São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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Presidente diz que só faz campanha de Serra na TV

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso não vai subir ao palanque de seu candidato nem participar de atos de rua, conforme ele próprio afirmou ontem: "Como cidadão, eu tenho candidato, que é o José Serra, do PSDB. Vou participar da maneira correta, através da televisão etc, mas não acho que seja próprio que o presidente vá fazer campanha na rua", disse FHC ao chegar ontem às 19h47 a uma gelada Buenos Aires.
O presidente participará da 22ª reunião de cúpula do Mercosul, no momento em que o bloco enfrenta a maior crise de seus 11 anos de história. Mas, exercitando o que ele próprio define como "incorrigível otimismo", FHC passou ao largo das perguntas sobre as dificuldades do bloco.
Chegou até a contradizer Serra, que, em entrevista à revista "Época", defendeu a volta do Mercosul ao estágio de zona de livre comércio, deixando portanto de ser união aduaneira, como é hoje.
"Não creio que seja necessário pensar em retrocesso. Temos que pensar em avanço", disse.
Se o Mercosul retroceder à condição de zona de livre comércio, os países que o compõem deixam de aplicar uma tarifa de importação comum para mercadorias de países não-membros e podem, por extensão, negociar acordos comerciais com outros países, sem levar junto os parceiros.
Mas FHC reiterou a prioridade de seu governo, que sempre foi a consolidação do bloco. "É preciso crer no Mercosul, não somente como uma questão eventual, mas olhando-o como força histórica."
O presidente não fez concessão ao pessimismo nem mesmo quando confrontado com o fato de que os quatro países do bloco enfrentam dificuldades econômicas. Até exagerou: "Neste momento, quem vai mal não somos só nós, não. É o mundo".
FHC lembrou que "as dificuldades da economia norte-americana são visíveis também", para perguntar e ele próprio responder: "Isso quer dizer que os EUA vão deixar de ter um papel predominante no mundo? Não. Assim é com o Mercosul também".
Para reforçar a sua tese de que o Mercosul não é um projeto conjuntural, FHC lembrou que, no dia 23, haverá uma nova reunião com a União Européia, para tentar avançar na construção de uma zona de livre comércio com eles.
A crise argentina, em especial, tem paralisado a negociação com os europeus, mas FHC antecipa: "Nós vamos fazer propostas concretas". Como parecia otimismo demais, emendou: "Vocês sabem que sou um incorrigível otimista, mas também sou realista. Se não fosse, não seria presidente duas vezes do Brasil".
Da base aérea em que desembarcou do velho e ruidoso "Sucatão", o Boeing 737 da Força Aérea Brasileira prefixo 2115, FHC foi à residência oficial dos presidentes argentinos, a quinta de Olivos, para um jantar que abre a cúpula.



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