São Paulo, sábado, 05 de agosto de 2000


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GOVERNO
José Eduardo de Andrade Vieira afirma que ex-assessor fazia tráfico de influência e cuidava das contas de FHC
EJ ocupou lugar de Motta, diz ex-ministro

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

Para o ex-senador José Eduardo de Andrade Vieira, o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge praticava tráfico de influência e ocupou as funções de Sérgio Motta, após a morte do ministro em 1998, controlando inclusive as finanças pessoais do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Andrade Vieira foi articulador da primeira campanha de FHC, em 1994. Segundo ele, dessa campanha, sobraram R$ 30 milhões no caixa ""oficial" e cerca de R$ 100 milhões de contribuições ""extra-oficiais" -ou seja, doações sem recibos de empresários.
""Antes da morte do Serjão, ele (Eduardo Jorge) não tinha visibilidade. Depois, assumiu a linha de frente. Ocupou um espaço de primeira estrela. Depois da morte é que o presidente levou EJ para a sala ao lado da Presidência, no Palácio do Planalto", disse. Motta morreu em 19 de abril de 1998.
Segundo Vieira, EJ controlava as finanças particulares do presidente. ""É o tal negócio. Quem se ocupa das compras e pagamentos do presidente? Antes era o Serjão, depois foi ele."

Fundos de pensão
Vieira disse ainda que FHC tinha conhecimento de indicações feitas por Eduardo Jorge para cargos nos poderosos fundos de pensão das empresas estatais. ""Nessa questão das nomeações para os fundos de pensão, ele não faria nada que o presidente não estivesse sabendo."
De acordo com Vieira, EJ exercia tráfico de influência. ""Não vou dizer que o presidente tinha conhecimento de todas as atividades do Eduardo Jorge. Inicialmente sim, depois, sabe como é, toda pessoa que trabalha com o presidente acaba tendo influência. No final, vai criando asa, vai voando sozinho e pode ser que o presidente não soubesse de alguma coisa."
Vieira foi o controlador do Bamerindus, banco que quebrou e sofreu intervenção federal em 1997, acabando sendo vendido para o HSBC inglês -fato que nunca aceitou.
Como senador e ministro nos governos Itamar Franco e FHC (primeiro mandato), Vieira dá sua versão à ascensão de Eduardo Jorge ao poder e nega ter sido o principal articulador financeiro da campanha de 1994.
Ele diz ter sustentado ""praticamente sozinho" a campanha até FHC atingir o patamar de 20% das intenções de voto. ""Depois, foi grande o afluxo de contribuições", afirma.
Foi aí, segundo Vieira, que EJ começou a participar efetivamente da campanha -na disputa pela reeleição, em 1998, o então secretário-geral da Presidência virou o tesoureiro oficial de FHC.
Segundo o ex-banqueiro, o verdadeiro caixa da campanha de FHC em 1994 não foi ele, mas Motta -que, disse, ""controlava as entradas, tanto oficiais como não-oficiais". Questionado sobre o destino dessas sobras, Vieira desconversa e diz não saber.

Dinheiro de seguradoras
O ex-senador disse ter conhecimento de que, entre fevereiro e março de 1995, EJ recebeu contribuições de João Elísio Ferraz de Campos, presidente da Fenaseg (Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e Capitalização).
"Não era dinheiro dele (Campos), mas sim das seguradoras e não era dinheiro para campanha, já que houve sobra. Eu desconheço a finalidade, a destinação desses aportes de recursos", afirmou o ex-senador, do PTB paranaense.
Vieira disse que Campos iria negar a história. ""Ele levou o Marcos Malan (irmão do ministro Pedro Malan) à minha casa para discutir o caso do Bamerindus e depois negou, e irá negar que repassou dinheiro para Eduardo Jorge, mas na época ele disse até o valor, que hoje não lembro."
Vieira já havia dito anteriormente que Marcos Malan teria negociado uma tentativa para salvar o Bamerindus da quebra. Interpelado judicialmente, Vieira não confirmou declaração.

Negativa
João Elísio Ferraz de Campos negou ontem qualquer ""aporte de dinheiro, de forma alguma, para Eduardo Jorge".
Segundo Campos, caso as seguradoras fossem repassar dinheiro para EJ ""fariam isso diretamente, não usando a Fenaseg como intermediária".
Campos disse não ""entender as ilações de Vieira". ""Nunca fomos (as seguradoras) tão maltratadas em um governo como na era Fernando Henrique Cardoso. Depois, qual a lógica de dar dinheiro depois da campanha encerrada?", afirmou Campos.
Campos disse ser amigo de EJ e que ambos possuem um relacionamento ""altamente positivo". O mesmo, segundo ele, não ocorre com relação a Vieira -com quem trabalhou por cinco anos. ""Depois do prejuízo que tive com a quebra do Bamerindus, nós nos afastamos", afirmou.
Campos e Vieira estiveram juntos na administração do Bamerindus de 1987 a 1992, quando Campos deixou o cargo de administrador da seguradora do banco para assumir a presidência da Fenaseg.


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