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ESPÍRITO DE CORPO
STF aguarda resposta de 18 pedidos de licença prévia para processar criminalmente 14 deputados e senadores
Congresso protege parlamentares de ações
ROBERTO COSSO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As gavetas do Congresso guardam, em alguns casos há mais de
uma década, 18 pedidos de licença
prévia do STF (Supremo Tribunal
Federal) para que sejam abertos
processos criminais contra 14 deputados e senadores.
E não há perspectiva de que essas gavetas sejam esvaziadas rapidamente, apesar de Câmara e Senado, na volta do recesso de julho,
terem aberto o debate em torno
de um "pacote ético" para mudar
a imagem das duas Casas.
De acordo com o artigo 53 da
Constituição Federal, os congressistas só podem ser processados
criminalmente após ser concedida autorização da Casa onde exercem seus mandatos.
Entre 1991 e 1999, a Câmara dos
Deputados recebeu 151 pedidos
de licença prévia do STF, mas só
concedeu duas autorizações: em
1991, sobre o deputado Jabes Rabelo, e em 1997, sobre o ex-deputado Davi Alves da Silva.
Dos 149 pedidos restantes, a licença foi negada em 62 casos. Outros 87 pedidos não foram analisados antes de os congressistas
deixarem de exercer mandato.
Inquéritos
Levantamento realizado pela
Folha no STF mostra que de outros 98 congressistas que exercem
papel de maior destaque em suas
Casas, 24 respondem a 49 inquéritos, que podem se transformar
em processos -e em novos pedidos de licença prévia. Um deles
refere-se ao presidente licenciado
do Senado, Jader Barbalho
(PMDB-PA), cuja licença prévia
os líderes se comprometeram a
aprovar rapidamente.
O critério para seleção dos congressistas foi o fato de participarem da mesa diretora de suas Casas, de serem líderes partidários
ou membros do Conselho de Ética (no caso do Senado) ou da Comissão de Constituição e Justiça e
de Redação (na Câmara).
No mesmo grupo, outros seis
congressistas responderão a pelo
menos dez inquéritos quando terminarem seus mandatos. Em todos os casos, o Congresso negou
autorização ao STF e o processo
ficou suspenso.
Quando isso ocorre, a prescrição também é suspensa. Ou seja, a
negativa de licença não livra o
congressista do processo -a menos que ele exerça o mandato parlamentar até o final da vida.
Tramitam no Senado e na Câmara diversas propostas de
emenda constitucional com o objetivo de relativizar a imunidade
parlamentar e agilizar os processos contra os congressistas. As
propostas devem ser votadas no
chamado "pacote ético", proposto pelos presidentes Aécio Neves
(Câmara) e Edison Lobão (interino do Senado).
Processos
A maioria dos inquéritos abertos contra deputados e senadores
é sobre crime eleitoral ou os chamados delitos de opinião -calúnia, injúria e difamação.
Nesses casos é praticamente
unânime entre os congressistas
que a licença prévia não deve ser
concedida. A maioria deles defende a manutenção da imunidade
para os delitos de opinião.
Mas também há diversos processos com acusações graves em
relação a parlamentares, que estão parados, em virtude do corporativismo da Câmara, que não
analisa os pedidos do STF.
O deputado Remi Trinta (PST-MA) é acusado de estelionato em
detrimento de entidade pública,
formação de quadrilha e falsificação de documento público. Ele é
suspeito de fraudar o SUS (Sistema Único de Saúde), por meio de
uma clínica médica, em São Luís.
Trinta afirma haver 17 inquéritos contra ele em andamento.
Dois deles aguardam apreciação
da Câmara.
Acusado de crime de racismo,
que é imprescritível e inafiançável, a Câmara negou autorização
ao STF para que Trinta fosse processado. Ele brigou com um comissário de bordo que é negro.
Mais antigo
O pedido de licença prévia mais
antigo diz respeito ao deputado
Ibrahim Abi-Ackel (PPB-MG) e
aguarda decisão da Câmara dos
Deputados há 12 anos.
O deputado é acusado de ter cometido crime de peculato, quando era ministro da Justiça, entre 2
de janeiro de 1980 e 15 de março
de 1985. Ele teria usado indevidamente duas passagens aéreas pagas pela União. O regime militar
terminou há 16 anos, e o processo
ainda não foi iniciado.
Abi-Ackel diz que gostaria de
abrir mão de sua imunidade parlamentar para responder ao processo, mas isso não é possível. Ele
pediu ao presidente da Casa para
que o pedido em relação a ele seja
julgado rapidamente.
"Se eu pudesse, abriria mão [da
imunidade" para responder ao
processo", afirma o deputado Geraldo Magela (PT-DF), acusado
de crime contra a honra, por ter
comparado o governador Joaquim Roriz (PMDB-DF) ao ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta
(PTN). "Agora tenho medo de ser
processado pelo Pitta", diz.
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