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Itamar questiona uso de militares
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O governador de Minas Gerais,
Itamar Franco (sem partido),
questionou ontem diretamente o
presidente Fernando Henrique
Cardoso (PSDB) sobre o uso do
Exército para proteger a fazenda
Dois Córregos, em Buritis (MG),
que estaria sob a ameaça de invasão pelo MST.
Em fax enviado ao presidente
da República, às 13h34, o governador insinua que a autonomia
de Minas Gerais foi atingida e
ameaça ir à Justiça contra FHC ou
a União.
Os argumentos de Itamar estão
baseados no fato de a fazenda não
ser propriedade da União, mas
apenas uma propriedade particular da família do presidente, o que
não justificaria a presença de tropas federais no local.
"A extrema gravidade dos fatos
noticiados exige imediato posicionamento de vossa excelência a
fim de que as medidas administrativas e judiciais pertinentes sejam adotadas na preservação da
autonomia dos Estados federados", diz o governador mineiro ao
encerrar o fax com sua assinatura.
São cinco os questionamentos
feitos por Itamar a FHC: 1) qual é
o fundamento constitucional e legal da medida; 2) se FHC é o responsável pela ordem; 3) se a fazenda é de propriedade da União;
4) qual foi o aparato militar usado; e 5) qual foi o custo da operação de proteção à fazenda.
Essa não é a primeira vez que
Itamar questiona o envio de tropas federais para Buritis. Em novembro do ano passado, durante
cerco do MST à fazenda, ele já havia dito que a propriedade não é
da União, o que não justificava a
presença do Exército.
Naquela ocasião, a Polícia Militar de Minas Gerais dava proteção
à fazenda, mas o fato de um caminhão carregado de adubo e soja
ter saído da propriedade do presidente durante o cerco do MST foi
interpretado por Itamar como
uma "provocação".
O caminhão foi saqueado e a
Polícia Militar não agiu, por ordem de Itamar. Ele retirou a PM
de lá e a guarda, então, passou a
ser feita pelo Exército.
No final da tarde de ontem, Itamar chamou ao Palácio da Liberdade o procurador-geral de Justiça de Minas, Márcio Decat de
Moura, e fez a ele um relato da situação, considerando "no mínimo deselegante" a ação do governo federal, que não comunicou ao
governo de Minas ou aos órgãos
de segurança do Estado o envio
das tropas federais.
Moura evitou fazer uma análise
jurídica sobre a presença do Exército na região.
O porta-voz da Presidência,
Georges Lamazière, disse ontem
que o Palácio do Planalto não comentaria a carta de Itamar. "Nem
sei se a carta chegou às mãos do
presidente", disse Lamazière.
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