|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PF e Exército ocupam fazenda
WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Exército e a Polícia Federal
ocuparam a fazenda Córrego da
Ponte, que pertence aos filhos do
presidente Fernando Henrique
Cardoso, localizada em Buritis
(MG).
A operação foi realizada com o
objetivo de evitar que ela fosse invadida por integrantes do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), que pretendiam usar o fato para barganhar
avanços na reforma agrária com o
governo.
A ocupação policial começou
na noite de anteontem e não tem
data para ser encerrada.
"A autoridade do presidente da
República não pode ficar submetida a uma espécie de chantagem", afirmou na noite de ontem
o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière.
"Isso seria totalmente inadmissível", completou.
O Exército mandou, às 23h30 de
segunda-feira, 320 homens do Batalhão da Guarda Presidencial para a área.
Eles estão armados com metralhadoras, fuzis e pistolas e possuem equipamentos antidistúrbios, como gás lacrimogêneo, escudos e cassetetes.
A área também está sendo monitorada por cães.
A Polícia Federal enviou às 22h
de anteontem uma divisão do
COT (Comando de Operações
Táticas), o seu grupo de elite.
Não foram divulgados quantos
homens e os equipamentos que
possuem -apenas que estão lá
para prestar apoio às eventuais
ações do Exército.
A Folha apurou que a PF participa com seu pessoal de inteligência.
Na porteira da fazenda, ontem à
tarde, estavam três camionetes da
PF, com três agentes em cada
uma.
Os militares do Exército estavam dentro da fazenda e não podiam ser avistados do lado de fora.
De onde veio a ordem
A decisão de enviar reforço policial e militar para a fazenda foi do
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso.
Ele baseou sua decisão em informes obtidos pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e pela Polícia Federal, que identificaram que um grupo dissidente do
MST nacional, que se mantém
mais isolado, pretendia invadir a
fazenda.
No final da tarde de ontem, enquanto a direção nacional do
MST conversava com o presidente e com ministros no Palácio do
Planalto, o general Cardoso decidiu expedir avisos pedindo providências ao Ministério da Justiça
(que coordena a PF) e ao Ministério da Defesa (que ordena as ações
do Comando Militar do Planalto,
a quem o Batalhão da Guarda Presidencial é subordinado).
Segundo a Folha apurou, a decisão do general Cardoso foi isolada
e independente da reunião.
Ele teria decidido pelo reforço
policial por prevenção, e só então
comunicou o fato ao presidente
Fernando Henrique Cardoso.
O general Alberto Cardoso se
valeu do artigo 6º da medida provisória que organiza os órgãos da
Presidência.
Nele, entre as atribuições do Gabinete de Segurança Institucional,
está a de "zelar pela segurança
pessoal do chefe de Estado e respectivos familiares, bem assim
como pela segurança dos palácios
presidenciais".
Segundo o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, apesar de a fazenda estar hoje em nome dos filhos de FHC, ele ainda a
utiliza em finais de semana e por
isso mantém o status de residência oficial. Até o ano passado, a
terra pertencia a FHC e a seu sócio, Jovelino Mineiro.
Em novembro do ano passado,
o Exército já ocupou a fazenda
Córrego da Ponte, depois que cerca de 250 sem-terra acamparam
em frente à propriedade, ameaçando invadi-la.
Na época, o acampamento do
MST durou uma semana e só terminou depois que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) anunciou a liberação de verba para assentamentos na região de Buritis.
Texto Anterior: Questão agrária: Pacote para sem-terra não inclui investimentos novos Próximo Texto: Itamar questiona uso de militares Índice
|