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Presidente diz que só faz campanha de Serra na TV
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
O presidente Fernando Henrique Cardoso não vai subir ao palanque de seu candidato nem participar de atos de rua, conforme
ele próprio afirmou ontem: "Como cidadão, eu tenho candidato,
que é o José Serra, do PSDB. Vou
participar da maneira correta,
através da televisão etc, mas não
acho que seja próprio que o presidente vá fazer campanha na rua",
disse FHC ao chegar ontem às
19h47 a uma gelada Buenos Aires.
O presidente participará da 22ª
reunião de cúpula do Mercosul,
no momento em que o bloco enfrenta a maior crise de seus 11
anos de história. Mas, exercitando
o que ele próprio define como
"incorrigível otimismo", FHC
passou ao largo das perguntas sobre as dificuldades do bloco.
Chegou até a contradizer Serra,
que, em entrevista à revista "Época", defendeu a volta do Mercosul
ao estágio de zona de livre comércio, deixando portanto de ser
união aduaneira, como é hoje.
"Não creio que seja necessário
pensar em retrocesso. Temos que
pensar em avanço", disse.
Se o Mercosul retroceder à condição de zona de livre comércio,
os países que o compõem deixam
de aplicar uma tarifa de importação comum para mercadorias de
países não-membros e podem,
por extensão, negociar acordos
comerciais com outros países,
sem levar junto os parceiros.
Mas FHC reiterou a prioridade
de seu governo, que sempre foi a
consolidação do bloco. "É preciso
crer no Mercosul, não somente
como uma questão eventual, mas
olhando-o como força histórica."
O presidente não fez concessão
ao pessimismo nem mesmo
quando confrontado com o fato
de que os quatro países do bloco
enfrentam dificuldades econômicas. Até exagerou: "Neste momento, quem vai mal não somos
só nós, não. É o mundo".
FHC lembrou que "as dificuldades da economia norte-americana são visíveis também", para
perguntar e ele próprio responder: "Isso quer dizer que os EUA
vão deixar de ter um papel predominante no mundo? Não. Assim é
com o Mercosul também".
Para reforçar a sua tese de que o
Mercosul não é um projeto conjuntural, FHC lembrou que, no
dia 23, haverá uma nova reunião
com a União Européia, para tentar avançar na construção de uma
zona de livre comércio com eles.
A crise argentina, em especial,
tem paralisado a negociação com
os europeus, mas FHC antecipa:
"Nós vamos fazer propostas concretas". Como parecia otimismo
demais, emendou: "Vocês sabem
que sou um incorrigível otimista,
mas também sou realista. Se não
fosse, não seria presidente duas
vezes do Brasil".
Da base aérea em que desembarcou do velho e ruidoso "Sucatão", o Boeing 737 da Força Aérea
Brasileira prefixo 2115, FHC foi à
residência oficial dos presidentes
argentinos, a quinta de Olivos, para um jantar que abre a cúpula.
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