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MISTÉRIO EM AL
Delegados que conduzem novas investigações sobre a morte do empresário pretendem ouvir Augusto Farias
Atitudes de irmão de PC intrigam polícia
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió
Os delegados
que conduzem a
nova investigação sobre as
mortes de Paulo
César Farias e
Suzana Marcolino reafirmaram
ontem que querem ouvir na segunda-feira o depoimento do deputado Augusto Farias (PPB-AL)
sobre a morte do irmão PC e de Suzana Marcolino.
O advogado José Fragoso Cavalcanti, representante de Augusto,
disse que conversaria no começo
da noite com o deputado e que, "a
princípio", acreditava "não haver
problemas".
Em 1996, Augusto Farias afirmou
em depoimento à polícia que abria
mão da imunidade parlamentar na
investigação das mortes. Seu irmão Cláudio negou-se ontem a
responder se o deputado irá depor.
Os delegados querem esclarecer
na segunda, quatro dias antes da
data anunciada para a conclusão
do relatório sobre o caso, o que
consideram comportamento "intrigante" do deputado.
Último parente a ver PC vivo e o
primeiro a encontrá-lo morto, Augusto defende desde 1996 a versão
segundo a qual Suzana matou PC,
num crime passional, e depois se
suicidou.
"Isso é intrigante. Qualquer pessoa quer saber a verdade. Se matassem meu irmão, eu iria querer
saber a verdade", diz o delegado
Antônio Carlos Lessa, que divide a
apuração com seu colega Alcides
Andrade.
Os delegados sustentam que os
quatro ex-seguranças de PC presos
na quarta-feira assassinaram ou
foram cúmplices da morte do empresário e de Suzana.
A seguir, algumas delas e outros fatos que podem apresentar
contradições.
1 - HORÁRIOS
"Oficialmente", os corpos de PC
e Suzana foram descobertos pelo
segurança Reinaldo de Lima Filho
às 11h do dia 23 de junho de 1996.
Augusto Farias disse que foi avisado das mortes por telefone, entre
12h e 12h10. Ele estava a menos de
10 km da casa onde PC morreu.
Na cidade de Pão de Açúcar, no
sertão alagoano, a 274 km de Maceió, o secretário particular e chefe
da segurança de PC, Flávio Almeida, soube às 10h30, segundo depoimento à polícia.
O advogado Iran Nunes afirmou
que foi avisado às 10h, pela irmã de
Flávio, quando também estava no
sertão.
O então secretário de Justiça, Rubens Quintella, ainda hoje no cargo, contou que soube às 11h30.
A mãe de Suzana disse que uma
funcionária da loja de sua filha
contou-lhe ter sido informada por
volta das 7h, pelo namorado, um
dos seguranças de PC presos. A ex-funcionária de Suzana nega o telefonema.
2 - VERSÃO OFICIAL
No domingo das mortes, Augusto Farias disse que o irmão poderia
ter sido vítima de "queima de arquivo". No dia seguinte, passou a
alardear a hipótese de crime passional, fazendo coro com o delegado Cícero Torres.
Em 1997, na TV, Augusto chamou de "louca" a promotora Failde Mendonça, por pedir uma parecer ao legista George Sanguinetti,
que afirmaria em seu documento
que o irmão de PC ocultou informações.
Junto com os outros irmãos, Augusto hoje pede "paz" e critica a
nova investigação em curso.
3 - DETETIVES
No início do seu namoro com
PC, Suzana Marcolino era seguida
em Maceió por ordem de Augusto
Farias. A afirmação foi feita por
Suzana, de acordo com relato de
sua irmã, Ana Luiza. Augusto nega.
Nos dias que antecederam sua
morte, Suzana foi seguida em São
Paulo por alguns detetives. Alceu
Alves Guimarães, dono da Mega
Detetives, disse que foi contratado
por Caio Ferraz, procurador de
PC.
Inicialmente, segundo Guimarães, Ferraz afirmou que o havia
contratado a pedido de Augusto
Farias. Depois, conforme o proprietário da Mega, o procurador
teria dito ser de PC a ordem.
Os dois detetives escalados por
Guimarães, conhecidos como Luiz
Carlos e Toninho, tiveram uma
surpresa que os amedrontou
quando seguiam Suzana. Outro
homem, de moto, também estava
atrás dela, não se sabe a mando de
quem.
4 - NA CENA DO CRIME
Na casa de praia onde PC e Suzana morreram, Augusto Farias presenciou a decisão do secretário de
Segurança, José Amaral, de afastar
o delegado da área e escalar para o
caso o delegado Cícero Torres,
amigo da família Farias.
No futuro, Amaral e Torres seriam indiciados em inquérito da
Polícia Federal por suspeita de tráfico internacional de armas.
No quarto onde os namorados
morreram, desapareceram o celular e outros objetos de Suzana que
serviriam como provas no inquérito. Augusto e os seguranças negam
tê-los visto.
5 - FOGO
Alegando mau cheiro, os Farias
deram sinal verde, 48 horas após às
mortes, à queima e trituração de
objetos do cenário do crime, como
colchão e lençóis.
O quarto foi lavado, com a remoção parcial das manchas de sangue
na parede e no chão.
A família disse que a destruição
de provas foi autorizada pela polícia, que confirmou. O gesto viria a
dificultar investigações futuras.
6 - SEGURANÇA COLUNÁVEL
Independentemente de como PC
morreu, os seguranças que o protegiam falharam, já que sua missão
era proteger o patrão. Mas eles não
foram afastados. Augusto e seus irmãos os mantêm, até hoje, trabalhando para a família.
Houve pelo menos um caso de
significativa ascensão social: em
1996, o responsável pela segurança
de PC e seu secretário particular
era Flávio Almeida, um sargento
da PM cujo salário, hoje, chegaria a
R$ 800.
Mas Almeida não está mais na
PM: é gerente financeiro da "Tribuna de Alagoas", abriu num bairro de classe média-alta a loja "Romanos Charutos e Vinhos", dois
produtos apreciados pelo chefe assassinado em 1996.
O ex-sargento dirige um Golf, comanda uma boate e prepara a
abertura de uma nova casa noturna. Nas colunas sociais de Maceió,
é tratado como "homem da noite".
Mais simples, o segurança Reinaldo de Lima Filho ficou com um
automóvel Voyage que era de PC.
7 - NOVATO ASSASSINADO
Augusto Farias disse que todos
os seguranças trabalhavam havia
anos para PC.
Rinaldo Lima, porém, só acumulava um mês de casa. Em seu depoimento, contradisse aspectos
importantes dos testemunhos dos
outros seguranças.
No dia 2 de abril passado, menos
de duas semanas após a Folha publicar a reportagem que provocou
a reabertura do caso PC, Rinaldo
foi assassinado. Até agora, o polícia não sabe por quê.
8 - PAI-DE-SANTO DEMITIDO
Em meio à comoção dos empregados de PC, que tinham uma espécie de adoração pelo patrão, o
decorador e pai-de-santo Gilson
Lima teria dito: "Quem sabe o assassino não está entre nós?"
Foi logo demitido pelos Farias.
Augusto viria a ser o tutor do casal
de filhos adolescentes de PC.
À polícia, Gilson Lima relatou
que PC e Suzana viviam em razoável harmonia, contradizendo o depoimento de Augusto Farias.
9 - DEFESA DOS SUSPEITOS
Os quatro seguranças hoje presos em Maceió são defendidos desde 1996 por advogados que trabalham para o grupo empresarial dos
Farias.
Anteontem, enquanto o juiz Alberto Jorge Correia redigia o decreto de prisão, um advogado da
família esperava o documento no
balcão, a 10 metros, para providenciar a defesa dos homens que, para
a polícia, mataram PC.
10 - NOVA PAIXÃO
A paixão de PC pela ex-modelo
alagoana Cláudia Dantas é um dos
pilares da versão de crime passional.
O depoimento de Augusto é fundamental: ele diz que o irmão lhe
confidenciara que trocaria Suzana
por Cláudia.
O romance teria de ser quase secreto: um irmão de PC disse que
não tinha conhecimento dele. Na
semana passada, Flávio Almeida, o
auxiliar em quem PC depositava a
maior confiança, reafirmou que
desconhecia tal paixão.
11 - SOBRINHOS
Augusto Farias é o tutor de um
casal de sobrinhos que "herdaram" do pai uma dívida de R$ 85
milhões com a Receita Federal.
Segundo o inventário, PC Farias
deixou para os filhos bens no valor
de R$ 3,9 milhões, bloqueados por
decisão judicial. Dívida líquida: R$
81 milhões.
As principais empresas dos Farias não estavam no nome de PC,
portanto seus filhos não as herdaram. A ajuda dos tios é fundamental para a manutenção de Ingrid e
Paulinho Farias.
12 - TRIBUNA EM SILÊNCIO
Desde o reinício das investigações sobre a morte de PC, o jornal
"Tribuna de Alagoas" pouco tem
escrito sobre o assunto. Quando se
refere a ele, critica os delegados
Lessa e Andrade.
Na edição de quinta-feira, o jornal ignorou a prisão ocorrida na
véspera dos quatro suspeitos de
matar o homem que cuidou de caixas de campanha do ex-presidente
Fernando Collor e transformou os
Farias numa potência econômica e
política em Alagoas.
OUTRO LADO
O advogado José Fragoso Cavalcanti negou com veemência a possibilidade de o deputado Augusto Farias (PPB-AL) estar envolvido com a morte do irmão PC e Suzana Marcolino.
"Isso não tem fundamento nenhum. Qualquer pessoa em Maceió que conhece a família fica abalada só de ouvir essa hipótese."
Ao ser informado sobre a suspeita que policiais federais levantaram em 1996, dizendo que Augusto Farias poderia ser o autor intelectual das mortes, Fragoso afirmou que tal informação não consta dos autos do inquérito.
Um dos representantes da família Farias, o advogado está certo. A suspeita não foi incluída no relatório do delegado da PF Marcos Omena, apenas transmitida à época das mortes por policiais.
Em 1996, Luiz Romero Farias, irmão de PC, reagiu à suspeita em nome da família: "Isso é irrespondível, só pode ser fruto de uma convulsão mental".
Fragoso Cavalcanti disse que os advogados dos Farias defendem os seguranças presos na quarta-feira por suspeita de matar PC e a namorada porque "a família confia integralmente nessas pessoas, tem certeza de que elas não mataram PC e Suzana Marcolino".
De acordo com o advogado, Augusto Farias sustenta a versão de homicídio seguido por suicídio "porque está certo de que essa é a verdade".
"As provas dos autos são totalmente contrárias ao que está sendo noticiado agora. A harmonia das provas dá conta de que Suzana matou PC e se suicidou."
Fragoso voltou a condenar a prisão temporária de quatro ex-seguranças de PC Farias. A polícia os aponta como suspeitos de terem assassinado o patrão e Suzana.
"Essas pessoas estão presas sem indício algum. Não há nenhum fundamento. Qual a dúvida que se tem? Mas não vou continuar discordando pela imprensa, mas demonstrar nos autos." Na segunda-feira, Fragoso entrará com pedido de habeas-corpus a favor dos seguranças.
Cláudio Farias, irmão de Augusto que administra o jornal "Tribuna de Alagoas", disse que ele e sua família não dariam declarações à Folha.
Augusto Farias antecipou que, se vier a depor -não há garantia de que ele aceitará- reafirmará o conjunto do seu depoimento em 1996, cuja informação mais importante talvez seja o relato que afirma ter ouvido do irmão: apaixonado pela ex-modelo Cláudia Dantas, PC iria romper o namoro com Suzana no fim-de-semana em que os dois morreram.
(MM)
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