Lima (PSDB).
De acordo com a Polícia Civil,
que enviou ontem uma equipe ao
local, os funcionários da fazenda
utilizaram revólveres calibre 38 e
espingardas calibre 12. Ao ouvir
os tiros, a maioria fugiu.
Antônio Chagas da Silva, 42,
atingido por um tiro no peito,
morreu no local. Nove foram baleados e três se feriram na fuga.
Segundo a assessoria do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o ministro Miguel Rossetto
solicitou a seu colega Márcio Thomaz Bastos (Justiça) que a Polícia
Federal investigue a morte. O pedido foi aceito, de acordo com a
assessoria. Em nota, o ministério
condenou a violência.
Colaborou ADELSON BARBOSA, free-lance para a Agência Folha, em Jacaraú
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