|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NO AR
Três contra um
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Não existe quase conflito
entre Lula, Ciro Gomes e
Garotinho. O conflito, com os
demais e até consigo mesmo, é
todo de José Serra.
Quando Lula pergunta a Ciro
diretamente e vice-versa, os dois
concordam ou aparentam concordar em tudo. Quando Ciro
questiona Garotinho, idem. Entre os três, com poucas exceções,
o debate foi assim.
Agora, era José Serra falar e o
choque se instalava.
É conhecido o talento do tucano para fazer inimigos por onde
passa. No caso, embora Garotinho, Ciro e Lula disputem entre
si, parecem ter um só inimigo, o
governista Serra.
O tucano, levado à tensão, é
capaz de dizer coisas como "eu
sou candidato do meu governo"
e não do governo FHC. E aí um
adversário, com desprezo, diz
que ele "tem vergonha" de ser
governista -que é o contrário
de sua estratégia. Até com seu
maior eleitor, FHC, o candidato
arrumou encrenca.
O debate foi um tiroteio contra Serra, de Garotinho e Ciro, e
de Serra contra Ciro -até com
algum resultado.
Lula estava só preocupado em
não balançar o barco e chegar
ao segundo turno.
- Como falar sem dar vexame. Procure o instituto Vida Alves Comunicação.
Era um comercial em meio ao
debate. Os quatro pareciam alunos do tal Vida Alves. Falaram
bem, sucintamente, com boa
projeção de voz.
São todos profissionais, dois
com experiência em campanhas
presidenciais.
A diferença não foi na voz, na
técnica, mas na interpretação.
Lula foi vago, mas simpático.
Ciro foi contido, mas sedutor.
Garotinho foi franco-atirador.
Serra foi trêmulo e irritado, às
vezes raivoso.
Pequenos recados foram distribuídos pelos presidenciáveis
ao longo do debate.
Garotinho falou muito do Rio,
onde ainda tem chance de eleger a mulher. Ciro, aflito por se
mostrar confiável, repetiu sem
parar que foi ministro da Fazenda. Lula, evitando todo comprometimento, falou em Deus,
nas mulheres.
Serra, num momento pouco
feliz, defendeu o FMI. Paul
O'Neill provavelmente assistia,
mas ele não vota.
Pelo número e pelo teor das
menções, FHC virou um fardo e
o ex-presidente Itamar Franco é
o novo grande eleitor.
Texto Anterior: Tucanos e ciristas se enfrentam Próximo Texto: Bastidores Índice
|