São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Obsessão de Paulo Renato com o Planalto preocupa FHC, que quer disputa interna sob seu controle

Tucanos tentam minar vantagem de Serra

SANDRA BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou a amigos sua preocupação com a "obsessão" de Paulo Renato. O ministro da Educação, segundo confidenciou FHC, só pensa naquilo -a Presidência da República.
A atitude de Paulo Renato, que vem usando as realizações de sua pasta como vitrine para viabilizar-se como candidato, chamou a atenção do Planalto, pela insistência na idéia fixa. Ele é hoje o mais desinibido pré-candidato do partido, mas está longe de ser o único tucano que sonha com o trono de FHC. Há outros "azarões" no ninho tentando minar o favoritismo que ainda pertence a José Serra, ministro da Saúde e desafeto de Paulo Renato há muito tempo.
A ameaça do apagão e o mau momento do governo levaram Serra a desacelerar sua campanha. O ministro desapareceu do noticiário político estrategicamente no último mês. A prudência calculada deu ânimo a seus rivais dentro do partido. Hoje, são sete os nomes tucanos lembrados.
O motivo de tanto assanhamento, segundo o sociólogo Antônio Lavareda, diretor da consultoria de comunicação MCI, é o fato de o PSDB não ter um nome "natural" para 2002. "Se houvesse um candidato que se apresentasse de saída com densidade eleitoral, isso desestimularia e até inibiria que outros pessoas se lançassem."
A disputa no tucanato agrada ao presidente, desde que não saia de seu controle e termine expondo as rusgas internas do partido. "É bom para o governo ter vários nomes tentando ser o candidato do partido de FHC", diz Lavareda.
"Precisamos afunilar esse processo e construir alternativa do PSDB, que deve ser o Serra", defende o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Jutahy Júnior.
Mas Serra está longe de ser um consenso, mesmo dentro do partido. O estilo do ministro é tido como muito personalista e pragmático nos relacionamentos.
Segundo nome lembrado na corrida tucana, o governador do Ceará, Tasso Jereissati, também está recolhido. Só deverá sair da toca se seu pupilo Ciro Gomes, presidenciável pelo PPS, se inviabilizar como candidato.
Enquanto isso, além de Paulo Renato, outro adversário de Serra, o ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), também faz sua campanha. E o presidente da Câmara, Aécio Neves, embora negue ser aspirante ao posto de FHC, começou a ter seu nome ventilado por um grupo de deputados tucanos de Minas e Goiás.
Completam a lista de tucanos presidenciáveis os governadores Geraldo Alckmin (SP), lançado à sua revelia pelo PFL de Jorge Bornhausen, e Dante de Oliveira (MT), que insiste na tese de que o PSDB deve fazer prévias para escolher seu candidato. A idéia, apoiada recentemente por Alckmin, desagrada a Serra, que nos bastidores procura esvaziá-la.
Como se o ninho tucano já não estivesse inflacionado, aumentaram na última semana os boatos de que Pedro Malan (Fazenda) vai se filiar ao PSDB e se colocar na disputa. Ele nega as duas coisas.
FHC abriu caminho para a discussão das prévias para a escolha do candidato do PSDB. "Num quadro embolado como esse, o senhor [FHC" vai escolher o candidato do partido?", perguntou Dante de Oliveira, em conversa com o presidente, dia 24 de julho. "Eu, não. Não vou tirar o nome do bolso do meu colete", respondeu o presidente, segundo Dante.
Animado com a resposta, o governador, outro que está de olho na faixa presidencial, se sentiu livre para apresentar à Executiva do PSDB a proposta formal das prévias. É improvável que a idéia prospere. Além de Serra, Tasso não crê em sua viabilidade porque o candidato de FHC deve ser fruto de uma aliança partidária, provavelmente com o PFL.
"Não há tradição de prévias no Brasil. Quando há disputa, há conflito e isso pode gerar perda de quadros no partido. Nem o PT quer prévias, por que o PSDB vai querer?", argumenta Jutahy.



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