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CELSO PINTO
O pacote fiscal de 99
A discussão sobre se o governo
terá ou não de tomar medidas
fiscais depois das eleições é, em
boa medida, ociosa. O governo
terá de apertar a política fiscal
em 99 porque, se não fizer nada,
não conseguirá sequer repetir o
mau resultado deste ano.
A primeira medida, aliás, já está andando. Está tramitando o
projeto que prorroga por um ano
o malfadado imposto do cheque,
a CPMF. O que apenas confirma
a suspeita de que os impostos,
mesmo os provisórios, assim como os diamantes, são eternos.
Se não conseguir prorrogar a
CPMF, o governo vai perder algo
como 1% do Produto Interno
Bruto (PIB) em receita no próximo ano. A partir de fevereiro, cada mês de atraso na aprovação
da continuidade da CPMF significará uma perda de R$ 700 milhões para os cofres do governo.
A conta, contudo, não pára aí.
A Receita Federal calcula em R$
4 bilhões a arrecadação obtida
com o imposto cobrado sobre o
estoque das aplicações financeiras. É aquele imposto criado pelo
pacote de outubro, em substituição ao aumento do Imposto de
Renda previsto no projeto original.
Dos R$ 4 bilhões, só entraram
no cofre, até agora, cerca da metade. O restante está pendente: os
fundos de pensão e alguns investidores institucionais recorreram
contra o imposto na Justiça. O
governo imagina, contudo, que
pode ganhar na Justiça.
O imposto sobre o estoque só
gera receita uma vez. Se conseguir embolsar os R$ 4 bilhões
neste ano, o governo ficará com
0,5% de receita a menos em 99.
Outra receita que não se repetirá em 99 é a das concessões, especialmente de telecomunicações. O
cálculo é que entrem R$ 4,2 bilhões este ano, ou mais 0,5% do
PIB.
A favor do governo, contam alguns fatores. Uma parcela de R$
1,1 bilhão de concessões deverá
ser paga em 99, se as empresas
não resolverem antecipar o pagamento, como já aconteceu em um
caso.
O grande trunfo, contudo, pode
ser a venda de concessões para as
chamadas "empresas-espelho" da
telefonia. No mercado, alguns
calculam em até R$ 10 bilhões o
potencial de arrecadação com as
empresas-espelho. Se as condições de pagamento acompanharem as da privatização da Telebrás, 40% do total seriam pagos à
vista; o restante em três anos.
Portanto, se essa avaliação se
mostrar realista, pode ser que
mais R$ 4 bilhões entrem em concessões em 99. O dinheiro gerado
por concessão é renovável (ainda
que apenas em 20 anos). Por essa
razão, o FMI aceita que os recursos engordem a receita corrente,
reduzindo o déficit fiscal.
A dúvida é saber quando o governo vai vender as empresas-espelho. A previsão é que isso aconteça ainda em dezembro. Se for
assim, pode reduzir o déficit deste
ano e trazê-lo mais perto de 6%
do PIB. Em compensação, ampliará o buraco de receita que
não se repetirá em 99.
Supondo que a CPMF seja prorrogada e que as concessões das
empresas-espelho gerem caixa só
em 99, ainda assim, o governo
precisaria encontrar até 0,5% do
PIB em receitas adicionais apenas para manter o mesmo nível
deste ano. Como o próprio governo calcula que seria preciso reduzir o déficit público em pelo menos 2% do PIB para torná-lo palatável, fica claro o perigo de não
fazer nada na área fiscal.
O governo sabe disso. Uma das
alternativas em exame é usar um
recurso criado pela reforma administrativa: colocar funcionários públicos em disponibilidade.
Depois da reforma, funcionários
em disponibilidade passam a ganhar apenas um terço de seu salário, gerando, portanto, uma
economia para o governo.
Seria uma alternativa, obviamente, para depois das eleições.
Alguns casos pontuais de funcionários colocados em disponibilidade estão servindo como teste
da eficácia da medida, do ponto
de vista jurídico.
A hipótese menos provável e
mais preocupante seria o governo
ficar parado em relação a 99.
Não seria prudente contar apenas com uma nova rodada de
boa vontade dos mercados em relação às três novas reformas: a
mudança na Previdência, a reforma fiscal e a trabalhista. A
reforma com maior impacto fiscal imediato, a previdenciária,
deve ter uma tramitação longa e
turbulenta.
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