São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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GOVERNO

Em SP, presidente diz que "se tudo desse certo" não precisaria de políticos; ele afirmou ainda que nem tudo tem de ser privado

Para FHC, "mundo ideal" não teria políticos

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, em São Paulo, que, se tudo desse certo, não haveria necessidade de políticos ou de estadistas no país.
"Ah, se tudo desse certo. Talvez até não tivesse graça. Se tudo desse certo, não precisaria de políticos, menos ainda de estadistas. Mas não dá certo. Há crises, choques, pressões, interesses que não são conciliáveis facilmente", declarou, durante cerimônia de inauguração da usina termelétrica Nova Piratininga (em Pedreiras, zona sul de São Paulo).
A afirmação foi feita um dia depois de o Banco Central anunciar a retomada da venda diária de dólares no mercado, em uma tentativa de acalmar os investimentos e conter a desvalorização do real.
Na segunda-feira, data em que a moeda completou oito anos, o dólar bateu o valor recorde desde a implementação do real.
"[Por isso" É preciso que haja aqueles que processem essas demandas [da sociedade", buscando o interesse coletivo e que tenham aquilo que o governador atribuiu a mim, com a generosidade dele. E eu até uso óculos, não posso ver muito longe. Mas gostaria realmente que o Brasil fosse feito com gente que pudesse ver cada vez mais longe", completou.
Poucos minutos antes de FHC falar, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) havia se referido ao presidente como um "estadista" que "enxerga atrás da curva, mas com os pés no chão".
A troca de elogios foi mais longe quando o presidente, ao final de seu discurso, declarou que São Paulo tem "sorte" de ser administrado por Alckmin, a quem chamou de um político "com coragem de fazer sem alarde".
FHC também usou a inauguração como exemplo da importância do investimento estatal no desenvolvimento do país. Fundada em 1954, a usina recebeu novas instalações após parceria entre os governos federal e estadual por meio da Petrobras, responsável por 60% do investimento, da Empresa Metropolitana de Águas e Energia, com 20% de participação, e da Fundação Petrobras de Seguridade Social, com 20%.
"Apraz-me dizer que isso é fruto de um trabalho coordenado entre empresas majoritariamente estatais. Essa visão de que tudo tem de ser estatal, tudo tem de ser privado não é uma visão realista, porque depende das circunstâncias. Não se pode radicalizar. Porque aí transforma-se em uma questão ideológica", afirmou FHC.
Ele defendeu a necessidade de que o país tenha ao menos 10% de sua energia proveniente de uma matriz não-hídrica. "Nem ouso repetir que depende de São Pedro, porque dizem que o presidente quer tirar o corpo da responsabilidade. Mas não é prático estarmos sujeitos sempre a possibilidade de diminuição das chuvas."
O momento de maior constrangimento da cerimônia ocorreu quando o presidente do sindicato dos eletricitários de São Paulo, Antonio Carlos dos Reis, interrompeu o discurso de Alckmin pedindo respeito à categoria. "OK", limitou-se a responder o governador. Carregando uma faixa com o mesmo teor, Reis, que se retirou no momento em que FHC se dirigiu à tribuna, disse que a categoria reivindica 8% de reajuste salarial e prometeu uma greve, inclusive na usina inaugurada ontem, para a próxima quinta-feira.



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