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Reforma foi "tema periférico", dizem advogados
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A convocação de Assembléia
Constituinte para a reforma
política é considerada polêmica
até mesmo por advogados que
participaram da reunião em
que a idéia surgiu, com o presidente Lula, na quarta-feira.
De acordo com eles, o assunto central da reunião foi a necessidade de aprovar lei que
discipline o funcionamento das
CPIs, para evitar excessos, e
que a reforma política foi um
"tema periférico".
Eduardo Carrion, professor
titular de Direito Constitucional, disse ser "frontalmente
contrário" a uma Constituinte.
Foi ele que apresentou o documento sobre as CPIs para Lula.
"Nem sei por que, no dia seguinte, deram tanto destaque
para algo que não era o foco da
reunião. Reconheço que houve
uma indução do Executivo para
esse entendimento."
Para o ex-presidente da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) Marcelo Lavenère, a Constituinte é uma medida drástica.
"Não temos um clima que justifique uma cirurgia tão extensa.
Esse tipo de procedimento só é
feito quando o organismo está
muito grave. Não é o caso."
Hermann Assis Baeta, também ex-presidente da OAB, não
participou da reunião, mas ajudou a elaborar o documento
entregue a Lula. "A proposta de
Constituinte é impraticável."
O juiz aposentado e advogado Américo Lacombe também
rechaça a idéia e deixou isso
claro em um e-mail que enviou
anteontem para o ministro das
Relações Institucionais, Tarso
Genro -que suscitou o tema da
Constituinte durante a reunião
de Lula com os advogados.
"As condições que eu imponho para uma Constituinte são
tão impossíveis que ela não vai
acontecer", diz, citando como
exemplo o engajamento da sociedade civil a favor da idéia.
Para Ovídio Rocha Barros
Sandoval, juiz aposentado e advogado, a proposta é "absurda".
"Uma reforma deve ser feita
pela Constituição em vigor."
Já Reginaldo de Castro, outro ex-presidente da OAB, tem
simpatia pela idéia, mas não a
defende de forma direta.
"O presidente Lula disse que
a OAB poderia começar a convocar a sociedade organizada
para discutir o problema. Não
vejo nenhum chavismo nisso",
disse Castro. "A cidadania brasileira não é escrava de uma
Constituição que eventualmente precise ser corrigida."
O advogado Roberto Caldas,
também presente à reunião, reconhece que a forma adequada
de realização da reforma política seria por meio de emenda
constitucional, com aprovação
em dois turnos na Câmara e no
Senado, com três quintos dos
votos. Para ele, no entanto, o
sistema político está exaurido e
uma proposta de reforma está
paralisada no Congresso, o que
poderia justificar, em caráter
excepcional, uma Constituinte.
"Diante do momento grave,
da necessidade de o país evoluir, acho que a sociedade deve
discutir os prós e os contras
sem desassombros", diz.
(LILIAN CHRISTOFOLETTI e SILVANA DE FREITAS)
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