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Elio Gaspari
O governo entregará os boxeadores a Fidel
Dois cubanos tentaram
fugir do paraíso comunista e ficaram no Brasil; presos, arrependeram-se
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LULA COLOCOU o Estado brasileiro
a serviço da polícia política de Fidel Castro. Esse é o resultado da
detenção e do anunciado repatriamento dos boxeadores Guillermo Rigondeaux (bicampeão olímpico) e Erislandy Lara (campeão mundial dos
meio-médios). Em 22 de julho, eles
abandonaram a delegação que veio para o Pan. Outros dois atletas também
escafederam-se. Nos últimos 20 anos,
cerca de 150 desportistas cubanos
aproveitaram a chance e pularam o
muro do paraíso comunista.
Quando Rigondeaux e Lara sumiram,
Fidel Castro escreveu um artigo intitulado "Brasil, Substituto dos Estados
Unidos?", chamando os atletas de mercenários. Os dois boxeadores (patrocinados por agentes europeus) não formalizaram um pedido de asilo, e o ministro Tarso Genro assegura que se o fizerem receberão o devido amparo,
"imediatamente". Os dois foram detidos pela polícia no litoral do Rio, levados para um quartel da PM, transferidos para a Polícia Federal e colocados
sob vigilância policial. Nesse quadro,
teriam se arrependido da fuga e resolveram voltar para Cuba.
O Brasil teve uma geração de militantes políticos preservada pela proteção
que muitos países dão aos fugitivos.
João Goulart, José Serra e mais de um
milhar de brasileiros vagaram como penitentes, fugindo da ditadura brasileira.
Jango e Serra eram perseguidos políticos. Rigondeaux e Lara quiseram sair
de Cuba para viver como profissionais
numa atividade que na ditadura cubana
é compulsoriamente estatal. Direito deles, o de ganhar a vida onde, livremente,
conseguem mais dinheiro.
Admita-se que mudaram de idéia. Salta aos olhos que essa não foi uma decisão
neutra para dois cidadãos que se viram
detidos. Sob custódia, não quiseram ver
advogados dos agenciadores. Pouco teria
custado ter oferecido aos dois um período de graça para que fossem entrevistados por organismos da sociedade civil e
por representantes da Comissão de Justiça e Paz da CNBB.
É verdade que os serviços de informação americanos e empresários europeus
rondam as delegações cubanas para
atrair defecções. Da mesma maneira, vive em Cuba o ex-agente da CIA Phillip
Agee. Murmura-se que Fidel Castro chamou sua delegação de volta antes da festa de encerramento do Pan porque farejou fuga em massa de atletas. Seriam 60.
O argumento policial segundo o qual
Rigondeaux e Lara eram estrangeiros
que permaneciam ilegalmente no país é
digno das meganhas comunistas. Se a
polícia-companheira está preocupada
com imigrantes ilegais, pode encher um
estádio em horas, bastando-lhe varejar
alguns pontos do Rio e de São Paulo. O
aparelho do Estado brasileiro deteve Rigondeaux e Lara a serviço da repressão
cubana, o resto é conversa fiada.
O REVERSO TRAVA ATÉ NA JUSTIÇA
Em outubro de 1996, um
Fokker da TAM esborrachou-se nas cercanias de Congonhas,
matando 96 pessoas. Estava a
bordo Eduardo da Silva Tavares Haydt, de 43 anos, engenheiro da Companhia Siderúrgica Nacional.
Ele tinha dois filhos e uma
mulher da qual se separara. Pagava à família uma pensão
equivalente a 40% do que ganhava. À época, seu salário era
de R$ 5.659. Metade da pensão
ia para um filho que padece de
doença degenerativa e incurável. Para garantir a família até
que o processo de indenização
fosse concluído, a Justiça mandou a TAM pagar R$ 2.200
mensais, enquanto dura o litígio. A empresa recorreu, mas
perdeu.
Em 2001, a TAM foi condenada a pagar 3.000 salários mínimos (R$ 1,1 milhão em dinheiro de hoje) a cada um dos
três familiares, mais a pensão
conjunta de R$ 2.200 mensais. A empresa recorreu de
novo, e o reverso continua
travado na Justiça.
Bastam dois minutos para
que um desastre de avião destrua uma família. Para a aerocracia, dez anos são insuficientes para que todas as famílias sejam indenizadas.
NOVAS PLUMAS
Um veterano observador do
comportamento de Lula acredita que ele está na muda. Evitará marolas até a votação da
prorrogação da CPMF e da
Desvinculação de Receitas, a
DRU. São iniciativas que dependem de três quintos do
Congresso. Depois desse gargalo, não voltará a precisar de
uma tropa desse tamanho.
Num palpite do que poderá
ser a nova plumagem, o curioso
lembra o que Nosso Guia disse
na quinta-feira: "Tem muita
coisa que eu não sei fazer, mas
botar gente na rua eu sei".
ALMANAQUE
Enrica Fico, viúva do cineasta Michelangelo Antonioni, viu
um "mistério" na morte, no
mesmo dia, de seu marido e do
diretor sueco Ingmar Bergman.
O caso vai para o arsenal de
estranhos acontecimentos insignificantes e inesquecíveis.
Em matéria de mortes simultâneas, ninguém bate Thomas
Jefferson e John Adams. Ambos criaram a nação americana
assinando a Declaração da Independência no dia 4 de julho
de 1776. Ambos presidiram o
país, foram amigos, inimigos e
se reconciliaram na velhice.
Ambos morreram no dia 4 de
julho de 1826, quando os Estados Unidos completaram 50
anos de existência.
TRINTA PAU PRA EU
Chama-se Carlos Alberto de
Melo Prado o vigarista que há
alguns anos pedia patrocínios
culturais a burocratas e empresários fazendo-se passar por
Fernando Sarney, filho do ex-presidente. Em 2003 foi desmascarado, processado, condenado e encarcerado por 15 meses. José Sarney está convencido de que é ele quem está de novo na praça. Pede R$ 30 mil para custear a viagem de um conjunto folclórico maranhense.
NÃO SABIA
Aborrecido com o pessoal
que o vaia e faz passeatas contra seu governo, Nosso Guia
disse que "essa gente ficou contente com os 23 anos de regime
militar".
A ditadura durou 21 anos
(1964-1985, com a eleição de
Tancredo Neves), mas isso não
tem importância. Pelo seu depoimento, durante os primeiros oito anos da "Revolução Redentora", Lula estava na turma
dos contentes. Nas suas palavras, numa lembrança de 1993:
"No tempo do milagre, eu não
pensava em política. A vida do
trabalhador parecia um sonho.
As empresas disputavam os
empregados nas portas das fábricas, oferecendo condições e
salários melhores".
Lula só começou a achar que
havia algo de estranho em 1972,
aos 27 anos. Caso clássico de
"não sabia".
MARINETE NO
PLANALTO
A despeito da máquina de
moer carne do mundo do espetáculo nacional, o seriado "A
Diarista", de Cláudia Rodrigues, foi uma das coisas mais
engraçadas que apareceu na televisão. Enquanto o programa
hibernar, Marinete poderia ser
convidada para o lugar de porta-opinião de Lula.
É mais engraçada (e informativa) que todos os seus porta-seja-lá-o-que-for. O Brasil ficaria melhor com Figueirinha
(Sérgio Loroza) no lugar de
Guido Mantega e Ipanema
(Helena Fernandes) substituindo Dilma Rousseff. Lula teria seu lugar de diarista, cobrindo uma participação especial
de Bussunda. (Nunca é demais
lembrar que Nosso Guia tem
uma irmã chamada Marinete
que foi empregada doméstica.
Mantém-se a quilômetros dos
holofotes.)
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