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PRIVATIZAÇÃO
Ceterp será vendida dia 24 em leilão na Bolsa
Acordo de petista prejudica telefônica
ELVIRA LOBATO
enviada especial a Ribeirão Preto
O Partido dos Trabalhadores,
que vinha criticando a privatização da Telebrás, passou de estilingue a vidraça.
O prefeito de Ribeirão Preto,
Luiz Roberto Jábali (PSDB), acusa
o presidente do PT de São Paulo e
seu antecessor na prefeitura, Antônio Palocci, de ter assinado dois
acordos de acionistas que prejudicaram o município na privatização da telefônica local, a Ceterp. A
empresa será vendida em leilão na
Bovespa, no próximo dia 24.
Os acordos favoreceram os fundos de pensão dos empregados do
Banco do Brasil (Previ), da Telebrás (Sistel) e da Embratel (Telos),
que juntos têm 45% das ações da
Ceterp, em detrimento do acionista controlador, a prefeitura, que
possui 51%.
O primeiro acordo tirou o poder
de mando da prefeitura na telefônica, ao estipular que os assuntos
mais relevantes da empresa -reajustes salariais, investimentos,
venda de ativos e outros- só poderiam ser aprovados com anuência de 5 dos 6 membros do conselho de administração.
A prefeitura indica três conselheiros, os fundos indicam dois, e
o sexto é indicado pelos empregados. Ou seja, mesmo com o voto
do representante dos funcionários, a prefeitura não consegue
impor sua vontade nas votações.
O segundo acordo, ainda mais
polêmico, deu aos fundos o direito
de preferência na compra das demais ações da Ceterp. Pelo contrato, a prefeitura faria o leilão público. Definido o vencedor, o leilão
ficaria suspenso por três dias para
que os fundos decidissem se queriam ou não exercer seu direito de
preferência.
Em caso positivo, poderiam
comprar as ações pelo preço oferecido pelo vencedor do leilão,
que voltaria para casa de mãos vazias. Especialistas ouvidos pela
Folha foram unânimes em afirmar
que tal limitação inviabilizaria o
leilão da Ceterp.
E há mais. Em caso de privatização, o acordo dá aos fundos a opção de venderem suas ações junto
com as da prefeitura, nas mesmas
condições de preço. Ou seja, mesmo minoritários, venderiam as
ações com todas as vantagens obtidas pelo controlador.
Palocci assinou os acordos em
setembro de 96, apesar de três pareceres jurídicos desaconselhando
a negociação: da secretaria jurídica da prefeitura, da professora de
direito administrativo da USP Maria Sylvia Di Pietro e da Ceterp.
O procurador geral do município, Dirceu Chrysóstomo, diz que
nos arquivos da prefeitura só
consta um parecer favorável, emitido pelo escritório Motta, Fernandes Rocha e Associados, do
Rio de Janeiro. O escritório assessorava os fundos de pensão.
Depois de assinar os documentos, Palocci os enviou para apreciação do Tribunal de Contas do
Estado, que respondeu que não
iria opinar sobre fato consumado
-o TCE só analisou as contas da
prefeitura até 95.
O ex-prefeito não submeteu os
acordos à aprovação da Câmara
Municipal, nem registrou os documentos nos livros da telefônica
julgando que, com isso, os contratos perderiam a validade. Mas não
foi o que aconteceu.
Com o processo de venda da Ceterp, os fundos exigiram o cumprimento da cláusula que obriga a
prefeitura a incluir as ações deles
no edital de privatização.
O plano de outorgas das telecomunicações aprovado pelo presidente FHC diz que após a privatização da Telebrás, marcada para
29 de julho, a Ceterp só poderá ser
vendida para quem comprar a Telesp. Para não ficar nas mãos de
um comprador, a prefeitura marcou o leilão para o dia 24, e os fundos exigiram sair juntos. "Não vamos afundar sozinhos", afirma o
executivo de um dos fundos.
No início das negociações, os
fundos exigiam que suas ações
fossem vendidas nas mesmas condições de preço e pagamento obtidas pelo controlador, como prevê
o acordo. O prefeito, Luiz Roberto
Jábali (PSDB), aceitava a venda
conjunta desde que elas fossem
oferecidas por 60% do preço mínimo fixado para as ações da prefeitura, para valorizar o controle.
Os fundos ameaçaram ir à Justiça para fazer valer o acordo, e o
ministro das Comunicações, Luiz
Carlos Mendonça de Barros, assumiu o papel de mediador na queda
de braço. Na última sexta-feira, as
fundações concordaram em vender suas ações por 70% do valor
que for obtido pela prefeitura,
desde que o percentual represente
o mínimo de R$ 12,00 por lote de
mil ações. Abaixo disso, não há
negociação, afirmam os fundos.
Esse preço já representa um ganho extraordinário. Em janeiro de
96, eles compraram o lote de mil
ações por R$ 10,10. Em seguida,
cada ação foi desmembrada em
duas, e o preço pago passou a representar R$ 5,05 por lote de mil.
A inflação decorrida desde então
(pelo IGP-M, da Fundação Getúlio
Vargas) é de 19,99%.
Luiz Roberto Jábali acusa seu
antecessor de ter vendido as ações
da Ceterp com prejuízo para a prefeitura. As ações foram vendidas
por 55% do valor patrimonial.
Foi Jábali quem levou a Mendonça de Barros os números comparando o preço obtido pela prefeitura com o valor mínimo por linha fixado para a venda da Telesp.
Com base nos números, o ministro acusou o PT de ter vendido as
ações da Ceterp por "preço vil".
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