São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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JANIO DE FREITAS

A melhor imagem

Quem pensa que a criminalidade no Rio e em São Paulo é o melhor retrato da degradação brasileira está enganado. Deve sua desinformação aos jornais e telejornais, contaminados pelo vício dos políticos paulistas de só reconhecer, no Brasil, São Paulo e Rio. A melhor imagem da alucinação em que o Brasil se meteu é dada pelo Espírito Santo.
É difícil imaginar no mundo uma região que se tenha deteriorado tanto, em tão poucos anos e em tantos sentidos, como aconteceu ao suave Espírito Santo. Pudera, não seria fácil encontrar uma sucessão tão persistente de péssimos governantes, como vem acontecendo ali.
Foi por um processo acelerado, talvez não mais de uma década, que no Espírito Santo o poder político assumiu progressivamente forma de bandidagem e a bandidagem assumiu forma de polícia. Eleito governador, Vitor Buaiz ainda tentou deter o processo no começo dos anos 90. Em vão. Hoje, o que lá existe de decente no Poder Judiciário julga sob risco de morte. O governador José Inácio Ferreira está encoberto por evidências de corrupção e de acumpliciamentos dos piores gêneros.
A intervenção federal no Espírito Santo é uma das providências que se deve lamentar, por sua natureza, e saudar por responder a uma necessidade. É problemática, porém. Tanto tardou, apenas por conveniências do apoio ao governo no Congresso, que lhe será muito difícil lidar com a situação de extremadas complexidades, repleta de pontos de putrefação absoluta no dispositivo estadual.
Mas, se não for para enfrentá-los, senão apenas para atender um caso aqui e outro ali, a intervenção será capaz de deixar no Espírito Santo perspectivas ainda piores, com mais vinditas e mais deterioração institucional.

Renúncia
A senadora Heloísa Helena é, na linguagem de bate-papo, uma figura. A discrição do seu vestir senatorial -calça jeans e blusa branca bem fechada, cabelos esticados e sem pintura, quase uma freira moderna- parece uma compensação para o gosto pelo espalhafatoso na atividade política. Nem por isso se saindo bem com os gritos e insultos costumeiros, como no caso do voto dado ou não em favor do então senador Luiz Estevão, cuja comprovação que a livrasse de eventuais suspeitas a senadora não providenciou.
Por motivos éticos, a senadora Heloísa Helena renuncia à candidatura ao governo de Alagoas, não admitindo aliar-se agora, como se aliou no passado, a muitos dos que integram o PL alagoano. Os motivos invocados pela senadora são respeitáveis.
Não custa lembrar, porém, que os repelidos por ela jamais a apoiariam mesmo. Com ou sem a coligação de PL e PT, vão estar no palanque de Collor, cujo lançamento e favoritismo fazem um motivo simples e forte para muitas reconsiderações repentinas na política alagoana.


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