São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Com salário de R$ 1.000 mensais, ele é suspeito de ser "laranja"
PF prende funcionário que enviou R$ 3,6 mi ao exterior

JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Londrina

O funcionário público Ismael Filadelfio Adorno, 28, está preso desde a quarta-feira na Divisão da Polícia Federal em Foz do Iguaçu (PR) sob a acusação de ter sido ""laranja" no envio de R$ 3,6 milhões para o exterior por meio de contas CC-5.
Funcionário do setor de habilitação do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) em Foz do Iguaçu, Adorno teve sua prisão temporária determinada pela Justiça Federal em Foz do Iguaçu depois que se recusou a depor espontaneamente na PF naquela cidade.
A prisão temporária tem validade para cinco dias, podendo ser renovada por mais cinco a pedido de autoridade policial.
Adorno está sendo investigado pela Dicoi (Divisão de Combate ao Crime Organizado e Investigações Especiais), setor da Polícia Federal em Brasília.
Ontem, delegados do Dicoi não descartaram a possibilidade de pedir à Justiça sua prisão preventiva.
Adorno faz parte de uma lista de 226 nomes de pessoas que supostamente atuam como "laranjas" para o envio de dinheiro para o exterior, por meio de contas CC-5. A lista foi entregue pelo Banco Central a pedido da Justiça.
As contas CC-5 são usadas -legalmente- para a remessa de divisas ao exterior por empresas multinacionais, empresas brasileiras com interesses comerciais em outras nações e por pessoas físicas (brasileiras ou estrangeiras) com domicílio fora do país.
Funcionário público com um salário de aproximadamente R$ 1.000, Adorno não conseguiu, conforme a Agência Folha apurou junto à PF em Foz, explicar como remeteu R$ 3,6 milhões ao exterior.
A Agência Folha não conseguiu falar com Adorno ontem na Polícia Federal de Foz. Não foi localizado nenhum representante legal do funcionário do Detran.
De 1992 a 31 de dezembro de 1998 foram enviados R$ 7,5 bilhões por meio de contas CC-5 ao exterior por pessoas físicas. As pessoas jurídicas (empresas) enviaram no mesmo período R$ 104,4 bilhões.
O procurador da República em Cascavel (oeste paranaense) Celso Antônio Três, 36, que investiga suposta lavagem de dinheiro com uso das contas CC-5, avalia que 80% das remessas de pessoas físicas e 50% das remessas de pessoas jurídicas tenham sido feitas de forma ilegal.


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