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GOVERNO
José Eduardo de Andrade Vieira afirma que ex-assessor fazia tráfico de influência e cuidava das contas de FHC
EJ ocupou lugar de Motta, diz ex-ministro
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
Para o ex-senador José Eduardo
de Andrade Vieira, o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo
Jorge praticava tráfico de influência e ocupou as funções de Sérgio
Motta, após a morte do ministro
em 1998, controlando inclusive as
finanças pessoais do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Andrade Vieira foi articulador
da primeira campanha de FHC,
em 1994. Segundo ele, dessa campanha, sobraram R$ 30 milhões
no caixa ""oficial" e cerca de R$ 100
milhões de contribuições ""extra-oficiais" -ou seja, doações sem
recibos de empresários.
""Antes da morte do Serjão, ele
(Eduardo Jorge) não tinha visibilidade. Depois, assumiu a linha de
frente. Ocupou um espaço de primeira estrela. Depois da morte é
que o presidente levou EJ para a
sala ao lado da Presidência, no Palácio do Planalto", disse. Motta
morreu em 19 de abril de 1998.
Segundo Vieira, EJ controlava
as finanças particulares do presidente. ""É o tal negócio. Quem se
ocupa das compras e pagamentos
do presidente? Antes era o Serjão,
depois foi ele."
Fundos de pensão
Vieira disse ainda que FHC tinha conhecimento de indicações
feitas por Eduardo Jorge para cargos nos poderosos fundos de pensão das empresas estatais. ""Nessa
questão das nomeações para os
fundos de pensão, ele não faria
nada que o presidente não estivesse sabendo."
De acordo com Vieira, EJ exercia tráfico de influência. ""Não vou
dizer que o presidente tinha conhecimento de todas as atividades do Eduardo Jorge. Inicialmente sim, depois, sabe como é,
toda pessoa que trabalha com o
presidente acaba tendo influência. No final, vai criando asa, vai
voando sozinho e pode ser que o
presidente não soubesse de alguma coisa."
Vieira foi o controlador do Bamerindus, banco que quebrou e
sofreu intervenção federal em
1997, acabando sendo vendido
para o HSBC inglês -fato que
nunca aceitou.
Como senador e ministro nos
governos Itamar Franco e FHC
(primeiro mandato), Vieira dá
sua versão à ascensão de Eduardo
Jorge ao poder e nega ter sido o
principal articulador financeiro
da campanha de 1994.
Ele diz ter sustentado ""praticamente sozinho" a campanha até
FHC atingir o patamar de 20%
das intenções de voto. ""Depois,
foi grande o afluxo de contribuições", afirma.
Foi aí, segundo Vieira, que EJ
começou a participar efetivamente da campanha -na disputa pela
reeleição, em 1998, o então secretário-geral da Presidência virou o
tesoureiro oficial de FHC.
Segundo o ex-banqueiro, o verdadeiro caixa da campanha de
FHC em 1994 não foi ele, mas
Motta -que, disse, ""controlava
as entradas, tanto oficiais como
não-oficiais". Questionado sobre
o destino dessas sobras, Vieira
desconversa e diz não saber.
Dinheiro de seguradoras
O ex-senador disse ter conhecimento de que, entre fevereiro e
março de 1995, EJ recebeu contribuições de João Elísio Ferraz de
Campos, presidente da Fenaseg
(Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e Capitalização).
"Não era dinheiro dele (Campos), mas sim das seguradoras e
não era dinheiro para campanha,
já que houve sobra. Eu desconheço a finalidade, a destinação desses aportes de recursos", afirmou
o ex-senador, do PTB paranaense.
Vieira disse que Campos iria negar a história. ""Ele levou o Marcos
Malan (irmão do ministro Pedro
Malan) à minha casa para discutir
o caso do Bamerindus e depois
negou, e irá negar que repassou
dinheiro para Eduardo Jorge, mas
na época ele disse até o valor, que
hoje não lembro."
Vieira já havia dito anteriormente que Marcos Malan teria
negociado uma tentativa para salvar o Bamerindus da quebra. Interpelado judicialmente, Vieira
não confirmou declaração.
Negativa
João Elísio Ferraz de Campos
negou ontem qualquer ""aporte de
dinheiro, de forma alguma, para
Eduardo Jorge".
Segundo Campos, caso as seguradoras fossem repassar dinheiro
para EJ ""fariam isso diretamente,
não usando a Fenaseg como intermediária".
Campos disse não ""entender as
ilações de Vieira". ""Nunca fomos
(as seguradoras) tão maltratadas
em um governo como na era Fernando Henrique Cardoso. Depois, qual a lógica de dar dinheiro
depois da campanha encerrada?",
afirmou Campos.
Campos disse ser amigo de EJ e
que ambos possuem um relacionamento ""altamente positivo". O
mesmo, segundo ele, não ocorre
com relação a Vieira -com
quem trabalhou por cinco anos.
""Depois do prejuízo que tive com
a quebra do Bamerindus, nós nos
afastamos", afirmou.
Campos e Vieira estiveram juntos na administração do Bamerindus de 1987 a 1992, quando
Campos deixou o cargo de administrador da seguradora do banco
para assumir a presidência da Fenaseg.
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