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SUCESSÃO
Brasil vai ser o primeiro país latino-americano visitado pelo líder sul-africano depois de eleito presidente
Itamaraty acelera vinda de Mandela ao país
RENATA GIRALDI
da Sucursal de Brasília
A imagem do
presidente
sul-africano,
Nelson Mandela, 79, símbolo
da luta contra o
apartheid (regime de segregação racial), vai ser usada pelo governo brasileiro para reforçar a
imagem de presidente estadista e
candidato à reeleição de Fernando
Henrique Cardoso, 67.
No dia 22, os dois se reúnem em
Brasília para conversar sobre política externa. A viagem foi uma
bem arquitetada negociação do
Itamaraty para que Mandela retribuísse a visita do presidente brasileiro à Africa do Sul antes de FHC
terminar o seu mandato.
Outra motivação especial: a visita de Mandela ao Brasil é a primeira a um país latino-americano, depois que o sul-africano foi eleito.
Em 1994, na segunda vez que
disputou as eleições presidenciais,
Luiz Inácio Lula da Silva foi à África do Sul e esteve com Mandela,
que havia acabado de assumir a
Presidência da República.
A interpretação da visita foi a de
que Lula queria ter sua imagem associada à de Mandela -que conseguiu unir brancos e negros no
poder-, após 46 anos de apartheid. No Brasil, Lula se mostraria
disposto a desfazer a imagem de
radical.
Do Brasil, Mandela segue para a
Argentina, onde participa, como
convidado especial, da reunião do
Mercosul em Ushuaia.
Para a visita de apenas um dia
estão sendo programadas: salva de
21 tiros de canhão, revista de tropas, cerimônias nos palácios do
Planalto e do Itamaraty (sede do
Ministério das Relações Exteriores) e substituição do tradicional
jantar de autoridades por um almoço -evitando assim o desgaste
físico do visitante, como pediram
os assessores dele.
A visita de Mandela a qualquer
país ou autoridade representa notícias e imagens espalhadas pelo
mundo. Os encontros dele com o
papa João Paulo 2º e com o primeiro-ministro britânico, Tony
Blair, foram divulgados pela imprensa internacional com destaque pela importância política.
FHC e Mandela já se encontraram outras duas vezes: em novembro de 1996, quando o brasileiro
visitou o colega na África do Sul, e
recentemente na Suíça. Na visita a
Mandela, FHC afirmou que Brasil
e África do Sul têm problemas parecidos e citou o esforço dos dois
países para consolidar a democracia e melhorar a qualidade da saúde pública.
"Somos vizinhos separados pelo
oceano Atlântico", disse Mandela,
na ocasião. "Vamos construir
uma ponte sobre o Atlântico", respondeu FHC.
Desta vez, além de ressaltar os
pontos em comum, os dois vão
conversar sobre o empenho para
consolidar as posições de líderes
econômicos: o Brasil no Mercosul
e a África do Sul na Sadc (bloco
econômico que reúne 12 países
africanos).
FHC e Mandela vão tratar também da Zona de Paz e Cooperação
do Atlântico Sul, que reúne os países que têm o oceano em comum e
defendem a desnuclearização da
área. Eles aproveitarão que Índia e
Paquistão realizaram testes nucleares para reafirmar a disposição
de paz.
Fim de mandato
Ao chegar ao Brasil, Mandela terá 80 anos, dos quais 27 vividos na
prisão, e estará no último período
do mandato presidencial. Um dos
favoritos para sucedê-lo é o atual
vice-presidente Thabo Mbeki, 56.
Mandela ganhou projeção internacional ao liderar o processo de
negociação que conduziu a maioria negra ao poder na África do
Sul.
Em 1993, Mandela recebeu o
Prêmio Nobel da Paz e dividiu-o
com o então presidente da República, Frederik de Klerk, que revogou as leis raciais e libertou-o.
Mandela era então o símbolo da
luta contra o apartheid, regime de
segregação racial que proibia os
negros de ter acesso à propriedade
da terra e à participação política,
obrigando-os a viver em zonas residenciais separadas dos brancos.
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