São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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NO AR

Três contra um

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Não existe quase conflito entre Lula, Ciro Gomes e Garotinho. O conflito, com os demais e até consigo mesmo, é todo de José Serra.
Quando Lula pergunta a Ciro diretamente e vice-versa, os dois concordam ou aparentam concordar em tudo. Quando Ciro questiona Garotinho, idem. Entre os três, com poucas exceções, o debate foi assim.
Agora, era José Serra falar e o choque se instalava.
É conhecido o talento do tucano para fazer inimigos por onde passa. No caso, embora Garotinho, Ciro e Lula disputem entre si, parecem ter um só inimigo, o governista Serra.
O tucano, levado à tensão, é capaz de dizer coisas como "eu sou candidato do meu governo" e não do governo FHC. E aí um adversário, com desprezo, diz que ele "tem vergonha" de ser governista -que é o contrário de sua estratégia. Até com seu maior eleitor, FHC, o candidato arrumou encrenca.
O debate foi um tiroteio contra Serra, de Garotinho e Ciro, e de Serra contra Ciro -até com algum resultado.
Lula estava só preocupado em não balançar o barco e chegar ao segundo turno.

 

- Como falar sem dar vexame. Procure o instituto Vida Alves Comunicação.
Era um comercial em meio ao debate. Os quatro pareciam alunos do tal Vida Alves. Falaram bem, sucintamente, com boa projeção de voz.
São todos profissionais, dois com experiência em campanhas presidenciais.
A diferença não foi na voz, na técnica, mas na interpretação. Lula foi vago, mas simpático. Ciro foi contido, mas sedutor. Garotinho foi franco-atirador. Serra foi trêmulo e irritado, às vezes raivoso.

 

Pequenos recados foram distribuídos pelos presidenciáveis ao longo do debate.
Garotinho falou muito do Rio, onde ainda tem chance de eleger a mulher. Ciro, aflito por se mostrar confiável, repetiu sem parar que foi ministro da Fazenda. Lula, evitando todo comprometimento, falou em Deus, nas mulheres.
Serra, num momento pouco feliz, defendeu o FMI. Paul O'Neill provavelmente assistia, mas ele não vota.

 

Pelo número e pelo teor das menções, FHC virou um fardo e o ex-presidente Itamar Franco é o novo grande eleitor.


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