São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GRAMPO NO BNDES
Nota divulgada ontem é contraponto à falta de um apoio claro de FHC ao ministro da Casa Militar
Exército assume defesa do general Cardoso

RUI NOGUEIRA
da Sucursal de Brasília


A guerra dos grampos telefônicos, as críticas à reorganização do serviço de inteligência e os conflitos com a Polícia Federal fizeram o Exército saírem defesa do general Alberto Cardoso, ministro-chefe da Casa Militar.
Por meio de um Informex, "a palavra oficial do Exército", como se define o informativo da Força, o general Luiz Cesário da Silveira Filho, chefe do Centro de Comunicação Social, disse ontem que o Exército "reitera sua plena confiança na conduta ilibada do general Cardoso e repele, com veemência, as insinuações dirigidas contra a pessoa desse honrado chefe militar".
O general Cesário admite que a nota é "a propósito do recente noticiário" e que a "incumbência" foi do próprio ministro do Exército.
A Folha apurou que a decisão do Exército foi tomada para servir de contraponto à parcimônia com que o governo estaria se comportando na defesa do ministro.
É por isso que, antes de encerrar com a defesa "da honra" do general Cardoso, a nota lembra que ele ocupa um "cargo de confiança do presidente da República" e que "foi convocado" para as tarefas de reorganizar, em nível nacional, as áreas de inteligência e de prevenção e combate às drogas.
Traduzindo: se o ministro tem cargo de confiança, o que ele faz é de conhecimento do presidente da República. Ele "não pode ser deixado no ar", disse à Folha um chefe militar que pediu anonimato.
Desde que a assumiu a Casa Militar, no primeiro mandato de FHC, o general Cardoso vem concentrando, formalmente, as tarefas de controle e reorganização do serviço de inteligência remanescente do antigo SNI (Serviço Nacional de Informações), do tempo do regime militar (1964-85), e exercendo uma espécie de vigilância informal sobre a Polícia Federal, um dos órgãos mais corporativos da União.
O desgaste maior, porém, tem sido com o grampo no BNDES. Funcionários da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), subordinada a Cardoso, são suspeitos no caso.
As investigações da PF e do Ministério Público levantam indícios no sentido de que o ministro da Casa Militar dificilmente deixaria de saber da ação dos seus agentes.
Em entrevista recente, no Planalto, o general negou qualquer envolvimento com o grampo. "Não saiu uma ordem minha ou de algum dirigente da subsecretaria (área de inteligência) dizendo: 'Vá lá, faça um grampo". Até porque (esse ato) é ilegal."

Investigação
A PF está investigando agora um telefone celular da Abin no Rio, em busca de pistas sobre a autoria do grampo no BNDES.
A investigação do aparelho, número 9982-6794, foi iniciada a partir de um informante do delegado Rubens Grandini, que preside o inquérito.
Até agora, os principais suspeitos são Temílson Antonio Barreto de Resende, agente da Abin no Rio; Adílson Alcântara de Matos, investigador particular; e Célio Rocha, ex-agente da PF. Os três tiveram telefones grampeados pela PF com autorização judicial.


Colaborou a Sucursal do Rio


Texto Anterior: Papéis estão em análise
Próximo Texto: SP dará apoio contra o "bug do milênio"
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.