São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004

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NA MIRA

Decisão de comissão surpreende governistas e atropela estratégia do Planalto, que tentaria ganhar tempo para esfriar caso

Senado aprova convite a Meirelles e Casseb

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em uma decisão de última hora que surpreendeu os governistas, a Comissão de Fiscalização e Controle do Senado aprovou ontem os requerimentos convidando para audiências públicas os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio Casseb.
O Senado só tem o poder de convocar ministros, por isso os presidentes do BC e do BB estão sendo convidados. Nesse caso, eles têm a prerrogativa de escolher a data que considerarem mais adequada. Ontem, as assessorias dos bancos informaram que os presidentes só irão marcar a data depois de serem informados oficialmente do convite -o que não havia ocorrido ontem.
A aprovação dos requerimentos atropelou a estratégia do governo, que planejava discutir o assunto apenas na próxima semana no Senado, ganhando tempo para esfriar o caso. O ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) afirmou que eles não vão ao Senado dar explicações se for para atender "interesses eleitorais" da oposição, o que é, na sua avaliação, o cenário atual.
"A oposição tenta transformar as informações sobre os presidentes do BB e do BC em trincheira eleitoral. Eles vão comparecer se for interesse do Senado. Se for interesse da oposição não é o caso de submeter duas instituições aos caprichos e interesses eleitorais."
As declarações do ministro foram dadas antes da aprovação dos requerimentos pela CFC. Ele foi ao Senado conversar com o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Temos que levar em conta o que o Senado deseja. A oposição não pode transformar esse episódio em pauta eleitoral", disse Rebelo.
Os requerimentos aprovados são de autoria do senador Duciomar Costa (PTB-PA), protocolados ontem, e do líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), protocolado no dia 15 de julho.
Tanto Virgílio quanto Costa convidaram Casseb para explicar os critérios de aplicação de verbas do BB em patrocínio. O de Meirelles, apresentado por Costa, é para prestar esclarecimentos sobre as medidas adotadas para reduzir a vulnerabilidade externa do país. Os pedidos foram aprovados em votação simbólica (sem manifestação individual dos presentes).
"A palavra é franqueada aos senadores, que podem perguntar o que quiserem", disse o presidente da CFC, senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Meirelles e Casseb estão sendo acusados de evasão de divisas e sonegação fiscal, o que eles negam.
Sobre Casseb ainda pesa a compra de R$ 70 mil em ingressos para o show da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano, cuja renda teria sido revertida para a compra da nova sede do PT em São Paulo. O dinheiro foi devolvido.
Também há requerimentos na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) convidando Meirelles, Casseb, a diretoria do BB e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares. A previsão era que os requerimentos só seriam apreciados na próxima terça-feira, quando o Senado retoma as votações em plenário.
Suassuna participou de uma reunião no gabinete de Mercadante ontem. Ele disse que avisou ao líder do governo que realizaria a sessão para votar os requerimentos se houvesse quórum.


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