São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2001

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FHC não descarta supervisão da PM por Exército

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu entrar num tema altamente polêmico e não descartou a volta da supervisão das polícias militares pelo Exército, eliminada pela Constituição de 1988. "É válida", disse ele à Folha. "Eu sei que é complicada e que não pode ser imposta, mas tem que ser discutida."
O que está praticamente afastada é a criação de uma Guarda Nacional, conforme deixou claro.
Segundo FHC, a idéia partiu basicamente do governador Almir Gabriel (PA), mas não resolve o problema de segurança pública nem a crise das polícias militar e civil nos Estados.
"Quem mandaria na Guarda Nacional? Quem articularia os setores das polícias? Quem cuidaria do conjunto? Como sair de São Paulo para Minas, por exemplo? Quantos anos demoraria para formar essa gente?"
A enxurrada de perguntas praticamente a exclui do pacote de medidas na área de segurança que deve ser anunciado amanhã.
Insistindo em que a "eficácia de uma guarda nacional, além de duvidosa, é de curto prazo", o presidente lembrou que o efetivo policial em alguns Estados já é muito grande. Em São Paulo, por exemplo, disse, de cabeça, que são cerca de 85 mil policiais militares e de 120 mil a 130 mil policiais civis.
"É preciso um processo de integração, com um só comando. O que acrescentaria uma guarda nacional?", afirmou.
Segundo FHC, não existe uma saída mágica para o problema: "A única solução é botar as polícias que já existem funcionando direito. Não adianta pegar um problema que é dos Estados e jogar no colo da União".
FHC ressaltou que "os recrutas não têm treinamento de polícia", mas lembrou que o artigo 142 da Constituição prevê que o Exército pode ser chamado para restabelecer a lei e a ordem. Em caso de motim das polícias, por exemplo.
"Isso não tem nada de antidemocrático. Antidemocrático é ameaçar a lei e a ordem", disse ele. "Salários baixos fazem parte da história das polícias. Ninguém gosta. Mas não é pretexto para desagregação."
Em sua avaliação, há um forte fator político-eleitoral nos movimentos dos PMs em alguns Estados, porque o ano é pré-eleitoral, e os políticos ou candidatos engrossam o coro. "As reivindicações podem até ser justas, mas a política engrossa o coro."
No ano passado, FHC disse que o governo investiu cerca de R$ 250 milhões nessa área. Neste ano, estão previstos R$ 400 milhões. "Mas não adianta aplicar só em armas e equipamentos, é preciso investir principalmente em treinamento e capacitação de pessoal", opinou.
(ELIANE CANTANHÊDE)



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