São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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OPERAÇÃO GATINHO

Despachante afirma que policiais recebem R$ 50 mil mensais

Chong suborna polícia, diz acusado

DA REPORTAGEM LOCAL

O despachante Pedro Lindolfo Sarlo, preso na terça-feira pela Polícia Federal de Brasília sob acusação de tentar subornar o presidente da CPI da Pirataria, deputado federal Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP), disse, em conversas gravadas por câmeras do "Jornal Nacional", da Rede Globo, que mensalmente o empresário Law Kin Chong paga R$ 50 mil ao Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado) para não ser importunado.
"A avenida Paulista paga em média R$ 50 mil por mês para o Deic", disse Sarlo. Ele referia-se a um shopping popular, o Stand Center, que seria de propriedade de Chong. O diretor do Deic, Godofredo Bittencourt, disse que não conhece Pedro Lindolfo Sarlo e que qualquer denúncia de irregularidade pode ser apurada pela Corregedoria da Polícia Civil.
Minutos antes de ser preso, como mostra a gravação, Sarlo fez uma ligação telefônica de seu celular para uma pessoa que disse ser policial federal com estreita ligação com a cúpula da PF paulistana, como a Folha noticiou na edição de quinta-feira. "Oi, meu irmão. É hoje?", pergunta. "Não vai ser hoje? Vai ser total? Tem de ser total", continua.
A assessoria de imprensa da PF em São Paulo disse que, se ficar provado que algum servidor da instituição está envolvido em irregularidade, ele será afastado.
Em outra gravação, Chong, que também foi detido na terça-feira, sob a mesma acusação, menciona o nome de um policial federal como um dos supostos beneficiários de um esquema de pagamento de propina a policiais. Mas diz que, "se tivesse confiança [no policial], não o tiraria. Ele fala demais". O empresário teria oferecido inicialmente US$ 2 milhões a Medeiros em troca de o deputado não citar seu nome no relatório final da CPI da Pirataria, que será apresentado na semana que vem.
Documentos do serviço de inteligência da PF demonstram que Chong também mantinha contatos com policiais federais, como o delegado José Augusto Bellini e o agente Cesar Herman Rodrigues, e até juízes federais, como João Carlos da Rocha Mattos, Ali Mazloum, Casem Mazloum. Todos foram denunciados na Operação Anaconda, que investigou o comércio de sentenças judiciais. Os Mazloum negaram que tenham amizade com o empresário.
A Folha tentou, por cinco vezes, falar com o advogado de Chong, mas não conseguiu.


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