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CRISE FEDERAL
Mais 1 delegado e 9 agentes serão destituídos de suas funções
Comissão afasta mais dez
membros da Polícia Federal
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
A comissão criada pelo Ministério da Justiça para levantar todas
as situações irregulares em que estão envolvidos funcionários da
Polícia Federal concluiu ontem
que pelo menos mais um delegado
e nove agentes serão afastados das
funções que desempenham hoje.
Os dez afastados dessa segunda
etapa da operação de "saneamento" da PF são um delegado e dois
agentes de São Paulo e sete agentes
do Rio de Janeiro.
Os dez são passíveis de "suspensão preventiva", como manda a
medida provisória editada na semana passada pelo governo, porque, explicou ontem o representante da OAB na comissão, o advogado Paulo Castelo Branco, respondem a processos disciplinares.
A MP tornou obrigatório o afastamento de policiais acusados de
praticar infrações graves, como
extorsão e envolvimento com tráfico de entorpecentes. Eles serão
afastados da PF e responderão em
casa aos processos, mas continuarão a receber salários.
"O disposto nesta MP aplica-se aos processos disciplinares
em curso", diz o artigo 2º da medida assinada por FHC no dia 30.
Os três policiais sujeitos a afastamento em São Paulo são: o delegado Elton da Silva Jacques, acusado
de apreender dólares de pessoas
detidas; o agente William Vidal,
acusado de praticar extorsão; e o
agente Sandro Eschenazi, acusado
de transportar arma ilegalmente.
No Rio, os agentes sujeitos a
afastamento são os seguintes: Luciano Botelho, Carlos Santos e
Paulo Leal, acusados de praticar
extorsão; Leovegildo Fernandes,
Rogério Manssini, Ivaldo Silva e
Flávio Daemon, acusados de envolvimento com tráfico de drogas.
Os policiais envolvidos em processos disciplinares foram levantados pela Corregedoria da Polícia
Federal. Os casos estão sendo analisados pela comissão especial
criada pelo Ministério da Justiça
para rever as providências tomadas pela PF sobre policiais acusados de praticar irregularidades.
A lista dos policiais que serão
afastados da PF será divulgada na
próxima quarta ou quinta-feira
pelo ministro Renan Calheiros
(Justiça). Poderão ser incluídos
outros policiais que respondem a
processos disciplinares ainda não
concluídos pelo ministério.
Calheiros disse ontem à Folha
que a orientação dada à comissão
é clara: "Se o caso está enquadrado nas disposições da MP, não tem
o que fazer, é afastar mesmo. Mas
eu não vou permitir que seja podado o direito de defesa".
Na semana passada, foram destituídos de cargos de confiança em
São Paulo os delegados Wilson Alfredo Perpétuo e Mário Ikeda por
pressões da Procuradoria Geral da
República. Perpétuo foi condenado por facilitação de contrabando.
Ikeda responde a processo por não
prender policiais suspeitos.
A comissão foi criada por causa
da crise aberta entre a PF e a Procuradoria Geral da República em
razão das ameaças de mortes feitas
à procuradora Maria Cristiana
Amorim. Ela investiga policiais federais denunciados pelo delegado
Alcioni Santana, morto no final de
maio em São Paulo.
O advogado Paulo Castelo Branco, representante da OAB na comissão especial do Ministério da
Justiça, disse que os policiais que
respondem a processos disciplinares poderão recorrer à Justiça para
não serem afastados.
Segundo o advogado, os policiais podem alegar que a MP retroage para prejudicar, ferindo
princípio jurídico de que a lei só
pode retroagir para beneficiar. Isso porque os processos disciplinares foram instaurados sem prever
a punição do afastamento.
Por isso, na avaliação de Castelo
Branco, o Ministério da Justiça
pouco poderá fazer em relação aos
147 policiais relacionados no dossiê entregue anteontem pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, a Calheiros.
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