São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998

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SUCESSÃO
Brasil vai ser o primeiro país latino-americano visitado pelo líder sul-africano depois de eleito presidente
Itamaraty acelera vinda de Mandela ao país

RENATA GIRALDI
da Sucursal de Brasília


A imagem do presidente sul-africano, Nelson Mandela, 79, símbolo da luta contra o apartheid (regime de segregação racial), vai ser usada pelo governo brasileiro para reforçar a imagem de presidente estadista e candidato à reeleição de Fernando Henrique Cardoso, 67.
No dia 22, os dois se reúnem em Brasília para conversar sobre política externa. A viagem foi uma bem arquitetada negociação do Itamaraty para que Mandela retribuísse a visita do presidente brasileiro à Africa do Sul antes de FHC terminar o seu mandato.
Outra motivação especial: a visita de Mandela ao Brasil é a primeira a um país latino-americano, depois que o sul-africano foi eleito.
Em 1994, na segunda vez que disputou as eleições presidenciais, Luiz Inácio Lula da Silva foi à África do Sul e esteve com Mandela, que havia acabado de assumir a Presidência da República.
A interpretação da visita foi a de que Lula queria ter sua imagem associada à de Mandela -que conseguiu unir brancos e negros no poder-, após 46 anos de apartheid. No Brasil, Lula se mostraria disposto a desfazer a imagem de radical.
Do Brasil, Mandela segue para a Argentina, onde participa, como convidado especial, da reunião do Mercosul em Ushuaia.
Para a visita de apenas um dia estão sendo programadas: salva de 21 tiros de canhão, revista de tropas, cerimônias nos palácios do Planalto e do Itamaraty (sede do Ministério das Relações Exteriores) e substituição do tradicional jantar de autoridades por um almoço -evitando assim o desgaste físico do visitante, como pediram os assessores dele.
A visita de Mandela a qualquer país ou autoridade representa notícias e imagens espalhadas pelo mundo. Os encontros dele com o papa João Paulo 2º e com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, foram divulgados pela imprensa internacional com destaque pela importância política.
FHC e Mandela já se encontraram outras duas vezes: em novembro de 1996, quando o brasileiro visitou o colega na África do Sul, e recentemente na Suíça. Na visita a Mandela, FHC afirmou que Brasil e África do Sul têm problemas parecidos e citou o esforço dos dois países para consolidar a democracia e melhorar a qualidade da saúde pública.
"Somos vizinhos separados pelo oceano Atlântico", disse Mandela, na ocasião. "Vamos construir uma ponte sobre o Atlântico", respondeu FHC.
Desta vez, além de ressaltar os pontos em comum, os dois vão conversar sobre o empenho para consolidar as posições de líderes econômicos: o Brasil no Mercosul e a África do Sul na Sadc (bloco econômico que reúne 12 países africanos).
FHC e Mandela vão tratar também da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul, que reúne os países que têm o oceano em comum e defendem a desnuclearização da área. Eles aproveitarão que Índia e Paquistão realizaram testes nucleares para reafirmar a disposição de paz.

Fim de mandato
Ao chegar ao Brasil, Mandela terá 80 anos, dos quais 27 vividos na prisão, e estará no último período do mandato presidencial. Um dos favoritos para sucedê-lo é o atual vice-presidente Thabo Mbeki, 56.
Mandela ganhou projeção internacional ao liderar o processo de negociação que conduziu a maioria negra ao poder na África do Sul.
Em 1993, Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz e dividiu-o com o então presidente da República, Frederik de Klerk, que revogou as leis raciais e libertou-o.
Mandela era então o símbolo da luta contra o apartheid, regime de segregação racial que proibia os negros de ter acesso à propriedade da terra e à participação política, obrigando-os a viver em zonas residenciais separadas dos brancos.



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