São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2000


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PF e Exército ocupam fazenda

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Exército e a Polícia Federal ocuparam a fazenda Córrego da Ponte, que pertence aos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, localizada em Buritis (MG).
A operação foi realizada com o objetivo de evitar que ela fosse invadida por integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que pretendiam usar o fato para barganhar avanços na reforma agrária com o governo.
A ocupação policial começou na noite de anteontem e não tem data para ser encerrada.
"A autoridade do presidente da República não pode ficar submetida a uma espécie de chantagem", afirmou na noite de ontem o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière.
"Isso seria totalmente inadmissível", completou.
O Exército mandou, às 23h30 de segunda-feira, 320 homens do Batalhão da Guarda Presidencial para a área.
Eles estão armados com metralhadoras, fuzis e pistolas e possuem equipamentos antidistúrbios, como gás lacrimogêneo, escudos e cassetetes.
A área também está sendo monitorada por cães.
A Polícia Federal enviou às 22h de anteontem uma divisão do COT (Comando de Operações Táticas), o seu grupo de elite.
Não foram divulgados quantos homens e os equipamentos que possuem -apenas que estão lá para prestar apoio às eventuais ações do Exército.
A Folha apurou que a PF participa com seu pessoal de inteligência.
Na porteira da fazenda, ontem à tarde, estavam três camionetes da PF, com três agentes em cada uma.
Os militares do Exército estavam dentro da fazenda e não podiam ser avistados do lado de fora.

De onde veio a ordem
A decisão de enviar reforço policial e militar para a fazenda foi do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso.
Ele baseou sua decisão em informes obtidos pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e pela Polícia Federal, que identificaram que um grupo dissidente do MST nacional, que se mantém mais isolado, pretendia invadir a fazenda.
No final da tarde de ontem, enquanto a direção nacional do MST conversava com o presidente e com ministros no Palácio do Planalto, o general Cardoso decidiu expedir avisos pedindo providências ao Ministério da Justiça (que coordena a PF) e ao Ministério da Defesa (que ordena as ações do Comando Militar do Planalto, a quem o Batalhão da Guarda Presidencial é subordinado).
Segundo a Folha apurou, a decisão do general Cardoso foi isolada e independente da reunião.
Ele teria decidido pelo reforço policial por prevenção, e só então comunicou o fato ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
O general Alberto Cardoso se valeu do artigo 6º da medida provisória que organiza os órgãos da Presidência.
Nele, entre as atribuições do Gabinete de Segurança Institucional, está a de "zelar pela segurança pessoal do chefe de Estado e respectivos familiares, bem assim como pela segurança dos palácios presidenciais".
Segundo o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, apesar de a fazenda estar hoje em nome dos filhos de FHC, ele ainda a utiliza em finais de semana e por isso mantém o status de residência oficial. Até o ano passado, a terra pertencia a FHC e a seu sócio, Jovelino Mineiro.
Em novembro do ano passado, o Exército já ocupou a fazenda Córrego da Ponte, depois que cerca de 250 sem-terra acamparam em frente à propriedade, ameaçando invadi-la.
Na época, o acampamento do MST durou uma semana e só terminou depois que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) anunciou a liberação de verba para assentamentos na região de Buritis.


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