São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2000


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QUESTÃO AGRÁRIA
Líder de movimento diz que milhares de sem-terra sairão às ruas para protestar no próximo dia 25
Liberação de verba é propaganda falsa de FHC, afirma Rainha

ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

O anúncio da liberação de R$ 2,1 bilhões para atender às reivindicações do MST não passa de "propaganda enganosa" do governo para evitar os protestos de sem-terra marcados para o próximo dia 25, Dia do Trabalhador Rural. A afirmação é de José Rainha Júnior, líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na região do Pontal do Paranapanema, extremo oeste de São Paulo.
"O grande problema é que o governo só anuncia, mas não age", disse Rainha. Ele cita como exemplo a não-liberação de um crédito de R$ 600 mil para a Cocamp, a cooperativa do Pontal da qual é secretário.
"Esse dinheiro estava contratado e assinado desde 97 e agora o Banco do Brasil não paga. Se eles sumiram com esse dinheiro, como podem prometer agora R$ 2,1 bilhões?"
O líder dos sem-terra afirma que o MST vai colocar milhares de trabalhadores rurais acampados e assentados na rua no movimento que denominou "levante do dia 25 de julho".
Rainha disse que o protesto só não ocorrerá se forem cumpridas três condições: desbloqueio dos R$ 600 mil da Cocamp, liberação imediata de crédito para custeio e plantio dos assentados e fim das auditorias (que ele chama de intervenções) nas cooperativas do MST.

Auditorias
As auditorias nas 70 cooperativas do movimento foram determinadas em maio pelo governo federal para apurar suspeitas de desvios na aplicação de recursos da reforma agrária.
Segundo o auditor Aldair Alves Frutuoso, o trabalho ainda está pela metade e não é possível adiantar se há ou não irregularidades nas cooperativas.
Para Rainha, é um absurdo sair de Brasília para buscar desvio de verbas públicas nas cooperativas do MST.
"Essa intervenção é uma jogada do governo, que não tem dinheiro para liberar para o custeio e arma que não vai liberar nada enquanto não fizer vistoria."
Rainha diz que o MST não teme receber críticas da sociedade se fizer os protestos depois que o governo anunciou a liberação de verbas. "O governo usa os meios de comunicação para fazer propaganda contra nós, mas a miséria no meio rural está mostrando que existe um caos social e que, se o governo não fizer a reforma agrária, nós vamos fazer por nossa conta."
Ele afirmou que o Pontal não é um Eldorado do Carajás, referindo-se ao conflito entre sem-terra e policiais no Pará que terminou com a morte de 19 trabalhadores.
"Se houver intervenção da polícia, vamos resistir com as nossas ferramentas de trabalho."


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