São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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Elio Gaspari

O governo entregará os boxeadores a Fidel


Dois cubanos tentaram fugir do paraíso comunista e ficaram no Brasil; presos, arrependeram-se

LULA COLOCOU o Estado brasileiro a serviço da polícia política de Fidel Castro. Esse é o resultado da detenção e do anunciado repatriamento dos boxeadores Guillermo Rigondeaux (bicampeão olímpico) e Erislandy Lara (campeão mundial dos meio-médios). Em 22 de julho, eles abandonaram a delegação que veio para o Pan. Outros dois atletas também escafederam-se. Nos últimos 20 anos, cerca de 150 desportistas cubanos aproveitaram a chance e pularam o muro do paraíso comunista.
Quando Rigondeaux e Lara sumiram, Fidel Castro escreveu um artigo intitulado "Brasil, Substituto dos Estados Unidos?", chamando os atletas de mercenários. Os dois boxeadores (patrocinados por agentes europeus) não formalizaram um pedido de asilo, e o ministro Tarso Genro assegura que se o fizerem receberão o devido amparo, "imediatamente". Os dois foram detidos pela polícia no litoral do Rio, levados para um quartel da PM, transferidos para a Polícia Federal e colocados sob vigilância policial. Nesse quadro, teriam se arrependido da fuga e resolveram voltar para Cuba.
O Brasil teve uma geração de militantes políticos preservada pela proteção que muitos países dão aos fugitivos. João Goulart, José Serra e mais de um milhar de brasileiros vagaram como penitentes, fugindo da ditadura brasileira. Jango e Serra eram perseguidos políticos. Rigondeaux e Lara quiseram sair de Cuba para viver como profissionais numa atividade que na ditadura cubana é compulsoriamente estatal. Direito deles, o de ganhar a vida onde, livremente, conseguem mais dinheiro.
Admita-se que mudaram de idéia. Salta aos olhos que essa não foi uma decisão neutra para dois cidadãos que se viram detidos. Sob custódia, não quiseram ver advogados dos agenciadores. Pouco teria custado ter oferecido aos dois um período de graça para que fossem entrevistados por organismos da sociedade civil e por representantes da Comissão de Justiça e Paz da CNBB.
É verdade que os serviços de informação americanos e empresários europeus rondam as delegações cubanas para atrair defecções. Da mesma maneira, vive em Cuba o ex-agente da CIA Phillip Agee. Murmura-se que Fidel Castro chamou sua delegação de volta antes da festa de encerramento do Pan porque farejou fuga em massa de atletas. Seriam 60.
O argumento policial segundo o qual Rigondeaux e Lara eram estrangeiros que permaneciam ilegalmente no país é digno das meganhas comunistas. Se a polícia-companheira está preocupada com imigrantes ilegais, pode encher um estádio em horas, bastando-lhe varejar alguns pontos do Rio e de São Paulo. O aparelho do Estado brasileiro deteve Rigondeaux e Lara a serviço da repressão cubana, o resto é conversa fiada.

O REVERSO TRAVA ATÉ NA JUSTIÇA

Em outubro de 1996, um Fokker da TAM esborrachou-se nas cercanias de Congonhas, matando 96 pessoas. Estava a bordo Eduardo da Silva Tavares Haydt, de 43 anos, engenheiro da Companhia Siderúrgica Nacional.
Ele tinha dois filhos e uma mulher da qual se separara. Pagava à família uma pensão equivalente a 40% do que ganhava. À época, seu salário era de R$ 5.659. Metade da pensão ia para um filho que padece de doença degenerativa e incurável. Para garantir a família até que o processo de indenização fosse concluído, a Justiça mandou a TAM pagar R$ 2.200 mensais, enquanto dura o litígio. A empresa recorreu, mas perdeu.
Em 2001, a TAM foi condenada a pagar 3.000 salários mínimos (R$ 1,1 milhão em dinheiro de hoje) a cada um dos três familiares, mais a pensão conjunta de R$ 2.200 mensais. A empresa recorreu de novo, e o reverso continua travado na Justiça.
Bastam dois minutos para que um desastre de avião destrua uma família. Para a aerocracia, dez anos são insuficientes para que todas as famílias sejam indenizadas.

NOVAS PLUMAS
Um veterano observador do comportamento de Lula acredita que ele está na muda. Evitará marolas até a votação da prorrogação da CPMF e da Desvinculação de Receitas, a DRU. São iniciativas que dependem de três quintos do Congresso. Depois desse gargalo, não voltará a precisar de uma tropa desse tamanho.
Num palpite do que poderá ser a nova plumagem, o curioso lembra o que Nosso Guia disse na quinta-feira: "Tem muita coisa que eu não sei fazer, mas botar gente na rua eu sei".

ALMANAQUE
Enrica Fico, viúva do cineasta Michelangelo Antonioni, viu um "mistério" na morte, no mesmo dia, de seu marido e do diretor sueco Ingmar Bergman.
O caso vai para o arsenal de estranhos acontecimentos insignificantes e inesquecíveis.
Em matéria de mortes simultâneas, ninguém bate Thomas Jefferson e John Adams. Ambos criaram a nação americana assinando a Declaração da Independência no dia 4 de julho de 1776. Ambos presidiram o país, foram amigos, inimigos e se reconciliaram na velhice. Ambos morreram no dia 4 de julho de 1826, quando os Estados Unidos completaram 50 anos de existência.

TRINTA PAU PRA EU
Chama-se Carlos Alberto de Melo Prado o vigarista que há alguns anos pedia patrocínios culturais a burocratas e empresários fazendo-se passar por Fernando Sarney, filho do ex-presidente. Em 2003 foi desmascarado, processado, condenado e encarcerado por 15 meses. José Sarney está convencido de que é ele quem está de novo na praça. Pede R$ 30 mil para custear a viagem de um conjunto folclórico maranhense.

NÃO SABIA
Aborrecido com o pessoal que o vaia e faz passeatas contra seu governo, Nosso Guia disse que "essa gente ficou contente com os 23 anos de regime militar".
A ditadura durou 21 anos (1964-1985, com a eleição de Tancredo Neves), mas isso não tem importância. Pelo seu depoimento, durante os primeiros oito anos da "Revolução Redentora", Lula estava na turma dos contentes. Nas suas palavras, numa lembrança de 1993: "No tempo do milagre, eu não pensava em política. A vida do trabalhador parecia um sonho. As empresas disputavam os empregados nas portas das fábricas, oferecendo condições e salários melhores".
Lula só começou a achar que havia algo de estranho em 1972, aos 27 anos. Caso clássico de "não sabia".

MARINETE NO PLANALTO
A despeito da máquina de moer carne do mundo do espetáculo nacional, o seriado "A Diarista", de Cláudia Rodrigues, foi uma das coisas mais engraçadas que apareceu na televisão. Enquanto o programa hibernar, Marinete poderia ser convidada para o lugar de porta-opinião de Lula.
É mais engraçada (e informativa) que todos os seus porta-seja-lá-o-que-for. O Brasil ficaria melhor com Figueirinha (Sérgio Loroza) no lugar de Guido Mantega e Ipanema (Helena Fernandes) substituindo Dilma Rousseff. Lula teria seu lugar de diarista, cobrindo uma participação especial de Bussunda. (Nunca é demais lembrar que Nosso Guia tem uma irmã chamada Marinete que foi empregada doméstica. Mantém-se a quilômetros dos holofotes.)


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