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GOVERNO
Em SP, presidente diz que "se tudo desse certo" não precisaria de políticos; ele afirmou ainda que nem tudo tem de ser privado
Para FHC, "mundo ideal" não teria políticos
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, em
São Paulo, que, se tudo desse certo, não haveria necessidade de políticos ou de estadistas no país.
"Ah, se tudo desse certo. Talvez
até não tivesse graça. Se tudo desse certo, não precisaria de políticos, menos ainda de estadistas.
Mas não dá certo. Há crises, choques, pressões, interesses que não
são conciliáveis facilmente", declarou, durante cerimônia de
inauguração da usina termelétrica Nova Piratininga (em Pedreiras, zona sul de São Paulo).
A afirmação foi feita um dia depois de o Banco Central anunciar
a retomada da venda diária de dólares no mercado, em uma tentativa de acalmar os investimentos e
conter a desvalorização do real.
Na segunda-feira, data em que a
moeda completou oito anos, o
dólar bateu o valor recorde desde
a implementação do real.
"[Por isso" É preciso que haja
aqueles que processem essas demandas [da sociedade", buscando
o interesse coletivo e que tenham
aquilo que o governador atribuiu
a mim, com a generosidade dele.
E eu até uso óculos, não posso ver
muito longe. Mas gostaria realmente que o Brasil fosse feito com
gente que pudesse ver cada vez
mais longe", completou.
Poucos minutos antes de FHC
falar, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) havia se referido
ao presidente como um "estadista" que "enxerga atrás da curva,
mas com os pés no chão".
A troca de elogios foi mais longe
quando o presidente, ao final de
seu discurso, declarou que São
Paulo tem "sorte" de ser administrado por Alckmin, a quem chamou de um político "com coragem de fazer sem alarde".
FHC também usou a inauguração como exemplo da importância do investimento estatal no desenvolvimento do país. Fundada
em 1954, a usina recebeu novas
instalações após parceria entre os
governos federal e estadual por
meio da Petrobras, responsável
por 60% do investimento, da Empresa Metropolitana de Águas e
Energia, com 20% de participação, e da Fundação Petrobras de
Seguridade Social, com 20%.
"Apraz-me dizer que isso é fruto
de um trabalho coordenado entre
empresas majoritariamente estatais. Essa visão de que tudo tem de
ser estatal, tudo tem de ser privado não é uma visão realista, porque depende das circunstâncias.
Não se pode radicalizar. Porque aí
transforma-se em uma questão
ideológica", afirmou FHC.
Ele defendeu a necessidade de
que o país tenha ao menos 10% de
sua energia proveniente de uma
matriz não-hídrica. "Nem ouso
repetir que depende de São Pedro,
porque dizem que o presidente
quer tirar o corpo da responsabilidade. Mas não é prático estarmos sujeitos sempre a possibilidade de diminuição das chuvas."
O momento de maior constrangimento da cerimônia ocorreu
quando o presidente do sindicato
dos eletricitários de São Paulo,
Antonio Carlos dos Reis, interrompeu o discurso de Alckmin
pedindo respeito à categoria.
"OK", limitou-se a responder o
governador. Carregando uma faixa com o mesmo teor, Reis, que se
retirou no momento em que FHC
se dirigiu à tribuna, disse que a categoria reivindica 8% de reajuste
salarial e prometeu uma greve, inclusive na usina inaugurada ontem, para a próxima quinta-feira.
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