São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Gilberto Carvalho e Miriam Belchior confirmam encontro

Depoentes negam ter falado sobre propina com médico

Patricia Santos/Folha Imagem
Gilberto Carvalho, ex-secretário de Santo André, chora ao depor
Miriam Belchior, ex-mulher de Celso Daniel, ao depor na CPI


LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

O ex-secretário de Governo de Santo André Gilberto Carvalho e a ex-mulher do prefeito assassinado da cidade, Celso Daniel, Miriam Belchior, negaram ontem que tenham falado em propina em qualquer encontro que confirmaram terem tido com o irmão do prefeito, o oftalmologista João Francisco Daniel, depois de seu assassinato, em janeiro.
"Tive contatos com João Francisco, sempre demandados por ele, em vista de interesses pessoais dele", afirmou Gilberto. Ele e Miriam afirmaram que um desses interesses era fazer lobby para a empresa Expresso Guarará.
Gilberto e Miriam disseram que tiveram testemunhas em algumas conversas. Ambos disseram que não revelariam os nomes- que seriam da família do médico- para não "expor ninguém".
Os dois fizeram as afirmações ontem durante depoimentos separados na CPI da Câmara Municipal de Santo André criada para investigar um suposto esquema de propina na cidade para financiar campanhas políticas do PT.
À tarde, depuseram Teresinha Fernandes Soares Pinto e o deputado Duílio Pisaneschi (PTB-SP).
No depoimento de João Francisco ao Ministério Público, no dia 24 de maio, ele disse que Miriam teria lhe dito que havia um esquema de propina na cidade para financiar campanhas.
Gilberto, segundo João Francisco, teria dito que essa propina, certa vez no valor de R$ 1,2 milhão, foi entregue por um funcionário da prefeitura ao presidente do PT, deputado José Dirceu.
À época, Dirceu negou, e Gilberto e Miriam divulgaram nota desmentindo as afirmações do irmão do prefeito assassinado.
Ao Ministério Público, o médico disse que teria testemunhas das conversas. Uma suposta testemunha conversou na terça-feira com a reportagem da Folha, sem se identificar, por telefone, no consultório do médico.
O médico afirmou que não iria revelar seu nome ou das outras testemunhas para garantir-lhes segurança, aconselhado pelos promotores, que ontem confirmaram a informação.

Choro
Gilberto, que hoje é chefe de gabinete da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chorou durante o depoimento. Depois disse: "A única riqueza que tenho são meus filhos e minha honra. A exploração da imprensa nesse caso é absurda".
De braços cruzados durante quase todo seu depoimento de uma hora, Gilberto levou "cola" com o número de encontros que teria tido com João Francisco- assim como Míriam, que também recorria a anotações. Negou todas as afirmações de João Francisco e disse não querer ser "leviano" para tecer opinião sobre o porquê das acusações do médico.
Na CPI, ele havia falado, no início do depoimento, que os cinco encontros que teve com João Francisco foram todos a pedido do médico e na casa dele. "Ele demandava benefícios", afirmou.
Logo depois, disse que, dos cinco encontros, dois foram a pedidos de outras pessoas. Um foi a pedido de Celso Daniel, para tratar de uma remessa de dólares feita pelo médico para o exterior que estaria sendo "usada politicamente para atingir o prefeito", na casa do médico.
Outro, foi a pedido do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), para explicar ao médico os trâmites das investigações sobre a morte do prefeito, na casa do deputado. Segundo Gilberto, ele e o médico se desentenderam e desde então não mais se falaram.
Segundo Gilberto, no dia 7 de fevereiro [única data citada", ele teria dado uma carona a João Francisco para depor no DHPP. Os dois estavam sozinhos, de acordo com Gilberto. Em outro encontro, na casa de João Francisco, segundo Gilberto, eles conversaram sobre a Expresso Guarará, empresa de Rosangela Gabrilli, que acusa a prefeitura de lhe cobrar propina. Nesse encontro, teriam "ido e vindo pela sala, servindo café", pessoas da família. "João Francisco pediu que eu intercedesse para resolver um problema da empresa", afirmou.
Entregou à CPI papéis com o pedido de ajuda à Expresso Guarará, com notas manuscritas ao lado, segundo Gilberto, "provavelmente" por João Francisco. "Não tenho prova de exame grafológico", disse depois, em entrevista. Em mais um encontro, segundo Gilberto, o médico lhe procurou para pedir que sua filha, Ana Cristina, fosse habilitada a fazer exames oftalmológicos pelo Ciretran e "para fechar o mercado". "Intervi, o delegado concedeu o credenciamento, mas não a reserva de mercado."

Miriam
Miriam Belchior, atual secretária de Inclusão Social e Habitação de Santo André, afirmou que, assim como o ex-marido Celso Daniel, teve poucos contatos com o cunhado João Francisco. "Eles não era chegados." Depois da morte de Celso Daniel, ela foi a um encontro pedido por João Francisco na casa dele. Segundo ela, uma testemunha, "alguém da família" assistiu à conversa.
"Me espantei: ele começou a falar nas dúvidas que tem que o assassinato do irmão não foi crime comum. Mas logo depois começou a falar em pedir ajuda para a Expresso Guarará, que estava com problemas". No depoimento e depois em coletiva, Miriam frisou que o médico era o único dos três irmãos de Celso Daniel que não é filiado ao PT. "Que eu saiba, não é filiado a nenhum [partido], mas tem ligação próxima com um tio que é do PTB."



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